Num ano marcado em Portugal pela incidência de chamadas às urnas, torna-se mais patente a correlação que melhor tem caracterizado o cenário politico luso nas últimas décadas e não menos a incontestável divergência de desenvolvimento entre o nosso país e o resto da Europa. A correlação existente entre a mediocridade da politica e o desinteresse eleitoral, cuja face visível é a abstenção.

Essa correlação é óbvia, diáfana, gritante! Só os políticos não a querem perceber, ver ou ouvir. Se consideram a abstenção uma debilidade, uma doença do regime democrático – como devem, de resto – porquê não a preveniram com uma, profilaxia atempada nem tampouco a acodem com uma terapêutica decidida e eficaz? Porquê se limitam a criticar a democracia por estar doente e apelar a que não esteja?

Alguém fica doente porque quer? Claro que não! Então para que servem os constantes apelos ao voto, nauseantes de repetitivos que são, unindo o decano Chefe de Estado ao mais imberbe e imbecil “jota”, num lamentável exercício de estúpida mendicidade?

Seria absolutamente desnecessário apelar ao voto se os eleitores, os portugueses comuns, o Zé Taxista e a Maria Alzira, vislumbrassem que algo podia efectivamente mudar para melhor no país e nas suas vidas pelo acto de escolher, de entre as listas concorrentes a sufrágio, a uma qualquer pelo concordante, coerente e actuante do que ideológica ou programaticamente propõem, em relação às suas melhor ou pior fundamentadas visões para o futuro de Portugal.

Mas o Zé Taxista e a Maria Alzira não vislumbram essa possibilidade. Sentem-se enganados pelos políticos, desiludidos com a política, revoltados com os partidos políticos. Entusiasmados com a liberdade de Abril, que os manteve na mesma cela mas lhe deu a possibilidade de escolher o seu carcereiro, exerceram um voto militante; mais tarde, quando se enterrou o socialismo e se pariu (mal) um projecto europeu tanto ideológica como historicamente desenraizado, deixaram cair um voto dito “útil”; agora que esse projecto está a falir, como o tecido produtivo nacional que fez falir, por de uma qualquer política económica comum e pelo livre comércio em espaço único, agora que estão desempregados, arruinados, humilhados e, no fundo de tudo, arrependidos, agora… agora já não têm nenhum voto para oferecer.

Esta abstenção é consciente e transmite uma mensagem tão clara como um voto válido para escrutínio. Essa mensagem é a seguinte:

Quando me quisestes impor um estado socialista, nacionalizar as bases da nossa economia e abandonar à sua sorte milhões de portugueses ultramarinos – não me pedistes opinião;

Quando vendestes a independência nacional e a sua auto-sustentação a uma União Europeia que não é unida nem europeia, mas sim uma entidade promotora dos interesses da alta burguesia ultra-capitalista, apátrida e maçónica com vista ao estabelecimento de uma “nova ordem global” – não me pedistes opinião;

Quando, depois de destruirdes tudo o que sempre foi Portugal; as suas tradições em nome do liberalismo, a sua fé em nome do socialismo, a seu aparelho produtivo e económico em nome do “solidário progresso europeu”; vós que agora pedis o meu voto para me fazer acreditar que são os representantes que eu escolhi a decidir o futuro do meu país e não as lideranças do seu partido, que não foram escolhidas por mim; vós que com ele quereis sancionar o maldito sistema que tudo isto permitiu e permite, a vós digo:

NÃO! NÃO VOTO! POR MEU DIREITO E DEVER CÍVICOS, NÃO LEGITIMO A MEDIOCRIDADE E A MENTIRA DO PARTIDARISMO CORRUPTO!