99 anos de república (sem/com) coroa




Mais um 5 de Outubro...

Como já não há verdadeiros republicanos, os titulares dos altos ofícios da república deslocam-se em cortejo tristonho e poeirento, a prestar homenagens às efígies carbonárias que ainda sujam a paisagem, aqui e ali... e lá depositam a fatal coroa de flores. É interessante como as flores, com a sua beleza intocada pelo homem, tantas vezes são usadas para tentar compensar as mais humanas faltas e, às vezes, as mais desumanas. Pois, os senhores políticos de Portugal não são bons republicanos... a maior prova é a desigualdade entre portugueses que hoje grassa, mais que outrora. Porque a "ética republicana" que o chefe deste estado de coisas às vezes invoca, ficou nas outras calças (e malas de senhora) de toda esta gente que vai na romaria, e mais da que não vai, por estar muito ocupada a contar o dinheiro que, com muita est-ética, roubou à res publica.

Toma lá estas flores, António José D'Almeida e desculp'isso! Oxalá me vejam a fazê-lo para valer a pena!


E depois há o outro cortejo. O dos sequazes da república coroada que foi destronada por esta outra, a sem coroa. Muito ofendidos, porque a constituição republicana não lhes dá a possibilidade de referendar a restauração da monarquia... REFERENDAR A LEGITIMIDADE MONÁRQUICA!!! ESSA LEGITIMIDADE QUE FORAM OS MONARCAS LIBERAIS E USURPADORES A ENTERRAR, COMEÇANDO EM ÉVORA-MONTE!!! Muito ofendidos, mas prontinhos a mobilar a antesala da república, tal e qual como outrora - sem cadeiras, claro, que isto não é para estar lá muito tempo . Desde logo muito notável, a burguesia usureira, à frente dos protestos. Conde de Burnay ontem, Teixeira Pinto hoje. Amanhã, tudo na mesma. Dizei-me com que andais, vos direi quem sois, ó principes de Portugal!

Eu, ao contrário, passo este dia sem emoção excessiva. Entre a república que temos e a que tivemos, vá o diabo e escolha. Eu, mais uma vez, advogo a abstenção consciente.