Tengo la suerte de conocer en persona a uno de sus promotores, debo decir que esta iniciativa brasileña es de una calidad superior.
SPES - Santo Tomás de Aquino
TEXTO FUNDAMENTAL DO SPESSPES - Santo Tomás de Aquino: TEXTO FUNDAMENTAL DO SPES
Seminário PermanenteSPES*
de Estudos Sociopolíticos
Santo Tomás de Aquino
“Dizei às nações: O Senhor é rei. [...] / Jubilem todas as árvores das florestas / com a presença do Senhor, que vem, pois Ele vem para governar a terra: julgará o mundo com justiça, e os povos segundo a sua verdade.”
Salmo 95“Foi-me dado todo o poder no céu e na terra: ide, pois, e instruí todas as nações.”
Nosso Senhor Jesus Cristo,
Evangelho de São Mateus
“Uma coisa é, para o príncipe, servir a Deus na qualidade de indivíduo, e outra fazê-lo na qualidade de príncipe. Como homem, ele o serve vivendo fielmente; como rei, fazendo leis religiosas e sancionando-as com um vigor conveniente. Os reis servem ao Senhor enquanto reis quando fazem por sua causa o que só os reis podem fazer.”
Santo Agostinho,
Carta ao Governador Bonifácio“É necessário que o fim da multidão humana, que é o mesmo do indivíduo, não seja viver segundo a virtude, mas antes, mediante uma vida virtuosa, alcançar a fruição divina.”
Santo Tomás de Aquino,“[A Igreja tem em seu poder duas espadas (ou gládios)], a espada espiritual e a espada temporal. Mas esta última deve ser usada para a Igreja, enquanto a primeira deve ser usada pela Igreja. A espiritual deve ser manejada pela mão do sacerdote; a temporal, pela mão dos reis e dos soldados, mas segundo o império e a tolerância do sacerdote. Uma espada deve estar sob a outra espada, e a autoridade temporal deve ser submissa ao poder espiritual.”
De Regimini Principum
Bonifácio VIII,
Unam Sanctam“O homem é criado para louvar, prestar reverência e servir a Deus nosso Senhor e, mediante isso, salvar sua alma; e as outras coisas sobre a face da terra são criadas para o homem, para o ajudarem a alcançar o fim para o qual é criado. Donde se segue que o homem há de usar delas na mesma medida em que o ajudem a alcançar seu fim, e que ele há de privar-se delas na mesma medida em que dele o afastem.”
“Se eu conseguir ganhar um rei, terei feito mais pela causa de Deus do que se tivesse pregado centenas ou milhares de missões. O que um soberano tocado pela graça de Deus pode fazer no interesse da Igreja e das almas, milhares de missões jamais o farão.”
Santo Inácio de Loiola,
Exercícios Espirituais
Santo Afonso M. de Ligório,
apud P. Berthe, S. Alphonse“Para os povos como para os indivíduos, para as sociedades modernas como para as sociedades antigas, para as repúblicas como para as monarquias, não há sob o céu outro nome dado aos homens em que eles possam ser salvos além do nome de Jesus Cristo.”
Cardeal Pie de Poitiers,
Discours au Président
de la République (1870)“Os que no governo dos estados pretendem desconsiderar as leis divinas desviam o poder político de sua própria instituição e da ordem prescrita pela própria natureza.”
Leão XIII,
Libertas Præstantissimum“Na ordem das doutrinas, [o liberalismo] é pecado grave contra a fé [...]. Na ordem dos fatos, é pecado contra os diversos Mandamentos da Lei de Deus e de sua Igreja.”
D. Félix Sardà i Salvany,
El liberalismo es pecado“Não, a civilização não está por inventar [...]. Ela já existiu, ela existe: é a civilização cristã, a cidade católica. O que falta é instaurá-la e restaurá-la sem cessar sobre seus fundamentos naturais e divinos contra os ataques sempre renascentes da utopia malsã, da revolta e da impiedade: Omnia instaurare in Christo.”
São Pio X,“No juízo final, Jesus Cristo acusará os que o expulsaram da vida pública e, em razão de tal ultraje, aplicará a mais terrível vingança.”
Carta sobre Le Sillon.
Pio XI,
Quas Primas“Nós percebemos a numerosa classe daqueles que consideram os fundamentos especificamente religiosos da civilização cristã [...] sem valor objetivo [para os dias de hoje], mas que gostariam de conservar o brilho exterior dela para manter de pé uma ordem cívica que não poderia passar sem tal. Corpos sem vida, acometidos de paralisia, são eles mesmos incapazes de opor qualquer coisa às forças subversivas do ateísmo.”
Pio XII,
Discurso à União Internacional das Ligas Femininas Católicas“O leigo, em certo sentido, está mais diretamente interessado no desenvolvimento da realeza social de Nosso Senhor Jesus Cristo, e isso na medida mesma em que se encontra mais engajado que o clérigo na ordem social, na ordem civil, na ordem secular, mais engajado nas coisas sociais, mais diretamente interessado em matéria política.”
Jean Ousset,
Pour qu’Il règne“Desta primeira verdade de fé, a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, segue-se uma segunda: sua Realeza, e especialmente sua Realeza sobre as sociedades, a obediência que devem ter as sociedades à vontade de Jesus Cristo, a submissão que devem ter as leis civis com respeito à lei de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mais ainda, Nosso Senhor Jesus Cristo quer que as almas se salvem [...] por uma sociedade civil cristã, plenamente submetida ao Evangelho, que se preste a seu desígnio redentor e que seja seu instrumento temporal.”
Dom Marcel Lefebvre,
Ils l’ont découronné,
Du libéralisme à l’apostasie
― La tragédie conciliaire
“Se não é o Príncipe da Paz quem estabelece a ordem da justiça entre os povos por meio dos poderes que comunicou a seu Vigário, será o Príncipe das trevas quem o fará por meio dos poderes que fornecer a seu primogênito, o Anticristo. A instauração de que reino, então, o Concílio Vaticano II tende a preparar com todas as suas forças?”
Padre Álvaro Calderón,
Prometeo ― la religión del hombre
Texto de Fundação
Pelo Reinado Total de
Nosso Senhor Jesus Cristo
I. Exposição de Motivos
1. Durante a última campanha eleitoral brasileira para a presidência da República, pudemos todos constatar a falta de unidade entre os católicos com respeito ao voto. Constituíram-se, então, uma larga maioria favorável a dar o voto a Serra como a um “mal menor” e uma minguada minoria favorável ao voto nulo por considerar que havia uma igualdade essencial e prática entre os dois principais candidatos.
2. Não nos importa, aqui e agora, resolver essa delicada questão ― que tem antes que ver com a aplicação prática ou prudencial de princípios doutrinais ―, mas tratar, isto sim, destes mesmos princípios. Ora, como já dizia Aristóteles (cf. Ética a Nicômaco, I, 3, 1094b 21; VI, 4, 1140a 1-2), a política concerne a coisas que, se não são sempre do mesmo modo, têm porém bem mais estabilidade que as ocasionais ou acidentais, razão por que ela pode fundar-se sobre certos princípios (seus e/ou oriundos de uma ciência superior); se assim não fosse, a política não seria ciência. Desse modo, se o Papa São Pio X determinou para tal ou qual eleição o voto católico em candidatos menos indignos, cabe-nos conhecer, sim, as condições concretas ― o contexto ― em razão das quais o determinou, para as podermos comparar com as atuais de nosso país. Mas temos, sobretudo, de conhecer os princípios doutrinais em que se baseava para fazê-lo.
3. Ora, não é difícil saber por que princípios doutrinais se pautava São Pio X. E se o sabemos não podemos senão concluir, segundo tais princípios, que uma coisa é votar num candidato menos indigno, e outra, completamente diferente e indigna do nome católico, é fazê-lo repetindo e propagando ideias perfeitamente anticatólicas como o são as liberais. Vezes sem conta, porém, durante a última campanha eleitoral, ouvimos da boca e lemos pela pena de católicos a defesa (ainda que mitigada) da democracia liberal, regime político condenado, todavia, pelo Magistério da Igreja ― especialmente pelo próprio São Pio X ― até que o câncer humanista que já corroía sua hierarquia atingisse, no ponto metastático máximo, o próprio Vigário de Cristo e o Concílio Vaticano II. Repetiam-se infaustamente então, durantes as eleições passadas, argumentos de notórios liberais, como, por exemplo, o de que a democracia liberal é “melhor” ou “menos má” que o comunismo, esquecendo-se de dizer não só que este é rebento daquela e, atualmente, com ela se amalgama, mas que a democracia liberal nasceu e se mantém com um único fim: impedir o Reinado Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, para impedir todo e qualquer Reinado Seu.[1] Não é “só” que seu triste lema, “liberdade, igualdade e fraternidade”, seja um sucedâneo satânico das três virtudes teologais, “Fé, Esperança e Caridade”. É-o, sem dúvida, mas é mais que isso: é a barreira que os poderes infernais e mundanos tentam erguer contra a tripla petição que o nosso mesmo Senhor nos prescreveu: “Sic ergo vos orabitis a) santificado seja o Vosso nome; b) venha a nós o Vosso reino; c) seja feita a Vossa vontade assim na terra como no céu”.[2]
4. Pois bem, constituímos o Seminário Permanente de Estudos Sociopolíticos Santo Tomás de Aquino ― Spes ― exatamente para o mais amplo estudo e divulgação da doutrina católica prescrita por Nosso Senhor em seu Pater e desenvolvida pelo magistério da Igreja e pelos Doutores católicos (em especial o Comum, Santo Tomás de Aquino), doutrina segundo a qual:
• Como o próprio homem, tudo no mundo humano ― as ciências, as artes, a economia, a política, etc. ― deve-se ordenar ao fim último do universo, Deus mesmo. Com efeito, se as ciências visam a dar saber ao homem, se as artes visam a dar beleza ao homem, se a economia visa a dar comodidade ao homem, se a política visa dar virtudes ao homem, e se o homem se ordena a Deus, logo tais fins não serão senão fins intermediários ou, mais precisamente, meios para a consecução pelo homem do fim último;[3]
• Ora, tal ordenação de todo o humano ao fim último universal assumiu ― em razão da própria história humana, que começa com o estado de justiça original e, passando pelo pecado de nossos primeiros pais e pela queda da natureza específica do homem, atinge sua consumação com a Redenção propiciada pela Paixão na Cruz ―, assumiu, pois, a forma concreta de ordenação a Nosso Senhor Jesus Cristo e a Seu reino assim na terra como no céu. O Reino de Cristo não é, pois, senão o mesmo Reino de Deus que, vertido do flanco de nosso Salvador, se constituiu em Igreja Católica. Esta mesma Igreja Católica de que não só faz parte o conjunto de seus sacerdotes e fiéis ― na terra, no purgatório, ou já no céu ―, mas de que também fizeram parte, de modo particular, as próprias nações cristãs, as que constituíram a hoje extinta Cristandade. Esta mesma Igreja Católica que, ao fim dos tempos, se transmutará gloriosamente na definitiva Jerusalém Celeste;
• Por isso mesmo, ou seja, porque fora da Igreja Católica não há salvação para os indivíduos humanos nem para suas cidades, por isso mesmo é que não há meio-termo: ou os indivíduos humanos e suas cidades fazem parte do Reino de Cristo e vivem sob Seu Reinado, ou se transformam em pasto dos demônios. Tertium non datur. Mas de onde advém tal oniabrangente realeza, ante a qual todo joelho se há de dobrar para que toda língua a possa louvar dignamente? Antes de tudo, do simples fato de que não pode haver exceção ali onde Deus não deixou nenhum lugar para ela. Mas por que não o deixou? Porque não pode haver exceção com respeito àquele que é o Rei universal, e que o é a triplo título: a) por direito de nascimento ou geração eterna, a do Verbo, que é o alfa e o ômega de toda a criação; b) por direito de natureza por sua União Hipostática; e c) por direito de conquista, de redenção, de resgate do gênero humano por sua Paixão e Morte na Cruz. Disse-o o mesmo Jesus: “Omnia potestas data es mihi in cœlo et in terra” (“Foi-me dado todo o poder no céu e na terra”) (Mt 28, 18). E concluiu São João: “Todo espírito que dissolve Jesus Cristo não é de Deus, mas é justamente esse Anticristo de que ouvistes que está para chegar e que no presente já se acha no mundo”... (1Jo 4, 3);
• E foi ainda Nosso Senhor quem, respondendo à pergunta de Pilatos: “Ergo rex es tu?” (“Então tu és rei?”), o confirmou: “Tu o disseste” (cf. Mt 27, 11; Mc 15, 2; Lc, 23, 3; Jo 18, 33-34). Mas não disse Cristo também que seu reino não era deste mundo, e que se devia dar a César o que é de César? Não indicariam essas duas afirmações, respectivamente, uma autonomia essencial deste mundo com respeito ao Reino de Cristo e uma divisão essencial entre as duas ordens terrestres, a civil ou temporal e a eclesiástica ou espiritual? De modo algum, porque: a) se não é “deste mundo”, é por isso mesmo que a Realeza de Cristo se exerce, e plenamente, “sobre este mundo”; e b) se é verdade que Cristo estabeleceu a distinção entre jurisdição civil e jurisdição eclesiástica, com o que resolvia graves dilemas pagãos como o de Platão em busca da república ideal, também é verdade, porém, que distinção não implica necessariamente ausência de subordinação de fins, e de subordinação essencial. Com efeito, como disse Santo Tomás de Aquino, a ordem temporal está para a ordem espiritual assim como o corpo está para a alma no homem; assim como a natureza está para a graça no justo; e assim como a razão está para a fé na sacra teologia.[4] Ademais, a união entre a ordem civil e a eclesiástica é comparada pelo Padre Álvaro Calderón à união que se dá no matrimônio.[5] Em outras palavras, a ordem civil, conquanto seja distinta da ordem eclesiástica e conquanto, quanto às jurisdições, se subordine a esta indiretamente, a ela porém se subordina, quanto aos fins, não acidental, mas essencialmente;
• Por fim, é dever ineludível de todo católico confessar ou professar aquilo que até o Concílio Vaticano II o Magistério eclesiástico sempre sustentou, quer insistindo na posse pela Igreja dos dois gládios (o temporal e o espiritual), quer, com São Pio X, convocando todos a “instaurare omnia in Christo” (“instaurar todas as coisas em Cristo”), quer pondo a pedra angular da doutrina ― na qual já tan-to insistira o Cardeal Pie de Poitiers ― com a Quas Primas de Pio XI: “é evidente que também em sentido próprio e estrito pertence a Cristo como homem o título e a potestade de Rei”; “a força e a natureza deste principado [consistem] num triplo poder”: legislativo, judicial e executivo; e “o principado de nosso Redentor compreende todos os homens […]. ‘Sua autoridade, com efeito [diz Leão XIII em Annum Sacrum], não se estende somente aos povos que professam a fé católica […] a humanidade toda está realmente sob o poder de Jesus Cristo.’ E neste ponto não há diferença alguma entre os indivíduos e as sociedades domésticas e civis”. Ou seja: a Realeza de Cristo é Total, e cada católico tem o imperioso dever de professá-la, sem atenuações, segundo seu estado e capacidade.
II. Ainda é factível, nos dias de hoje,
a instauração do reinado social de Nosso Senhor Jesus Cristo?
5. Não só já se passou muito tempo desde que o Cardeal Pie de Poitiers, o Papa São Pio X e o Papa Pio XI escreveram o que se leu acima, e não só desde então se estendeu a tal ponto a democracia liberal e suas ervas daninhas, que hoje até a maioria dos próprios batizados na Igreja Católica aceita o sexo livre, os métodos contraceptivos antinaturais, o divórcio, etc. Muito mais que tudo isso: entre aqueles tempos e os dias de hoje ocorreu o que, com a clareza e firmeza de sempre, Dom Marcel Lefebvre chamou de “golpe de mestre de Satanás”: a abominação, a desolação do Concílio Vaticano II e de sua perpetuação pelo magistério dos Papas que o seguem, incluído o atual, cuja “hermenêutica da continuidade” entre a tradição e o Concílio não passa de uma das vertentes ― talvez a mais perigosa, por mais enganosa ― do câncer que tomou quase toda a hierarquia da Igreja. Não necessitamos aqui, nem é o objetivo precípuo de nosso Spes, estudar em si este fenômeno dramático e como que apocalíptico. Além de muitos outros, já o fez à perfeição o mesmo Dom Lefebvre, e já o fez, especialmente, o Padre Álvaro Calderón nos livros A Candeia Debaixo do Alqueire..., Prometeo ― la religión del hombre e El Reino de Dios en el Concilio Vaticano II (este ainda por publicar). A suas conclusões aderimos inteiramente. Mas necessitamos, sim, afirmar aqui que aparentemente já estamos na etapa da chamada Sétima Igreja, ou seja, na do fim dos tempos ― o que se deve precisamente, em boa parte, ao que vem ocorrendo na Igreja desde o Concílio Vaticano II.[6] Não que a origem deste câncer seja recente; ela remonta à própria Idade Média, à filosofia e teologia de um Duns Scot ou de um Guilherme de Ockham, à já então progressiva rebelião dos poderes temporais contra o Papado, à revolta humanista da carne contra as exigências da santidade, etc. Mas o fato é que, como dito, o ponto máximo de sua metástase é atingido com o referido Concílio, o que fez cair sobre os católicos que lutam pelo Reinado Total de Nosso Senhor Jesus Cristo uma nova e pesadíssima realidade: agora eles têm de lutar não só contra o demônio, o mundo e a carne, mas também contra a própria maioria da hierarquia da Igreja, que no Concílio Vaticano II firmou um pacto de morte justamente com os nossos próprios inimigos.
6. Mas uma coisa é afirmar que, dada a apostasia geral das nações e a quase geral apostasia da própria hierarquia da Igreja, aparentemente estamos na etapa da Sétima Igreja, e outra é dar a esta afirmação valor de certeza ― até porque há verdadeiras autoridades, como Dom Williamson, Bispo da FSSPX, para as quais ainda não atingimos tal etapa. Não o devemos fazer, nem, muito menos, podemos descrever concretamente todos os passos que vão dar-se até a Parusia.[7] Como quer que seja, porém, estejamos efetivamente ou não na etapa da Sétima Igreja, e, caso estejamos, seja qual for o tempo que nos separa da Parusia, a verdade é que jamais podemos deixar de aderir interiormente à Realeza Total (incluída a Social) de Jesus Cristo, nem de confessá-la publicamente, até para não suceder que, de tanto a omitirmos, acabemos nós mesmos por negá-la. Sim, porque é como uma lei: quem não vive tal como pensa, acaba por pensar tal como vive.
7. Que implica, porém, efetivamente, este dever de confessar publicamente a Realeza Total de Cristo? Como tal confissão é parte da nossa profissão global da fé, vejamos como explica Santo Tomás de Aquino (in Suma Teológica, II-II, q. 3, a. 2) o preceito de professar exterior e abertamente a fé cristã. Devemos, segundo o Aquinate, considerá-lo por dois ângulos. Enquanto tal preceito implica uma proibição, sua obrigação é de todos os momentos e de todas as situações da vida: nunca é permitido ao católico fazer qualquer coisa, ou dizer qualquer coisa, ou escrever qualquer coisa que seja uma negação de sua crença. Enquanto porém implica um ato positivo, o preceito, conquanto permanente e contínuo, não obriga o católico a professar sua fé a todo momento e em todo lugar. Ou seja, fazê-lo a todo momento e em todo lugar não é necessário para sua salvação. No entanto, o que, sim, é necessário para sua salvação é professá-la na devida hora e lugar, quer dizer, quando por omissão da declaração de sua crença o católico deixasse de prestar a honra devida a Deus ou deixasse de concorrer para a utilidade espiritual do próximo; como se, por exemplo, ao ser interrogado sobre sua fé, ele se calasse, podendo resultar desse silêncio, para o próximo, ou a conclusão de que a fé não é verdadeira, ou a perda dela ou a desistência de abraçá-la. Como seja, o fato é que não nos basta a adesão interior à verdade divina, incluída a Realeza Total de Cristo; é-nos de preceito confessá-la exteriormente pelo menos nas condições indicadas por Santo Tomás. E são de Nosso Senhor mesmo estes inequívocos dizeres: “Todo aquele que não me tiver confessado diante dos homens, o Filho do homem tampouco o confessará diante dos anjos de Deus. E aquele que me tiver negado diante dos homens, esse será negado diante dos anjos de Deus” (Lc 12, 8-9).
8. Além do mais, ainda que estejamos marchando para o fim dos tempos e que não possamos tornar a instaurar, efetivamente, tudo em Cristo, devemos imbuir-nos profundamente das seguintes palavras do Cardeal Pie de Poitiers, escritas há cerca de um século e meio, e que citaremos extensamente: lutemos “com esperança contra a esperança mesma. Pois quero falar a esses cristãos pusilânimes, a esses cristãos que se fazem escravos da popularidade, adoradores do sucesso, e que são desconcertados pelo menor progresso do mal. Ah! afetáveis como eles são, praza a Deus que as angústias da provação derradeira sejam mitigadas! Esta provação está próxima ou está distante? Ninguém o sabe [...]. Mas o certo é que, à medida que o mundo se aproxime de seu termo, os maus e os sedutores terão cada vez mais vantagem. Já quase não se encontrará fé sobre a face da terra, ou seja, ela terá desaparecido quase completamente de todas as instituições terrestres. Os próprios crentes mal ousarão fazer uma profissão pública e social de suas crenças. A cisão, a separação, o divórcio das sociedades com Deus, o que é dado por São Paulo como sinal precursor do fim, ‘nisi venerit discessio primum’, ir-se-á consumando, dia após dia. A Igreja, sociedade sem dúvida sempre visível, será cada vez mais reduzida a proporções simplesmente individuais e domésticas. Ela, que dizia em seus começos: O lugar me é estreito, abre-me um espaço em que eu possa habitar: Angustus mihi locus, fac spatium ut habitem, ela se verá disputar o terreno palmo a palmo, ela será cercada, encerrada por todos os lados: tanto quanto os séculos a tinham feito grande, tanto se aplicarão muitos agora a restringi-la. Enfim, haverá para a Igreja da terra uma como verdadeira derrota, e será dado à Besta mover guerra contra os santos e vencê-los. A insolência do mal atingirá o ápice.
“Ora, nesse extremo das coisas, nesse estado desesperado, neste globo entregue ao triunfo do mal e que logo será invadido pelas chamas, o que deverão fazer todos os verdadeiros cristãos, todos os bons, todos os santos, todos os homens de fé e de coragem?
“Aferrando-se a uma impossibilidade mais palpável que nunca, eles dirão com energia redobrada e tanto pelo ardor de suas preces como pela atividade de suas obras e pela intrepidez de suas lutas: Ó Deus! Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome assim na terra como no céu; venha a nós o vosso reino assim na terra como no céu; seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu! Eles murmurarão ainda estas palavras, e a terra tremerá sob seus pés. E, assim como outrora, em seguida a um espantoso desastre, se viu todo o senado de Roma e todas as ordens do Estado ir ao encontro do cônsul vencido, e felicitá-lo por não se ter desesperado da república, assim também o senado dos céus, todos os coros dos anjos, todas as ordens dos bem-aventurados virão ter com os generosos atletas que terão sustentado o combate até o fim, esperando contra a esperança mesma: contra spem in spem. E então este ideal impossível, que todos os eleitos de todos os séculos tinham obstinadamente perseguido, se tornará enfim uma realidade. Neste segundo e derradeiro advento, o Filho entregará o Reino deste mundo a Deus seu Pai, e o poder do mal terá sido evacuado, para sempre, para o fundo dos abismos; todo aquele que não tiver querido assimilar-se, incorporar-se a Deus por Jesus Cristo, pela fé, pelo amor, pela observância da lei será relegado à cloaca das imundícies eternas. E Deus viverá e reinará plenamente e eternamente, não apenas na unidade de sua natureza e na sociedade das três pessoas divinas, mas na plenitude do corpo místico de seu Filho encarnado e na consumação dos santos!” (Œuvres sacerdotales, III, 527-528-529).
III. Que somos e como atuaremos
9. Somos um grupo de leigos que constituímos o Seminário Permanente de Estudos Sociopolíticos Santo Tomás de Aquino ― Spes em concordância com todos os princípios acima expostos e tendo em vista os seguintes objetivos:
• antes de tudo, o de estudarmos nós mesmos a doutrina da Igreja e de seus principais Doutores sobre a Realeza Total de Nosso Senhor Jesus Cristo;
• mas também o de a divulgarmos mediante cursos, palestras, grupos de estudo, vídeos, livros, textos, site próprio, etc., a quaisquer pessoas que o desejarem.
11. De modo algum nos confundimos com os grupos leigos caudatários do Vaticano II e que, por isso mesmo, se consideram parte de um sacerdócio comum com os clérigos. Ora, tal concepção, de todo contrária ao modo como Nosso Senhor instituiu sua Igreja, só é possível porque a doutrina conciliar identifica o Reino de Deus não com a Igreja, mas com o mundo. Mas, se todos os homens (ou quase) se salvam pelo só fato de serem homens, digamos, humanos ― com efeito, para o humanismo conciliar o homem não deve ordenar-se a Deus e glorificá-lo como a seu fim último, mas ao mesmo homem como glória de Deus ―, então de fato a parte do “sacerdócio” constituída pelos leigos até sobreleva a constituída pelos eclesiásticos e tem a estes como que a seu serviço.[8]
10. Ao contrário, defendemos estritamente a subordinação e ordenação dos leigos aos sacerdotes (hoje em dia, é claro, apenas aos não aderentes de modo algum à doutrina conciliar), e somos dirigidos teológica e espiritualmente, no Spes, por Dom Tomás de Aquino, prior do Mosteiro da Santa Cruz (Nova Friburgo, RJ).
Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dê a força necessária para nunca cedermos ante as pressões de um mundo iníquo e apóstata, e nunca deixarmos de arvorar o estandarte de sua Realeza excelsa e única.
Fundadores
Frederico de Castro (coordenador geral) (Belo Horizonte, MG)
José Carlos Gimberreis (Belo Horizonte, MG)
Renato Salles (Belo Horizonte, MG)
Marcel Assunção Barboza (Campo Grande, MS)
Euro B. de Barros (Corumbá de Goiás, GO)
Gustavo Barreto (Montreal, Canadá)
Carlos Nougué (Nova Friburgo, RJ)
Wellington Nery (Nova Friburgo, RJ)
Bruno Bertolli (Presidente Prudente, SP)
Paulo A. Hernandez (Rio de Janeiro, RJ)
Sidney Silveira (Rio de Janeiro, RJ)
Stefano Pasini (Salvador, BA)
Luiz Paulo de Alcantara (São Paulo, SP)
“Se estais condenados a ver o triunfo
do mal, nunca o aplaudais; nunca digais
do mal ‘isso é bom’; nunca digais da
decadência ‘isso é progresso’; nunca
digais da noite ‘isso é luz’; nunca
digais da morte ‘isso é vida’.”
Cardeal Pie de Poitiers
* O equivalente em português da palavra latina spes, ei é “esperança”. A Esperança é uma das três virtudes teologais; as outras duas são a Fé e a Caridade.
[1] “A democracia é uma religião mais universal que a Igreja [...]. Resulta do grande movimento de apostasia organizado em todos os países para o estabelecimento de uma Igreja Universal que não terá dogmas, nem hierarquia, nem regra para o espírito, nem freio para as paixões” (São Pio X, Carta sobre Le Sillon).
[2] “O reino visível de Deus sobre a terra é o reino de seu Filho encarnado, e o reino visível de Deus encarnado é o reino permanente de sua Igreja” (Cardeal Pie de Poitiers, Œuvres sacerdotales, III, 501). Sobre esta identidade dos três reinos: o reino de Deus, o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo e o reino da Igreja, cf. ainda Cardeal Pie de Poitiers, Œuvres sacerdotales: I, 143-144, 317 a 320, 381, 499-500.
[3] E, com efeito, se uma obra de arte – um romance, uma peça teatral ou musical, um filme – leva o homem a afastar-se de Deus por qualquer razão, já não O terá por fim, mas servirá aos inimigos d’Ele e da santidade; e diga-se o mesmo das ciências, da política, da vida econômica, etc.
[4] Para este tema, cf. muito especialmente Padre Álvaro Calderón (da FSSPX), La Ciudad de Dios en el Concilio Vaticano II (primeira versão, em PDF), pp. 16-24. Quanto ao próprio Santo Tomás de Aquino, cf. Suma Teológica, II-II, q. 60, a 6; De Regimini Principum, liv. I, cap. 15, e In II Sententiarum, dist. 44, q 1, a 3, ad 5 et corpus; Suma Teológica, I, q 1, a 4, e Suma contra os Gentios, liv. 4, cap. 72, n. 10.
[5] “Assim como o batismo não sana completamente as desordens da concupiscência senão depois da morte, assim também o matrimônio entre o Ministério apostólico e a Cidade cristã não podia deixar de ser conflituoso. [Nota:] Se aqui comparamos [a união do ministério eclesiástico e do político] com a do matrimônio é, em primeiro lugar, porque é semelhante, já que esposo e esposa ‘vêm a ser dois numa só carne’ (Gn 2, 24). Ademais, porque se funda justamente no sacramento do matrimônio, por meio do qual o poder eclesiástico santifica a ordem política. [...] Por fim, porque a modernidade se funda no divórcio deste fecundíssimo matrimônio” (Padre Álvaro Calderón, Prometeo – la religión del hombre..., Río Conquista, 2010, p. 164). Por seu lado, o Cardeal Pie de Poitiers dizia que o poder temporal está para o espiritual assim como a natureza humana de Cristo está para sua natureza divina. Parece-nos válida também esta analogia, com a desvantagem, porém, com respeito às outras, de que entre as duas naturezas de Cristo não há nem pode haver nenhum conflito. Para esta analogia do Cardeal Pie de Poitiers, cf. especialmente a Lettre à M. le ministre de l’instruction publique et des cultes (16 de junho de 1861) e a Troisième instruction synodale sur les principales erreurs du temps présent.
[6] Que sinal temos disto? Diz-nos o próprio Cristo: justamente “a abominação da desolação instalada no Lugar Santo” (cf. Mt 24, 1-14; Mc 13, 1-3; Lc 21, 5-7).
[7] Sobre a incerteza da hora do juízo, cf., por exemplo, Mateus, 24, 36-44.
[8] Cf. Padre Álvaro Calderón, Prometeo – la religión del hombre..., especialmente pp. 239-258.
Tengo la suerte de conocer en persona a uno de sus promotores, debo decir que esta iniciativa brasileña es de una calidad superior.
Aquí corresponde hablar de aquella horrible y nunca bastante execrada y detestable libertad de la prensa, [...] la cual tienen algunos el atrevimiento de pedir y promover con gran clamoreo. Nos horrorizamos, Venerables Hermanos, al considerar cuánta extravagancia de doctrinas, o mejor, cuán estupenda monstruosidad de errores se difunden y siembran en todas partes por medio de innumerable muchedumbre de libros, opúsculos y escritos pequeños en verdad por razón del tamaño, pero grandes por su enormísima maldad, de los cuales vemos no sin muchas lágrimas que sale la maldición y que inunda toda la faz de la tierra.
Encíclica Mirari Vos, Gregorio XVI
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