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Honores6Víctor
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Tema: Elegia da Castela Tradicional ( de A a Z)

  1. #1
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    Elegia da Castela Tradicional ( de A a Z)

    Caros contertúlios e demais leitores:

    Como português tenho uma aversão intestina a que, não pedindo conselho para tal, me digam por onde ir, o que pensar ou do que gostar. Foi por essa aversão marcada na própria génese da minha Pátria, que os portugueses venceram os diferentes cabos (de trabalhos, também), de que se dizia antes serem instransponíveis e guardados por monstros. Quem quer passar além do Bojador, tem de passar além da dor... mas passámos! E a seguir passámos o cabo das Tormentas! E tão bem passámos que o chamámos de Cabo da Boa Esperança. Porque o conhecimento é luz e esperança e a ingnorância é escuridão e medo.

    Infelizmente, como o povo português é um povo de contrastes e incoerências profundas, poucos foram os meus compatriotas que historicamente desafiaram, de forma pública, racional e convincente, o atávico medo e aversão a tudo quanto é espanhol e, sobretudo, castelhano. Um antigo fado de Coimbra, que recolheu uma letra popular velhinha de séculos, dizia assim:

    "Senhora do Almortão
    Ó minha linda raiana
    Virai costas a Castela
    Não queirais ser castelhana!"


    É certo que Portugal teve, algumas vezes na sua história, de cruzar ferro com Castela. É natural: os vizinhos nem sempre se dão bem. Mesmo os irmãos de sangue - como são portugueses e castelhanos - têm, vez por outra, os seus altercados. Mas, na verdade, tivémo-los bem menos que outros vizinhos; e se contarmos os combates travados pelos portugueses, muitos mais foram as batalhas que librámos contra os turcos e contra os holandeses, que contra os espanhóis (mesmo que fossem todos castelhanos). E a respeito desses nem um dito, nem um comentário popular, nada...

    Porquê então este desígnio histórico de inculcar, desde terna infância, a aversão ao castelhano? Terá Portugal, depois de quase nove séculos de história, de se afirmar contra alguém ou alguma coisa? É que para mais, de Castela (da tradicional, pelo menos) nunca nos veio nenhuma oposição à existência de Portugal. Sim! É verdade! Houve reclamações (e guerras) pela titularidade da coroa de Portugal, não contra a sua existência. Reclamações que resultaram de direitos de sangue adquiridos por casamentos reais que ninguém nos obrigou a fazer. Que se lamente por isso - se fôr de lamentar - a ambição dos reis de Portugal e não a inimizade de Castela.

    Não! Portugal não tem de se afirmar contra Castela, mas com Castela e toda a Espanha, pela exaltação e promoção de uma hispanidade partilhada com meio mundo. Porque é do interesse de Portugal, quer se goste ou não de Castela. E eu, apesar do que digam, sou apaixonado por Castela, pelo seu povo, pela sua cultura e pela sua tradição. E vou mostrar porquê, nos próximos 23 artigos, de A a Z. Sem conselhos!
    Ordóñez y Hyeronimus dieron el Víctor.
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  2. #2
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    Re: Elegia da Castela Tradicional ( de A a Z)

    Austera

    A austeridade está de moda mas não pelas melhores razões. Tem-se chamado de "austeridade" ao castigo que os usureiros internacionais impõem às populações que não usufruiram das dívidas contraídas por governantes imcompetentes e criminosos, que partilham o saque com os usureiros. Não. A austeridade não é pena de indigência. Também não é ostentação de uma pobreza que se não tem por pretensão de uma qualquer eminência moral. Nem a moralidade pode resultar da mentira nem a pobreza é uma qualidade. A pobreza, sobretudo quando extrema, é uma enfermidade das sociedades - tal como o é a riqueza extrema; não deve o pobre se envergonhar da sua pobreza nem ser levado a pensar que lhe foi predestinada por Deus. Para a Fé Verdadeira, não há predestinação; e entre as três virtudes teologais que aponta, não se encontra a pobreza.

    O austeridade não é, portanto, a pobreza imposta por outros, auto-imposta ou simuladada. É sim a singela dignidade de quem sabe quem é; e que essa dignidade não resulta do que tem (nem deixa de ter) nesta vida, mas do que contribui para o glória de Deus e a salvação do mundo. Enquanto o Juizo Final não chega, há que fazer o mais possível, tudo o que se puder. Porque, já Fernando Pessoa dizia, quem faz o que pode, faz o que deve. E fazer o que se deve pode ser dar a vida por Deus, pela Pátria e pelo Rei (quando seja legítimo de sangue e exercício) ou conservá-la o mais possível, garantindo sempre que tem o suficiente para viver e ajudar a viver na Graça do Senhor.

    É essa austeridade a que, historicamente, caracteriza os povos de Castela. Desde o mais ilustre fidalgo ao mais humilde ceifeiro das searas castelhanas. Em tempo de fartura como em de carência, o castelhano guarda prudente e realista sobriedade de gastos, hábitos, gestos, vestes e divertimentos. É discreto no trajar, privelegia a resistência do tecido à voluptuosidade da cor.



    Quadro "Cavaleiro de Mão no Peito" de El Greco

    Prefere o asseio aos mais vibrantes perfumes; reserva a abundância na mesa para as festas religiosas, casamentos, baptizados e para receber convidados. A hospitalidade castelhana só se manifesta em plenitude quando se conhece o seu povo e o seu modo de vida tradicional; só se soubermos do que se priva um castelhano, no seu dia-a-dia, é que compreendemos verdadeiramente quão generoso e hospitaleiro ele é, quando nos recebe no seu lar. Não faz ele a melhor sala, que o sorriso não é o seu forte; mas dá muito melhor mesa e conforto do que o que se permite a si próprio.

    Mais se priva ainda quanto mais lhe pede o bom governo da pátria espanhola, ou o maior bem da Igreja - que como sabemos, é o universo dos cristãos. Fá-lo por um enraízado sentido de comunhão e de colectividade que desenvolveu para fazer face aos desafios de uma terra flagelada por um clima extremado, terra rochosa que pede muito do arado para dar pouco ao moinho, com fraca alma de minério. Pode-se ler a vida do castelhano nas suas mãos: não pelas linhas, como fazem para aí muitos aldrabões, que se aproveitam da falta de fé (e de inteligência) dos outros. Não, pelas linhas, não; pelos calos. Calos de enxada, "calos de espada", calos de maço.

    A arquitectura tradicional reflecte esse sentido de comunhão e de luta colectiva contra a adversidade.



    Imagem de Pedraza, Segóvia


    A Cesar o que é de César, a Deus o o que é de Deus, respondeu Nosso Senhor Jesus Cristo aos fariseus. A Deus a Glória e aos homens a glorificação de Deus. Nas igrejas e catedrais de Castela estão as primícias dos seus frutos, os cordões das suas mulheres, as fazendas dos seus fidalgos, o esforçado trabalho dos seus pedreiros e carpinteiros, tão doído como doado de bom grado para a Casa em que "todo o que pede, recebe e todo o que procura encontra".



    Catedral de Burgos

    Diz um velho dito de pescadores portugueses: guarda o teu dinheiro para o mau tempo. Assim faz o castelhano, porque até o bom tempo pode ser mau em Castela. E assim parece que, por muito que tenha sido pedido ao castelhano, há sempre mais para dar.
    Ordóñez, Hyeronimus y El Tercio de Lima dieron el Víctor.
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  3. #3
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    Re: Elegia da Castela Tradicional ( de A a Z)

    Bela

    A verdadeira beleza da Castela tradicional dá-se a apreciar pelo feliz matrimónio entre a terra e o seu povo. O gente castelhana foi aprimorada nas suas qualidades e virtudes, pelo cinzel da cultura e do conhecimento transmitido de geração a geração, para melhor se ajustar aos desafios da sua terra ancestral e conseguir que ela dê o melhor de si, numa relação de profícua e duradoura harmonia.

    Dir-se-ia que se o castelhano não existisse para povoar a sua terra, teria que ser inventado. E, de facto, terá sido assim, num interminável processo que já leva mais de uma dúzia de séculos de maturação. A minha mulher sempre me diz que os esposos com muito tempo de casamento tendem a ficar fisicamente parecidos: queira Deus que tenha razão e me venha a emprestar um pouco da beleza com que me encantou. Mas pensando nisso, parece mesmo que a beleza dos campos castelhanos foi, com o correr do tempo, sendo transferida para o seu povo, ornando-o com a mesma simplicidade e serenidade de quem sabe que o tempo só torna as coisas mais belas para os mais belos olhos.



    Imagem de origem desconhecida - mas que bem poderia ser de uma anciã castelhana

    Não sou douto em estética - como o não sou em nenhum campo da filosofia. Sem embargo, parece-me que, de entre todos, só há um tipo de beleza persistente e intemporal, que é o das coisas simples. Quanta maior a complexidade e a intervenção humana, mais uma e outra estarão sujeitas ao escrutínio das modas, dos padrões de beleza e dos ditames do gosto. A simplicidade é, por isso, ao mesmo tempo que a protecção do protagonismo de poucos elementos escolhidos, uma aproximação à perfeição da Criação Divina, onde toda e cada coisa cumpre uma função insubstituível no quadro da Vida.




    Paisagem de Papoilas na Mancha - Imagem de Juan Carlos Muñoz
    Retirada de Símbolo del heroísmo y la fugacidad | El Viajero en EL PAÍS

    A beleza de Castela e das suas gentes é, portanto, a beleza das coisas simples: de uma natureza despojada de espaços largos e vistas infinitas que lançou o castelhano à conquista do mundo, porque o céu azul já lhe pertencia. Citando uma jovem e interesantíssima poetisa brasileira da actualidade, Priscila Rôde:

    "O bom de ter a fé ao alcance dos sonhos e da alma é que, se hoje não deu, amanhã tem mais: mais de mim, mais de nós, mais de tudo o que é vivo, de tudo o que é novo, de tudo o que esbarra em Deus e que a cada instante, sobre todas as coisas, deixa uns fios de esperança preparando a próxima colheita, o próximo encontro.

    Não existe nada mais acolhedor que a bonita certeza de que tudo passa só pra nos fazer enxergar a tal vida com os olhos sinceros do coração, com os sentidos aguçados e com um amor reinventado que transforma tudo o que vê.

    Só mesmo a beleza das coisas simples para nos salvar da frieza das coisas mornas."




    Neve em Palência
    Retirada de http://viajeteca.com/photos/Palencia...0-%20copia.JPG

    Com calor ardente ou frio de bater o dente, uma coisa é certa: a beleza de Castela faz-nos o coração quente.
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  4. #4
    Avatar de Michael
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    Re: Elegia da Castela Tradicional ( de A a Z)

    Libros antiguos y de colección en IberLibro
    Caro Irmão:


    Deixa-me dizer que eu não achava jeito para poder expressarem o contente que eu sinto-me ao ouvir este comentário.


    Precisamente Castela foi parte do Reino de Leão nos seus inícios. Leão como bem tu sabes foi parte da Galicia Romana. Também Leão foi parte do Reino de Galiza estabelecido pelos suevos. Ainda antes também se falava do reino de Leão(provavelmente como um termo geográfico) como Galiza. Galiza bem pode ser avó de Castela.


    Não sabes quanto me incomoda ouvir ou ler que Castela é a má. Castela nunca fez nada mau por Portugal nem pela Galiza.


    Incomoda-me muito mais quando oiço pessoas da Astúrias ou de Leão falarem mau da Castela, mas quando Castela foi um condado do Reino de Leão e foi a marca oriental do Reino. Sabendo também que o idioma castelhano tem que ver com os montanheses, estes muito irmanados com as Astúrias de Oviedo. Por conseguinte o idioma castelhano esta intimamente ligado com o idioma Astur-Leõês.


    Eu odeio essa lenda negra anti-castelhana. Castela e Portugal bem poderiam ser irmãos em vez de inimigos.


    Ambos os povos tem origens no Reino de Leão.


    Se Castela e Portugal são filhos do Reino de Leão?


    Não seriam então ambos os povos irmãos?


    Certo que tiveram lutas entre irmãos. Lutas pela unificação da Península e não era uma luta de oprimidos contra um estado colonizador e opressor. Os irmãos sempre podem brigar mas temos que lembrar que somos irmãos e que as brigas são estúpidas.


    Recebe um abraço.
    La Iglesia es el poder supremo en lo espiritual, como el Estado lo es en el temporal.

    Antonio Aparisi

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