» As marcas, balizas e divisas
As marcas são a escrita do Poveiro.
Têm muita analogia com a escrita Egípcia porque constituem imagens de objectos: Sarilho, Coice (imagem de parte da quilha de um barco) Arpão, Pé de galinha, Grade, Lanchinha, Calhorda, Pêna, etc.
As marcas estão nas redes, nas velas, nos mastros, paus de varar, nos lemes, nos bartidoiros, nos boireis, nas talas, nas facas da cortiça, nas mesas, nas cadeiras, em todos os objectos que lhe pertençam, quer no mar, na praia ou em casa. A marca num objecto equivale ao registo de propriedade. O Poveiro lê essas marcas com a mesma facilidade com que nós procedemos à leitura do alfabeto.
Não são marcas organizadas ao capricho de cada um, mas antes, simbolismos ou brasões de famílias, que vão ficando por herança de pais para filhos e que só os herdeiros podem usar.
Casos curiosos encontramos ao colher as nossas notas sobre as marcas, sobretudo quando, ao organizar a árvore de uma família, encontrávamos a velha tradição quebrada, isto é, quando verificávamos que na descendência não era seguida a fórmula usada para distinção da marca pela Comunidade. Estes factos, curiosos e interessantes pare este estudo, ficam mais adiante anotados.
O nosso fim, com a publicação deste trabalho, é apenas arquivar material que possa servir os estudiosos especializados.
Por isso mesmo, todas as incorrecções que, encontramos ao organizar essas arvores familiares pare o estudo da evolução das marcas, segundo as presunções, e conhecimentos que já tínhamos, procurávamos logo, junto dos indivíduos a quem essas marcas diziam respeito, saber as suas causas, visto que essas incorrecções, se não tivessem explicação plausível, atirariam por terra todas as informações até aqui julgadas verídicas que não passariam, assim, de fantasiosas.
Mas não. Os esclarecimentos dados vinham, antes, corroborar todas as nossas convicções sobre o assunto, demonstrando-nos que cada família tem a sua marca própria, passando através dos tempos com a mesma galhardia de todas as outras tradições poveiras.
Das centenas de marcas que examinamos, podemos fixar as das seguintes famílias, de leitura fácil entre a Comunidade, por as simbolizarem desde tempos imemoriais: |
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1 – Os Canetas – Meia pena e cruz no rabo.
2 – Os Pinheiras – Calhorda de cruz ao centro.
3 – Os Trunfos – O São Selimão.
4 – Os Cotovias e Potricos – Cálix fechado, estrela e coice.
5 – Os Chascos – Pé de galinha.
6 – Os Fangueiros – Cruz, pique e cruz.
7 – Os do Cego do Maio – Meio sarilho.
8 – O Fanecas – Pente e lanchinha.
9 – Os Chabões – São Selimão, estrela e grade de 4 piques.
10 – Os Coutos – Lanchinha e coice.
11 – Os Patas – Cálix fechado e estrela.
12 – Os Malgas – Cruz e pique na ponta da cruz.
13 – Os Micharros – Meia pena e pé de galinha.
14 – Os Penedas – Sarilho com pique na ponta de baixo e estrela.
15 – Os Penedas – Estrela, dois piques e cruz.
16 – Os Moucos – Duas estrelas e coice.
17 – Os Benfas e Tamancas – Cálix fechado com pique ao centro e cruz.
18 – Os Bragas – Cálix aberto e coice.
19 – Duartes – Coice, cruz c coice.
20 – Os Turras – Estrela, meio arpão e cruz ao rabo do arpão. |
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21 – Os Izambas – Cálix aberto emborcado com pique na borda.
22 – Os Negrinhos – Calhorda com pique a meio e lanchinha.
23 – Os Bôtos – Cruz, lanchinha e cruz.
24 – Reixas – Estrela de rabo com 3 meios piques no rabo e grade de 4 piques.
25 – Os Padeiras – (Marques) – Lanchinha e coice.
26 – Os Padeiras – (Santos) – Sarilho.
27 – Os Ferras – Lanchinha a prumo e pique à ré.
28 – Os Patriças – Cruz, dois piques e um por riba e cruz.
29 – Os Tabojos – Cálix aberto com piques no bordo.
30 – Os Juliões, Beiças e Melões – (A mesma família) Arpão e cruz ao rabo.
31 – Os Dibós – Três piques e um por riba.
32 – Os Chichões – Meio arpão, cruz ao rabo e cruz.
33 – Os Maranhas – Cálix aberto com piques no bordo e cruz.
34 – Os Feiteiras – Quartos e lanchinha.
35 – Os Liros – Grade de seis piques.
36 – Os Fome Negras – Grade de 4 piques, estrela e cruz.
37 – Os Lavradeiras – Estrela de rabo para cima, meio pique a meio do rabo e dois piques no fim do rabo.
38 – Os Lagoas – Lanchinha, pique e coice.
39 – Os Come Pilados – Mastro e verga içada.
40 – Os Chaves – Meia pena, dois piques e um por riba.
41 – Os Andrés – Cruz de rabo com pique a meio e pique ao rabo.
42 – Os da Rosa – Calhorda e meios piques ao centro. |
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43 – Os da Venda – Cruz e lanchinha.
44 – Os da Mata – Pique e coice.
45 – Os Quilores – São Selimão com dois piques em duas pontas.
46 – Os Chibantas – Pé de galinha com um pique.
47 – Os Caurretes – Cruz, pique e cruz.
48 – Os Poupados – Estrela ligada ao coice e pique a meio.
49 – Os Covas – Duas cruzes.
50 – Os Amarelos – Mastro e verga içada e cruz ao centro do mastro.
51 – Os Sofias e os Reigoiças – Meio arpão com cruz ao rabo.
52 – Os Russos – Cruz com pique na ponta da cruz e dois coices unidos.
53 – Os Tambucos – Meio sarilho e estrela.
54 – Os Piroqueiros e Avanças – Cruz e lanchinha.
55 – Os Guias – Pé de galinha e três piques a prumo.
56 – Os Agulhas – Cálix fechado com meio pique por riba do canto.
57 – Os Papilos – Lanchinha com cruz por cima e cruz por baixo.
58 – Os da Trunfa – Calhorda, meio pique a meio e cruz.
59 – Os Pragas – Padrão com pique a meio e coice.
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60 – Os Patriças – (Pontes) – Cálix aberto, dois piques cruzados com dois piques atravessados na cruz.
61 – Os Canhotas – Cálix e pique dentro e pique por fora.
62 – Os Giesteiras – Calhorda de dois piques a meio.
63 – Os do Rei e os da Hora – Calhorda de três meios piques ao centro do lado direito.
64 – Os Canários – Lanchinha e cruz de rabo.
65 – Os Limas – Lanchinha e meia pena pegada.
66 – Os Catraios – Grade de 4 piques e coice.
67 – Os Três Noites – São Selimão e pé de galinha.
68 – Os Fogajeiras – (Abel) – Grade de 5 piques.
69 – Os Ladinhos – Meio arpão, cruz no rabo e estrela.
70 – Os Grandes – São Selimão e coice.
71 – Os Pilotos – Meia pena com cruz no rabo da pena e dois piques em cruz.
72 – Os Molinhos – Grade com 4 piques e cruz com pique na ponta.
73 – Os Anjinhos – Pente.
74 – Os da Madrinha – Cálix aberto, três piques deitados e cruz.
75 – Os Fernandes – Calhorda, dois meios piques a meio da calhorda e grade de 4 piques.
76 – Os Bonitos – Cruz e pique.
77 – Os Troinas – Coice, pique a prumo e cálix aberto.
78 – Os Cascarras do Pita – Cruz, dois piques e cruz.
79 – Os Rios d'Ave – Cálix aberto e pique por baixo e cálix fechado e pique a meio.
80 – Os Lianças – Cálix fechado grade de quatro piques e coice.
81 – Os Tremoceiros – Cálix fechado, pique por riba e cruz por baixo.
82 – Os Vianezes – Cálix fechada, lancinha e pique.
83 – Os Mocetões – Pé de galinha e grade de quatro, piques. |
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Regras usadas pelos descendentes |
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Na nossa Cidade ainda é possível encontrar em vários locais marcas poveiras. Um dos locais é a Capela de Santa Cruz em Balazar. Na sua porta encontram-se marcas poveiras como poderão ver pela seguinte imagem: |
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O Poveiro, ao casar-se, registava a sua marca na mesa da sacristia da Matriz, gravando-a com a faca que lhe servia para aparar a cortiça das redes. A mesa da sacristia da velha igreja da Misericórdia, que serviu de Matriz até 1757, tinha gravadas milhares de marcas, representando um precioso documento para estes estudos.
Infelizmente, essa mesa desapareceu com a demolição deste Igreja sem que dela ficasse o menor vestígio ou documento fotográfico. Contudo, ainda se vêm hoje algumas gravações destas marcas nas mesas das sacristias da actual Matriz e da Igreja da Lapa.
Os vendedores analfabetos serviam-se das marcas para saberem de quem era a conta fiada. E assim, antes da rodelas e riscos com que designavam os vintens e tostões, pintavam a marca do devedor. |
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Nas suas arribadas à costa norte, os Poveiros gravavam nas portas das capelas mais destacadas nos areais ou montes a sua marca como documento da sua passagem por ali. Duas dessas capelinhas, muito da sua devoção, - Nossa Senhora da Bonança, em Esposende, e Santa Trega (Santa Tecla) que fica no monte junto a La Guardia, Espanha - conservam ainda as suas antigas portas cobertas de marcas poveiras. |
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Havia a crença entre eles que uma telha virada na capelinha de Santa Tecla fazia melhorar o tempo, virando o vento para o norte - vento da pôpa - que facilitava o regresso a Portugal.
A confirmar tal crença, há entre eles esta quadra:
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