A Revolução Antipolítica do Nominalismo.
Frederico de Castro
(Adaptado das Jornadas de La Reja)
Continuando com a série de reflexões sobre os temas políticos estudados nas Jornadas de La Reja, destacamos os efeitos da filosofia do nominalismo como causa eficiente da criação de um conjunto que poderia ser chamado de alguma forma como antipolítica.
Pois bem, o pensamento moderno tem origem no desconhecimento de diversas verdades metafísicas (ou em um deliberado desafio a essas verdades). O surgimento do nominalismo – que é uma filosofia que nega qualquer possibilidade de que as circunstâncias da realidade possam ser reconhecidas – surge do erro na contraposição ao realismo dos antigos filósofos gregos e de uma rebeldia contra a doutrina da Igreja.
A consequência que este nominalismo terá sobre a política e o pensamento contemporâneo será avassalador, a saber: toda concepção contemporânea da política vai se tornar viciada pelo individualismo, ainda em que seu oposto aparente e extremado do coletivismo. Logo, o individualismo é uma conseqüência prática do nominalismo.
O nominalismo irá gradativamente destruir o senso comum do pensamento e transformar a sociedade em pouco mais que um gigantesco agrupamento de pessoas. Tudo porque essa filosofia rejeita o fato de que as coisas podem ser conhecidas em sua essência.
É preciso fixar neste ponto que esse fato aparentemente banal do conhecer, do saber, é importante para que a sociedade possa ser formada até o ponto que possa atingir um grau de excelência a ser considerada como orgânica, ou seja, semelhante a um organismo, posto que o fim da multidão deve ser o mesmo fim do indivíduo, como ensina Santo Tomás de Aquino.
Entenda-se: a diferença entre um agrupamento de indivíduos e uma sociedade é a presença ou a ausência de uma finalidade comum. Quando essa finalidade é boa, se diz então de um bem comum. Um grupo social, portanto, não deve se reduzir à mera somatória de seus membros; sendo exatamente o que ocorre hoje em dia.
Nas “sociedades liberais”, há uma manutenção dos deveres comuns, mas uma exclusão dos fins. É por esta razão que a política contemporânea está fora da esfera da ética e serve tão somente como uma espécie de técnica (de manutenção do poder, ou o poder pelo poder).
Portanto, uma sociedade é a pluralidade de indivíduos somado a algo que se faz de comum, pois é essa espécie de comportamento o único capaz de tornar possível a fruição do bem comum. Por exemplo: em um time de futebol o fim, a meta é o gol e todo o time (uma espécie de micro-sociedade) atua conforme esta meta; quando as coisas não vão bem é muito comum que se diga que o time “não está entrosado” ou seja, cada um faz o que bem entende. Ainda segundo esse mesmo exemplo, se organizarmos um grupo de crianças em times de futebol não será raro notar que todas elas correm ao mesmo tempo atrás da bola, sem nenhuma disciplina ou esquema tático. Não são, portanto, propriamente um time, mas um bando correndo atrás da bola. Verdadeiramente, se estivéssemos assim, já seria algo relativamente bom, mas no caso de nossas modernas sociedades a coisa vai bem pior.
Portanto, na medida em que nas sociedades liberais não há um fim comum, também não há um bem comum. O homem até pode ignorar essa realidade que molda a ação política por algum tempo, mas não pode fazê-lo impunemente, ou seja, sem sofrer as consequências.
Diante desse quadro, já viciada de nominalismo, a academia em sua já formalizada e sedimentada rebeldia contra a Igreja se pôs em direção ao erro oposto. É dizer-se: na medida em que os efeitos do individualismo são conhecidos na sociedades e não podem ser negados de maneira eficaz, uma outra solução longe do ensino da Santa Igreja deveria ser proposta. Nesse caso, vai-se de um extremo ao outro do erro: contra o individualismo, o coletivismo; e ignora-se solenemente o problema nominalista.
Assim é que surge, por exemplo, a dialética hegeliana fundamentada no nominalismo donde se fortalece a idéia de que nada é cognoscível e tudo se constitui em uma “metamorfose ambulante” em que os problemas e as contradições, longe de representar verdadeiros obstáculos à lógica são na verdade apenas contradições aparentes que na verdade sempre podem formar alguma espécie de síntese. É dessa sorte de pensamentos que irão se formar a “social-democracia” e o Concílio Vaticano II.
Portanto, quem quer que se mantenha rebelde ao magistério e não avançar nessa senda rebelde fatalmente irá desembocar no mais puro materialismo e na completa apostasia.
Assim que, no materialismo não há uma essência das coisas e para se entender(!) a realidade é preciso paradoxalmente desprezar-se justamente a essência.
Ora, se não há essência e não há natureza ocorre justamente que haverá um profundo desprezo pela vida contemplativa que, com efeito, sob essa ótica deturpada não serve mesmo para nada.
Eis que se completa, então, o drama do nominalismo: de um lado o individualismo liberal e de outro o coletivismo comunista/socialistas. O mesmo xifópago infernal e suas duas cabeças monstruosas.
Por ser uma reação ao individualismo, o socialismo, portanto, irá exaltar uma hipertrofia do coletivo. Nesses termos, para o marxismo a origem do individualismo é a propriedade privada, entendida, pois, como uma “superestrutura do sistema capitalista”, sobre a qual todas as demais circunstâncias gravitam. Está neste fato a origem do porquê para o comunista marxista clássico a economia é a ciência mais importante de todas.
Ocorre que Marx falhou em praticamente todas as suas previsões acerca do comunismo e já passados mais de 20 anos da data em que o comunismo oficialmente sucumbiu à sua síntese “social-democracia” (queda do muro de Berlin), algo na sociedade de certa forma carece de explicações: como explicar que o comunismo/socialismo é ainda uma das doutrinas antipolíticas mais defendidas e infundidas até os dias de hoje?
Isso se deve ao fato de que houve uma reformulação tático-política do marxismo desempenhada pelo italiano Antônio Gramsci, justamente em função dos fracassos fragorosos de todas as tentativas revolucionárias pós-revolução russa.
Gramsci estava cônscio de que o marxismo é o materialismo mais absoluto sob o enfoque político e, via de consequência, irá elaborar uma mudança de paradigmas no que diz respeito às ações revolucionárias sob o ponto de vista comunista das relações entre o que nele se convenciona como superestrutura e estrutura.
A saber: a superestrutura gramsciana é formada pela sociedade política - formada como um elemento de coação (autoridades políticas) - e um outro elemento chamado de sociedade civil. Para Gramsci, em uma estrutura em que a sociedade civil é muito vigorosa há que se atuar primeiro sobre ela e não sobre a sociedade política.
Há, nesse sentido, um abandono do que os comunistas chamam de guerra de movimentos e se inicia então o que se convencionou chamar de guerra de posições; que é muito lenta. E que posições são essas? São os setores em que a sociedade civil atua: as escolas, os meios de comunicações, etc... E em que exatamente se consiste a idéia gramsciana? Substituir os intelectuais; e isso se dá lentamente sem que as pessoas se dêem conta.
Assim que, logo após Gramsci, enquanto os partidos políticos lutavam por cargos públicos, os comunistas gramscianos disputavam as cátedras acadêmicas. Isso foi tão bem executado que ciências foram sendo moldadas ao gosto deste “novo marxismo”, sobretudo as áreas da história, do direito, da sociologia, da antropologia, etc... e outras semelhantes.
Portanto, é em função dessa ação sobre o ensino, e sobretudo sobre a realidade da história e as perspectivas do futuro, que fazem como que o socialismo e o comunismo sejam ainda hoje ideologias tão difundidas e defendidas.
Perceba-se, portanto, que o nominalismo ao destruir o senso comum, desvirtua o pensamento e cria verdadeiras quimeras políticas. A recuperação do senso comum é o primeiro passo para superação de uma enorme crise política.
Sobre isso recomenda-se o vídeo que se segue.
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