Tradição equivale a dinamismo e continuidade
”(...) Tal é a hereditariedade espiritual a que nos acolhemos filialmente, - nós que em 1914 pegámos do arado, lançando na herdade lusitana um sulco tão profundo que já não há vento daninho que o possa apagar. A nossa faina de semeadores não conheceu mais um minuto de descanso ou adormecimento. (...)
Basta que assinalemos com a maior humildade de propósitos o trajecto que já se andou, tanto em extensão como em intensidade. Na desordem geral, dos espíritos, sente-se, apalpa-se uma certeza, uma coesão que se desenha e robustece, e aumenta.
Frutifica o sincero entusiasmo do reduzido grupo de vontades que em 1914 se meteu à empresa penosa de restaurar a alma da Pátria, voltando à senda esquecida da sua tradição.
E porque se escreve a palavra "tradição", entendemos dever precisar-lhe o sentido. Não se trata de um regresso - duma suspensão. Filosófica e historicamente o nosso conceito de "tradição" equivale a dinamismo e continuidade. Estamos, por isso, bem longe de nos confinarmos numa ideia saudosista da sociedade que foi ou das gerações que passaram. Pelo contrário, abertos às solicitações clamorosas deste instante de febre, olhamos o futuro com um alto desejo de o prepararmos, melhor e mais belo, do que é a actualidade, tão horizontal e espessa em que vivemos. (...)
Reflectindo no seu conflito, o conflito da sociedade em geral, a sociedade portuguesa dissolve-se, vai-se, varrida pelo individualismo nas suas últimas e extremadas consequências.”
António Sardinha
Prometheo Liberto
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