Olá Adriano, bem-vindo ao hispanismo.org. Espero que participe bastante - o fórum da Galiza tem andado com pouco movimento, era bom que lhe pudesse dar o seu contributo.:D
Escrevo esta mensagem em português para que os leitores do fio possam constatar que o galego e o português são, desde o século XIV, duas línguas distintas evoluídas do mesmo primitivo tronco galaico. Esse tronco, na minha opinião, vem sendo erroneamente chamado de galaico-português ou galego-português. Primeiro porque quando nasceu e se desenvolveu esse romance comum a todos os povos galaicos ainda não existia Portugal que, como deveria saber-se, é uma nação originada de uma divisão política prévia; depois porque essa língua não era ainda o que veio a ser, mais tarde, a língua galega que conhecemos, ricamente composta de diversos dialectos e acentos.
Assim, concordo com o Adriano na medida em que o galego é galego e português é português: Portugaliza e língua portugalega são fantasias de gente culturalmente desenraízada e ignorante do percurso da história. Igualmente despicienda é a tendência reintegracionista da língua galega: o galego não deve procurar, na minha opinião, vestir-se de português para procurar a sua essência gramatical, fonética ou ortográfica. Também não deveria, penso eu, extirpar todos os castelhanismos que se foram anexando à língua com o correr dos séculos: a Galiza enquanto parte do Reino de Leão, sempre teve uma fortíssima ligação a Castela que não deve agora, por motivos de artificiais purismos nacionalistas, ser erradicada da língua que ajudou a construir e enriquecer.
Outro facto que convém deixar claro, é que em Portugal não existe qualquer desígnio de anexação da Galiza. Há sim, principalmente no norte do país, alguns idiotas vermelhos que apoiam o BNG e o independentismo galego, mas sem qualquer representatividade. Mais digo que a grande maioria dos portugueses não faz qualquer distinção entre galegos, catalães, bascos ou castelhanos; para essa grande maioria, apenas há espanhóis. Isso resulta de que o separatismo que se vive dentro de Espanha não se vê tanto cá de fora; mas também, e particularizando a Galiza, porque nas escolas não se ensina correctamente a história de Portugal.
A história de Portugal ensina-se começando, quando muito, pelo Condado Portucalense e o conde D. Henrique de Borgonha; quando deveria começar pela Reconquista, o Reino das Astúrias, e toda a história da Galiza e do Reino de Leão, antes de chegar ao Condado Portucalense. Para os portugueses, o primeiro português foi o rei Afonso Henriques; ignoram por isso, porque é que quase todos eles tem apelidos galaicos, porque falam uma língua de origem galaica, porque têm uma gastronomia e folclore de raiz galaica, porque têm uma devoção e um respeito pelos mortos tipicamente galaico, porque têm uma capacidade de trabalho e sofrimento característicamente galaica, porque têm uma natural melancolia galaica...
Ignoram, em suma, porque é são tão (ou quase tão) galaicos como os modernos galegos e como, tal, hispanos como qualquer espanhol. E isso é lamentável, por que um povo sem fé e sem memória é um povo sem âncora, à deriva.