Achando alguns textos interessantisimos de António Sardinha pelo blog http://o-reaccionario.blogspot.com/; tenho pensado que pela sua dimensão, Sardinha meresce um fio aparte na temática portuguesa deste foro através dos seus próprios textos fundamentais.
Não sei como verão. Pelo momento aqui venho a expor:
Sabedoria árabe?
Fala-se muitas vezes duma ciência e duma filosofia árabe, – observa ele; na realidade, durante um século ou dois na Idade Média, os árabes foram nossos mestres, mas só enquanto não conhecemos os originais gregos. A ciência e a filosofia árabe nunca deixaram de ser uma mesquinha tradução da ciência e da filosofia grega. Desde que a Grécia autêntica despertou, essas míseras traduções ficaram sem sentido e não foi sem razão que os filólogos da Renascença iniciaram contra elas uma verdadeira cruzada. De resto, olhando de perto, essa ciência não tinha nada de árabe. O seu fundo é puramente grego, e entre os que a criaram não se aponta um único semita. Eram espanhóis e persas, escrevendo o árabe. O papel filosófico dos judeus na Idade Média é também o de simples intérpretes.
A filosofia hebraica desta época é a filosofia árabe sem modificações. Uma página de Roger Bacon encerra mais espírito científico do que toda essa ciência em segunda mão, respeitável, sem dúvida, como um anel de tradição, mas despida de grande originalidade.
– António Sardinha in Na Feira dos Mitos.
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Etiquetas: António Sardinha, Ciência
Plutocratismo
Sendo contra os princípios funestos da Revolução Francesa, nós somos necessariamente contra a organização económica da sociedade moderna. O Trabalho e a Propriedade sofreram com a obra da revolução a influência duma nova ordem de coisas, donde deriva imediatamente a crise que a todos nos toca e que escurece o horizonte com tão cerradas interrogações. O proletário, que nós vemos enfeudado ao cortejo dos agitadores políticos, deve à democracia a sua situação miseranda; a desorganização individualista da revolução aboliu os quadros corporativos em que o Trabalho se protegia e defendia dos acasos da concorrência em que o trabalho deixou o produtor entregue ao arbítrio da plutocracia, que é sem dúvida a única e a verdadeira criação do espírito revolucionário. Enganam-se os humildes se nas promessas falaciosas do erro democrático supõem encontrar a realização das suas reivindicações justíssimas! Um século inteiro de experiências dolorosas mostra-nos que nunca a sorte das classes pobres pode ser tratada e minorada pelos governos saídos do voto, que são estruturalmente governos sujeitos, por defeito de origem, à venalidade e à corrupção.
A Propriedade e o Trabalho, constituindo a pedra angular da Família, constituem os alicerces inalienáveis da Nacionalidade. Cosmopolita, mais fácil de se furtar às suas responsabilidades sociais, o Capital precisa de se restringir aos seus defeitos de relação entre a terra e o homem. Os desaforos do cambismo, envolvendo e universalizando a sociedade por meio da judiaria argentária, empurram-nos fatalmente para a dissolução do conceito supremo da Pátria. Impossibilitam por outro lado o operário de se hierarquizar como uma energia positiva e autónoma.
As democracias resultam daqui, agora e sempre, como as formas de governo mais aptas à supremacia da alta finança. São «Le pays de cocâgne rêvê par des financiers sans scrupules» como Georges Sorel as define. A instabilidade do poder nos governos electivos e a sua conquista pela corrupção eleitoral torna-os por natureza regimes abertos, como nenhuns outros, às imposições do Plutocratismo.
– António Sardinha in Durante a Fogueira.
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Etiquetas: António Sardinha, Capitalismo, Democracia
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