A reincidência do americanismo






[Fonte: site da edição portuguesa
do jornal romano antimodernista
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Depois da viagem de Bento XVI aos Estados Unidos da América (17-20 de abril de 2008), parece-nos um dever necessário oferecer aos leitores uma análise do que significa realmente a cultura norte-americana, tão exaltada pelo Papa Ratzinger em seus discursos na ONU e na sinagoga de Nova York. No primeiro, em presença do presidente americano, Bento XVI apresentou o modelo americano de total - mas respeitosa - separação entre Igreja e Estado como sendo o ideal; e no segundo, disse que o caminho empreendido pela Nostra Aetate nas relações judeu-cristãs é irreversível.

O americanismo, condenado pela Igreja


AMERICANISMO: termo usado a partir do final do século XIX para denotar o movimento suscitado pelas ideias e os métodos do Pe. Hecker, fundador da Sociedade Americana dos Missionários Paulinos. Este padre americano, convencido de estar consciente das exigências psicológicas, da mentalidade e da índole de seu exuberante povo, sem maiores preocupações dogmáticas tentou adaptar a religião católica ao espírito de seus concidadãos (gente ávida por uma liberdade individual absoluta; insensível ao abstracionismo teórico; amante do pragmatismo e inclinada a conceber a vida num sentido hedonista devido às riquezas naturais do país). Os ecos dessa tentativa chegaram à Europa e essa corrente de pensamento foi denominada “americanismo”.
Não se tratava de um sistema propriamente dito, mas apenas de uma tendência sem organização complexa que se concretizava nalguns princípios práticos. Leão XIII, uma vez detectado o perigo, enviou ao cardeal Gibbons (1889) e através dele, a todo o episcopado norte-americano, a carta apostólica Testem benevolentiae. Este documento pontifício denunciava os principais erros do americanismo, 7ue se sintetizam na presumida necessidade de:
a - adaptar a Igreja às exigências da civilização moderna, sacrificando um ou outro cânon antigo, mitigando a antiga severidade, orientando-se em direção a um modo de agir mais democrático;
b - dar mais amplidão à liberdade individual no pensamento e na ação, levando em conta que é o Espírito Santo, mais do que a organização hierárquica, quem opera diretamente na consciência do indivíduo (influxo do protestantismo):
c - abandonar, sem preocupar-se mais com elas, as virtudes passivas (mortificação, penitências, obediência, contemplação), cultivando as virtudes ativas (ação, apostolado, organização), o que levaria a favorecer, entre as congregações religiosas, as de vida ativa.
O Papa conclui com as seguintes palavras depois de um severo exame: “não podemos aprovar as opiniões que integram o que se denomina americanismo”.
Apesar das boas intenções dos americanistas, sua posição certamente não se adequa à doutrina e ao espírito tradicional da Igreja; melhor dizendo, abre brecha para erros teóricos e práticos - e com isso está dito tudo [o americanismo foi, na verdade, como uma sementeira para o modernismo] (P. Parente - A. Piolanti - S. Garofalo, Dizionario di Teologia dogmatica, Roma, Studium, 41a edição).
Monsenhor Henri Delassus escreveu na época um livro sobre o americanismo (L'Americanisme et Ia Conjuration anti-chrétienne, Lille-Paris, Desclée de Brouwer, 1899), em que afirmava que entre todos os fatores inquietantes do mundo, o espírito que animava a América do Norte não era dos menos preocupantes. Na verdade, o que o caracterizava era a audácia com que pisoteava “todas as leis da civilização católico-romana” (pág. 1).
Tal “audácia” estendia-se inclusive ao campo religioso. O termo “catolicismo americano” ou ”americanismo” não era rótulo de um cisma ou de uma heresia, era, como ensinava Mons. Delassus, ”um conjunto de tendências doutrinais e práticas que têm sua sede na América e que se difundem a partir dali por todo o mundo cristão, especialmente pela Europa” (pág. 3) com o objetivo de debilitar, e se possível, aniquilar as nações católicas” dando hegemonia às protestantes, como América, Alemanha e Grã-Bretanha” (nota 1, pág. 7). Um dos ”elementos distintivos da “missão americana” é o retorno à unidade de todas as religiões através da destruição das barreiras e das diferenças, chegando até à celebração de um congresso com o seguinte tema: a tolerância internacional das religiões para a luta unida contra o ateísmo” (pág. 124). O indiferentismo ou tolerância por princípio (isto é, tolerância dogmática) para o qual tende o americanismo consiste em equiparar “todas as religiões como igualmente boas” (pág. 85).
Mons. Henri Delassus relembra (pág. 94) que o magistério da Igreja condenou todos os princípios falsos em que se baseia o espírito americanista: os denominados “direitos do homem” (condenados por Pio VI); a liberdade absoluta da pessoa humana, a liberdade de pensamento, de imprensa, de consciência e de religião (condenadas por Gregório XVI e Pio IX); a separação entre o Estado e a Igreja (condenada por Leão XIII). Para os americanistas, entretanto, é mister basear-se no “liberalismo amplo ou latitudinarista e na tolerância dogmática, evitando-se falar de tudo que possa desagradar aos protestantes e às demais religiões” (pág. 97). Em poucas palavras, para a Igreja de Roma ”o catolicismo é a religião verdadeira, enquanto que para os americanistas ela não passa de uma entre outras tantas” (pág. 100).
Infelizmente, o ideal americanista começou a colher resultados uns cinquenta, sessenta anos depois da condenação de Leão XIII, inicialmente de modo latente no concílio Vaticano II e depois, abertamente em Assis, em 1986, e agora com a viagem de Bento XVI aos Estados Unidos, em abril de 2008.


Que futuro?


O livro de Monsenhor Delassus hoje parece quase que profético. “Os americanistas -escrevia o prelado - dizem que as ideias americanas são as que Deus quer para todos os povos de nosso tempo. Judaísmo e americanismo [que têm um ponto de intercessão nos princípios que regem o espírito de 1789] crêem ter recebido uma “missão divina”. Infelizmente, a influência da América, com seu espírito de liberdade absoluta, propaga-se sempre mais entre as nações, de modo que a América dominará os outros países” (págs. 187 - 188). Parece que a América seria a “nação do futuro” (pág. 190). Entretanto, comentava Mons. Delassus, “se este futuro é o desenvolvimento político, social, comercial e industrial segundo os princípios de 1789, ou seja, o progresso material e a independência absoluta do homem em relação a toda autoridade, inclusive a autoridade divina, a era que veremos será a mais desastrosa que jamais surgiu. Nessa era a América destruirá as tradições nacionais europeias para fundi-las na unidade ou pax americana” (págs. 191-2).
A base, ou o denominador comum dessa mistura de religiões, povos e culturas é um moralismo sentimental ou ”uma moral indeterminada” (pág. 192), subjetiva e autónoma de tipo Kantiano, ”independente do dogma, de modo que cada um fique livre para interpretá-la a seu modo” (pág. 130). Este denominador comum está se concretizando em nossos dias, conduzido pela união dos “teo (ou neo) conservadores” americanistas e cristãos com o sionismo e com os elementos conservadores do catolicismo liberal: todos se unem para defender a vida (coisa boa em si), o embrião, para combater o materialismo ateu, mas em detrimento da pureza do dogma (o que é inaceitável), da tradição cultural de cada nação e das diferenças étnicas - estas não devem ser exageradas com a teoria da defesa de uma inexistente “raça pura”, mas não devem tampouco ser destruídas com prejuízo da raça em sentido lato, isto é, do povo com suas peculiaridades em termos de língua, cultura, mentalidade e hábitos religiosos.
“O movimento neocristão ou americanista tende a liberar-se do dogma para basear-se na beleza da ética” (pág. 60), “tende a substituir a fé por uma cultura ou sensibilidade independente, numa vaga religiosidade superior a todas as religiões positivas” (pág. 76). Ora, de acordo com a doutrina católica, é verdade que ”a fé sem as obras é morta” (São Tiago), mas também é verdade que “sem a f é é impossível agradara Deus” (São Paulo). Portanto, a moral não pode ser desprezada, mas também não se pode reduzir a religião à pura moralidade, deixando de levar em conta a integridade dogmática.


A Igreja “ecuménica”


Mons. Delassus escreveu também que o americanismo está em sintonia com o judaísmo ao querer substituir a religião católica por uma ”igreja ecuménica mundialista” que professa uma ”religião democrática” (pág. 193). Trata-se de um acordo feito com o judaísmo liberal e filantrópico-humanitário, que substituiu a “fé” do judaísmo ortodoxo num messias pessoal, pela “crença humana” num “messias-idéia”, isto é, no mundo moderno, nascido do humanismo, do protestantismo e do iluminismo revolucionário inglês, francês e americano. E esse espírito revolucionário fará todo o planeta cair no relativismo, responsável pela erosão do credo católico e do que ainda resta da cristandade europeia ”para que assim a humanidade seja suavemente conduzida à nova Jerusalém” (pág. 195). O espírito do “novo mundo” ou do americanismo caracteriza-se, segundo Delassus, pelos princípios da Revolução francesa, que são ”a independência do homem em relação a todo poder humano e também ao poder divino” (pág. 196), isto é, os direitos (ou o culto) do homem e a usurpação do trono de Deus e de sua Igreja.


O mundialismo


O americanismo apresenta um duplo aspecto: político e religioso.
Caracteriza-se, em termos políticos, por certo cosmopolitismo que leva ao mundialismo e à globalização, que se infiltram em todas as nações e corrompem suas características particulares.
Enquanto iniciava-se em Roma o concílio Vaticano l em 29 de junho de 1869, celebrava-se em Leipzig um concílio judaico para afirmar que “a realização dos princípios da modernidade é a maior garantia para o presente e o futuro do judaísmo” (pág. 22). Infelizmente, continuava o prelado francês: ”temos dois fenómenos em vista: a preponderância crescente do povo judeu e a triste crise da cristandade” (pág. 24).
A intercessão entre judaísmo e americanismo está particularmente nessas duas teses: ”1 °- que todas as nações renunciem ao amor à pátria e se fundam numa república universal
2°- que os homens renunciem, igualmente, a toda particularidade religiosa para confundir-se numa só religiosidade vaga” (pág. 25).
Estes ideais eram propostos pela Aliança Israelita Universal, fundada em 1860 pelo judeu maçom Adolfo Crémieux, mestre do Grande Oriente da França. A AIU, informa Delassus,”não era apenas uma internacional judia, porque tinha ideais mais altos: aspirava a ser uma associação aberta a todos os homens, sem distinção de nacionalidade nem de religião, sob a alta direção de Israel... Ela pretende penetrar em todas as religiões, como penetrou em todos os países e destruiu as barreiras que separam tudo que um dia deverá ficar fundido numa indiferença comum” (págs. 26-7). O prelado perguntava-se: “O que significa penetrar numa religião? Significa, sobretudo, introduzir nela as ideias próprias. O judaísmo tenta infiltrar suas próprias ideias na Igreja católica? Sim, seus representantes o asseguram” (pág. 28).
As forças políticas de que o judaísmo liberal e filantrópico se serve são:
1 ° - a democracia;
2° - a liberdade como valor absoluto;
3°-a mudança radical (cf. pág. 153).
Essa mudança radical atinge também a vida religiosa ao estabelecer o primado da ação sobre a contemplação e exaltar a iniciativa individual (próprio do liberalismo puritano americano) juntamente com uma excessiva confiança em si mesmo (cf. págs. 154-5), o bem estar físico e corporal (distinto do bem estar comum temporal) como ”transfiguração do corpo” (pág. 159) e o ”sensualismo empirista como oposição radical à metafísica e ao cristianismo” (pág. 161). O prelado comprovava que os novos cristãos americanos aspiravam, na época, de mãos dadas com os judeus liberais e humanitários, ”a um messias que não é Jesus Cristo, nem tampouco o messias militante e pessoal do judaísmo ortodoxo, e sim uma ideia de bem estar material e corporal que tornará o homem rico e feliz nesse mundo” (págs. 164-5). Esse Bem estar (com maiúscula) consiste não em possuir o necessário ou o conveniente, mas sim o ”supérfluo” (pág. 166). Os “fiéis” dessa nova religião não devem ser conduzidos a contragosto: é preciso sempre lhes dar razão, fazê-los seguir junto com a corrente, dizer o que gostam de ouvir e satisfazer seus sentidos (cf. pág. 167).


O americanismo e o modernismo


Do ponto de vista religioso, o americanismo aspira a substituir a “polémica” (polemikós: aquilo que se refere à luta e à disputa doutrinal) pela “irênica” (eirenikós: aquilo que se refere à paz, ou melhor, ao pacifismo, à tolerância dogmática e à conciliação a qualquer custo). Estão ”absolutamente convencidos de que os Estados Unidos estão predestinados a produzir um estado social superior ao que se viveu até agora” (pág. 130).
Outro ponto essencial do americanismo é o evolucionismo religioso (cf. págs. 101-108), segundo o qual o dogma evolui ou muda radical, substancialmente, de modo heterogéneo, não homogéneo; ou seja, passa-se de uma verdade a outra de acordo com as necessidades ou exigências dos tempos (cf. pág. 109), pois a verdade não é a “conformidade do pensamento com a realidade”, e sim “a adequação do pensamento às necessidades dos tempos e do homem moderno” (Herbert Spencer).
A outra coluna em que se baseia o americanismo é o ecumenismo. Mons. Delassus recordava (pág. 133) que se celebrou em Chicago, de 11 a 28 de setembro de 1893(sessenta e nove anos antes do concílio Vaticano 11-1962 -e noventa e três anos antes do encontro ecuménico de Assis em 1986) um congresso ou concílio ecuménico de todas as religiões promovido pela vertente liberal do catolicismo americano. Estabeleceu-se nesse conciliábulo que “a Igreja devia fazer as concessões mais generosas às demais religiões” (pág. 134); naturalmente foi condenado por Roma. Não se pode deixar de ressaltar que essas ideias americanistas penetraram amplamente nos ambientes católicos nos anos 1962-1965, como foi possível ver claramente durante o concílio Vaticano II. Inclusive um pensador leigo como Sérgio Romano pôde advertir que enquanto o Concílio Vaticano l afirmou o primado do papa, o Vaticano II, ao contrário, ensinou a colegialidade dos bispos; e enquanto Pio IX condenou a “modernidade”, Paulo VI a abraçou. Infelizmente, é a triste realidade.
Quando João Paulo II pediu perdão ao mundo inteiro pelas “culpas” da Igreja, outro leigo, Indro Montanelli, escreveu o seguinte no jornal Corriere della Serra: ”Pressenti alguma coisa ou achei que tinha pressentido numa conversa que tive com o Papa há anos, durante um jantarem seu apartamento particular [....]; entendi ou achei que tinha entendido que ele, veemente e inclinado à introspecção, deixaria atrás de si uma montanha de ruínas: as da estrutura autoritária e piramidal da cúria romana. Creio compreender agora que aquela minha intuição vagamente catastrófica, pecava por inexatidão, sim, mas por falta: o que o Papa Woityla deixou atrás de si não foram apenas os escombros da cúria, mas os da Igreja, ou ao menos os da que estamos habituados a considerar como tal há dois mil anos e que até nós mesmos, os leigos, temos no sangue. [...] Apresentar entre os próprios erros, se entendemos bem, ou melhor, entre as próprias culpas (nada menos), inclusive os cismas e as consequentes excomunhões das outras igrejas cristãs, ortodoxas ou protestantes, faz com que nós também, os leigos, perguntemos, cheios de perturbação: mas então...?”
Parece que já quiseram reunir em Chicago, em 1893, “os sacerdotes e os ministros dos mais diversos cultos para associá-los numa oração comum” (pág. 147), naturalmente sem cair no indiferentismo (exatamente como em Assis em 1986). Delassus definiu assim esse congresso de Chicago: ”autêntico concílio ecuménico dos novos tempos” (pág. 148). As analogias com o Vaticano II são, infelizmente, objetivas e impressionantes. Basta ler o relato que Monsenhor Keane, reitor da Universidade católica de Chicago, leu em Bruxelas, em setembro de 1894, sobre o congresso ecuménico de Chicago: ”Pensamos que tínhamos chance de darão mundo inteiro uma grande lição. [...] A Providência permitiu a emigração [para a América] originária de todas as nações. Todas as nações se encontram representadas entre nós; vivem misturadas fraternalmente, sem qualquer hostilidade. É o privilégio que Deus concedeu à América: destruirás tradições dos ciúmes nacionais, que os senhores perpetuam na Europa, para fundi-las todas na unidade americana.
A mesma lição tinha que ser dada no plano religioso. Cada vez que me sinto tentado de pessimismo recorro a um remédio: olho ao redor e vejo que o género humano se dedica cada vez mais a detestar o ódio e a hostilidade [poucos anos depois estouraram as duas tremendas guerras mundiais!] É inegável que a humanidade se esforça por adotar costumes mais benignos, que existe maior florescimento da caridade. Mas não é este o objeto da religião: unir o homem a Deus e a seus irmãos? A religião é caridade. Mesmo que não possamos nos entender quanto às crenças, não seria possível nos pôr de acordo no que diz respeito à caridade? [mas pode haver “caridade” sem “fé”?]”. Observe-se que no congresso de Chicago Mons. Keane tinha proferido uma conferência de título significativo:The ultimate religion', A religinão final. ”Quando a pobre família humana se dispersou - dizia ele - , esqueceu os princípios religiosos e morais. Então Deus suscitou, ainda entre os pagãos, homens que recordaram a verdade. Estes foram os sábios da antiguidade: Buda, Confúcio, Zoroastro, Sócrates; não eram de modo algum servidores do demónio: eram instrumentos da divina providência. [...] Por que não prestar homenagem a tudo que há de bom e belo em seus ensinamentos? É precisamente o que fez o Vaticano II, especialmente com Nostra Aetate.


A coragem de reagir


Na conclusão de seu estudo, Mons. Delassus definia o americanismo com algumas expressões eficazes: 'Compromisso com a incredulidade, concessões ao erro, mutilação do dogma, atenuação do sobrenatural e acomodação de todos os tipos” (pág. 226). Propunha depois o remédio para tantos males: ”Evitar o desânimo dos que sabem e conhecem a realidade, mas não têm a coragem de reagir: é esse o mal que paralisa hoje muitos católicos. [...] Jamais cruzar os braços, renunciando à luta, mas empregá-los, ao contrário, na oração, na penitência e na ação cultural e doutrinal com consequências práticas [...]. É preciso, portanto, caminhar com cuidado para não ajudar, nem involuntariamente, ao judeu-americanismo. Assim, jamais pregar o Bem estar como fim último, [...] o êxito neste mundo, [...] a transfiguração do corpo humano, [...], a preocupação desordenada com os interesses humanos, [...] a abolição das barreiras entre religiões e culturas, [...] a cessação da polémica para substituí-la pela “irênica”, [...] a diluição do dogma em prol de uma moralidade subjetiva, [...] a conciliação entre o espírito de Cristo e o do mundo” (págs. 262-265).
Se a religiosidade americanista é esta, o elogio que Bento XVI fez é erróneo sob todos os aspectos. No neo-conservadorismo americano, que está se apoderando progressivamente do mundo a partir de 11 de setembro de 2001, vemos renascer hoje o americanismo, forma de modernismo ascético com fortes repercussões econômico-sociais. É o que se deve combater, sem omitir os outros aspectos que o modernismo assumiu, não só na filosofia e na teologia, como também na exegese, na espiritualidade e na política, erros que são sua última e mais devastadora conclusão lógica, como explicava São Pio X na Pascendi.


Temístocles

SPES - Santo Tomás de Aquino: A reincidência do americanismo