É possível ser humilhado após a vitória de uma Batalha?
Batalha de Lepanto - Vitral da igreja de
São Giles em Cheadle (Inglaterra)
A história do Catolicismo é bela, e a Idade Média é o ápice histórico. Quem nunca ouviu histórias de santidade que surgiram no seio das paróquias e dioceses européias, onde santos e mártires se entregavam devotamente ao auxílio do próximo na terrível época da Peste, ou por vezes, alguns testemunhando o evangelho com a própria vida, entregavam-se totalmente às orações e ao sacerdócio em benefício das almas que em grande quantidade adentravam no purgatório para assim chegar ao Céu. E os Mosteiros? Há, penso que se existe algo a ser lembrando da Idade Média - Idade das Luzes - são os belíssimos Mosteiros, sólidos e majestosos, onde os pássaros faziam coro aos monges no Louvor à Deus e cujos dias se passavam ao som dos cânticos gregorianos e de murmúrios santos de pai-nossos e ave-marias. Não menos palco de santidade eram as paróquias das mais longínquas cidades, onde, após seis dias de trabalho proveitoso nos campos, vinham agradecer à vida e implorar a salvação os mais humildes camponeses; também para ouvir as homilias e aprender sobre a vida do Senhor. Realmente, creio que nasci em uma época errada, ainda mais, quando vejo toda a Idade Média de glórias ser literalmente jogada aos porcos (tal qual as pérolas que nos narra o Novo Testamento); vamos entender o por que...
A princípio, este artigo já deveria ter sido publicado há tempos, dado que minha tristeza não é hodierna; mas por algum desígnio de Deus somente o resolvi publica-lo agora; talvez por quê N.S.J.C. o quis quando de uma melhor capacidade explicativa que poderia adquirir. Desta maneira, ao ler o maravilhoso livro "O golpe de mestre de Satanás" de D. Lefebvre, Bispo de singular memória, tomei a ciência de que um símbolo máximo do Catolicismo triunfante que na Idade Média expulsou os Mouros (islâmicos) da Europa, fora doado há algum tempo por S.S. João Paulo II; mas doado aos mesmos islâmicos de Maomé, como se estes tivessem a glória de possuir a Bandeira e mesmo ter o direito de reinvidicá-la; ainda, como se os Europeus fossem meninos maus que roubaram um território e que após a velhice deveriam devolver ao tomar uma vergonha que não vejo razão de existir.
Pintura representando a Batalha de Lepanto Em 07 de outubro de 1571 a Liga Cristã, convocada por S.S. Pio V e integrada pelo: Papado, Casa Real dos Habsburgo (Espanha), Sicília, Nápoles, Gênova, Itália (não confundir com os Estados Pontifícios que aqui é designado como "Papado") e Savóia¹; deu-se o início da Batalha decisiva contra o Islão, batalha esta que caso tivesse fracassado, iria transformar a Europa completamente com o triunfo do Corão sobre o Catolicismo. Ficou incubido de comadar a frota de 208 galés e seis galeaças, João da Aústria, senão irmão "bastardo" de Felipe II (idealizador da Invencível Armada contra a Inglaterra²).
A batalha não tinha como propósito somente o de aliviar as tensões dos Venezianos com os Turcos Otomanos, que no último ato invadiram a Ilha de Chipre; os mesmos que há tempos ameaçavam e bloqueavam o comércio marítimo por via do Mediterrâneo, canal de escoamento de produtos e também de importação ao sul da Europa. Além de por fim a ameaça bélica dos Otomanos, a batalha evitou que a religião e a sociedade européia fossem corrompidas com a doutrina de Maomé e desta maneira dizimadas populações que se manteriam católicas a todo custo.
E esta é a principal diferença em se lhe dar com os seguidores do Corão, que é o fato de que além de querer estabelecer-se no sentido social, os Islâmicos também querem por meio da opressão e da força o estabelecimento da religião Islâmica; tanto isto é verdade que até o presente momento o Catolicismo não consegue se expandir no Oriente Islâmico por perseguição. E o Catolicismo, para o bem da Europa e mesmo do mundo na época, tinha de reagir, algo que fora sem precedentes e que recebeu o auxílio divino de N. Senhora e de vários países que também enxergavam no Corão a destruição dos valores perenes de Cristo.
D. João da Aústria A batalha não fora longa (durou apenas três horas!), mas significativa porque punha um fim na expansão dos Otomanos e trouxe paz à nação Católica que temia a perseguição Islâmica. Ora, a exemplo de Constantinopla, Marrocos, Hungria, Bósnia, Tunísia e Argélia 4; o que ocorreria com a Europa se a Liga Santa vacilasse em sua empresa? Pouco antes provou do desastre a cidade de Viena, que sofreu perigoso cerco e somente com auxílio divino conseguiu, com seus poucos soldados e escassos lansquenetes 5 defender a muralha que cercava a cidade e por fim, com uma terrível chuva incomum na época, expulsar os Otomanos.
Das duzentas e trinta galés Otomanas, cento e noventa foram ou capturadas ou destruídas³, comandadas as últimas pelo sultão Ali Pasha. Levavam a frente do principal navio, à mando de D. João da Áustria, um grande crucifixo e uma bandeira fora do padrão: "O Papa envia o estandarte da Liga: era de damasco de seda azul e ostentava a imagem do Crucificado, tendo aos pés as armas do Papa, da Espanha, de Veneza e de D. João."7 Pouco antes da Batalha, o Papa Pio V lembrou à D. João que ele iria combater em nome da fé Católica e por isso Deus lhe concederia a vitória de sua armada; e fora o que aconteceu afinal.
O estandarte que falamos no início do artigo possui também sua história:
D. João recebeu o estandarte solenemente, das mãos do Cardeal Granvela, na Igreja de Santa Clara, com a presença de muitos nobres, entre os quais os Príncipes de Parma e de Urbino. "Toma, ditoso Príncipe, disse-lhe o Cardeal, a insígnia do verdadeiro Verbo Humanado; toma o sinal vivo da santa Fé, da qual és defensor nesta empresa. ele te dará uma vitória gloriosa sobre o ímpio inimigo, e por tua mão será abatida sua soberba. Amém!".8
Cada nau (navio) recebeu uma partícula da Vera Cruz (A santa cruz de Cristo), e o Núncio, deixando tais partículas do Santo Lenho, informou ao Príncipe que: "o Pontífice lhe prometia em nome de Deus a vitória, por cima de todos os cálculos humanos, e mandava dizer que se a esquadra se deixasse derrotar "iria ele mesmo à guerra com seus cabelos brancos para vergonha dos jovens indolentes".9 A santidade da expedição fora mantida por D. João, sendo que informações dão conta de que todos os 81.000 marinheiros se confessaram e comungaram (além dos condenados) antes da batalha, sendo que a presença de mulheres e a blasfêmia contra Deus eram terminantemente proibidas, sendo a última punida com a morte. Quando do início da batalha, organizadamente em fileiras de dois, os navios passavam diante do Núncio Papal com seus marinheiros de joelhos, recebendo a benção para a batalha.
Quando a frota católica fora percorrendo à Lepanto, eis os sinais que os Otomanos deixavam: "restos carbonizados de igrejas e casas, objetos de culto profanados, corpos dilacerados de Sacerdotes, mulheres e crianças covardemente assassinados. Têm-se notícia de que o comandante da frota Turca, mandou esfolar o comandante da praça de Lepanto, Marco Antônio Bragandino, ordenando que se desfilasse o corpo do mesmo, agora só em pele preenchida com palha, por toda a cidade.10 Diante de tais fatos, incorfomado e em uníssono com todos os valentes marinheiros, restava à D. João, em nome do Cristianismo, dizer: "Aqui venceremos ou morreremos!".
Estandarte da Esquadra Católica. Diz-se que o comandante turco Ali Pasha caira morto em sua galé por dois motivos, quando que uma bala perfurou-lhe a cabeça: Suicídio ou disparo espanhol. Quando deste momento, todos levantavam a voz e triunfalmente gritavam que a vitória havia sido conquistada; sendo impressionante a valentia dos escravos capturados pelo sultão que se rebelavam e auxiliavam os cruzados cristãos no fim da tomada.
O mais belo e meritório da batalha se expressa por via dos próprios turcos, que prisioneiros, confessavam ter visto uma senhora majestosa por cima dos mastros da esquadra católica, não só de tez majestosa como também de face ameaçadora. Enquanto isto, S. Pio V em Roma, aguardava notícias da batalha com longos jejuns, recitações fervorosas do Santo Rosário, incitando aos monges, cardeais e demais eclesiásticos que fizessem o mesmo. Então, no dia 07 de outubro:
Ele trabalhava com seu Tesoureiro, Donato Cesi, o qual lhe expunha problemas financeiros. De repente, separou-se de seu interlocutor, abriu uma janela e entrou em êxtase. Logo depois voltou-se para o Tesoureiro e disse-lhe: "Ide com Deus. Agora não é hora de negócios, mas sim de dar graças a Jesus Cristo, pois nossa esquadra acaba de vencer". E dirigiu-se à sua capela. [...] Chegam as notícias duas semanas depois. Na noite do dia 21 para 22 de outubro o cardeal Rusticucci acordou o Papa para confirmar a visão que ele tinha tido. Num pranto varonil, S. Pio V repetiu as palavras do velho Simeão: "Nunc dimitis servum tuum, Domine, in pace" (Luc. 2, 29).[..] No dia seguinte é proclamada a feliz notícia em S. Pedro, após uma procissão e um solene "Te Deum". [..] D. João d’Áustria - Houve um homem enviado por Deus, cujo nome era João (Jo. 1, 6). Palavras de S. Pio V sobre D. João d’Áustria.11
Desta maneira, ficara o dia 07 de outubro consagrado à N. Senhora da Vitória, mais tarde a Virgem do Rosário. A Espanha e a tríplice Gênova, Veneza e Itália, ardiam em fé, sendo contruído neste período muitas capelas em honra à Nossa Senhora. Na ladainha Lauretana, a invocação fora acrecentada mais tarde por incitação popular: "Auxilium Christianorum".12
Enfim, é esta história que eu vejo solapada, vilipendiada por S.S. João Paulo II quando da entrega do Estandarte de Lepanto aos atuais Islâmicos, constituindo verdadeira humilhação católica (desnecessária) em favor dos hereges maometanos. Mesmo a maior caridade, podendo-se tomar à S. Francisco por exemplo, não chegaria ao ponto de se desfazer de tamanha relíquia do Catolicismo. Em nome do "aggiornamento", perdemos um símbolo da vitória contra a heresia e doamos simbolicamente o sangue de 8.000 mártires católicos que perderam a vida na batalha aos hereges.
Refletindo bem, qual Católico que em plena posse de suas faculdades não ficaria intensamente triste para não dizer revoltado com tal doação?
APOSTOLADO TRADIÇÃO EM FOCO ®: É possível ser humilhado após a vitória de uma Batalha?
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