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Tema: A colónia portuguesa de Sevilha

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    A colónia portuguesa de Sevilha

    A Colónia Portuguesa de Sevilha.

    Uma Ameaça Entre a Restauração Portuguesa e a Conjura de Medina Sidónia?

    Santiago de Luxán Melendez
    Universidad de Las Palmas de Gran Canaria

    I. A População Estrangeira em Sevilha: os Portugueses

    «Durante aquella verdadera Edad de Oro andaluza, la zona gaditano-hispalense (pero también otras alejadas de la costa) fueron el punto de atracciónde marinos vascos, casas castellanas, mercaderes genoveses y flamencos,franceses que ejercían todas las actividades, desde aguadores y lacayos hasta elgran comercio, pilotos de Ragusa, portugueses, alemanes (...) esta riada degentes diversas explica el persistente crecimiento, el ambiente cosmopolita quecaptó Cervantes y la mezcla de sangres que allí se operó». (Domínguez Ortíz,A.: «La Andalucía del Renacimiento» in Historia de Andalucía, IV, 1980, pp.232-233).

    As palavras anteriores de Domínguez Ortíz expressam plasticamente a importância da presença estrangeira na bacia do Bétis durante toda a época moderna. Centrando-nos especialmente em Sevilha, e na conjuntura de 1640, conviria ressaltar o peso específico que a minoria lusitana chegou a alcançar, desde logo o sector depopulação estrangeira maioritário na cidade hispalense, como o documento que apresentamos põe em evidência.

    A formação do Portugal dos Filipes a partir de 1580(1) incrementou o número de portugueses, muitos deles conversos, que habitavam Sevilha e que, juntamente com Madrid, seria um dos locais preferidos pela colónia lusitana para se estabelecer. Num trabalho recente, Fernando Bouza demonstrou claramente a sua presença em Madrid e a sua afiliação à «Irmandade dos devotos de Santo Antonio dos Portugueses da Corte», confraria fundada em Valladolid em 1604(2). Durante o reinado de Filipe III, os marranos portugueses viram alterar-se a atitude de tolerância em relação as condições de saída do reino vizinho para uma posição contrária, adoptada em 1610 peranteas pressões do clero português que havia sido consultado para o efeito pelo Conselho de Portugal. A chegada ao poder de Olivares, e sobretudo a sua importante intervenção nas finanças da Monarquia desde 1627(4) melhorariam, de novo, a sua condição, provavelmente cerca de 1630, quando a chegada de portugueses a Sevilha se incrementa, até ao ponto de se afirmar que um quarto da população da cidade teria aquela origem e que o seu idioma seria dominante em determinadas ruas, inclusive sobre o castelhano(5).

    Assinalou-se que uma das causas fundamentais para o escasso aumento da população portuguesa por volta de 1640 foi a emigração motivada pela defesa das fortalezas e feitorias do Oriente e de África, o desenvolvimento do Brasil e a saída, por motivos religiosos e económicos, de muitos cristâos-novos em direcção à França, aos Países Baixos e à Espanha, especialmente a Sevilha:«Muitos naturais haviam-se fixado na outra parte da fronteira, situação quea Monarquia dualista favorecia»(6)

    O aumento da população portuguesa em Castela durante o reinado de Filipe IV não foi um facto isolado como o mostram os protestos do Conselho da Fazenda em 1622 contra os homens de negócios ou o do procurador de Burgos nas cortes de1624(7). Fruto desta preocupação com o estabelecimento de estrangeiros são tambémos inventários de portugueses realizados pela Inquisição das Canárias em 1626 paraa cidade de La Laguna, para Orotava e até para a ilha de Gomera(8).

    No momento da insurreição portuguesa de 1640 que poria fim à união, calculou-se que haveria em Sevilha uns 2000 negociantes portugueses contra os 4000 da capital do reino (9). Em qualquer caso, a guerra com Portugal, cuja fronteira estava tão próxima de Sevilha, provocaria medidas que afectariam toda a região, como a proibição do comércio, especialmente da exportação de trigo e prata, e colocariam a população portuguesa estabelecida em Sevilha numa situação delicada, agravada pela queda de um dos seus principais protectores, o conde-duque de Olivares. Fiel reflexo deste ambiente psicológico pode ser a missiva do presidente do Conselho de Castela a Filipe IV, referindo-lhe que:«La ciudad está tan llena de portugueses y extranjeros que tienen por ciertola entrará el portugués si se determina a ello»(10)

    II. O Recenseamento dos Estrangeiros de Sevilha de 1642

    1. Apresentação

    Entre a documentação de Guerra Antigua do Archivo General de Simancas(11) ,encontramos um cálculo do número de estrangeiros residentes em Sevilha que consideramos de grande interesse, tanto para o conhecimento da sua estrutura demográfica e social na cidade(12) como para poder realizar uma avaliação mais precisa donúmero de portugueses que se fixaram em Castela. Trata-se de uma relação mandada fazer pelo magistrado da Audiência Juan de Santelizes, a 2 de Dezembro de 1642. Recordemos que o mesmo funcionário havia julgado no processo do duque de Medina Sidónia, ouvindo os testemunhos e recolhendo os rumores que indicavam apresença de navios franceses, portugueses e holandeses entre Cádis e Sanlúcar(13). Assim, na pessoa de Santelizes recaíram duas tarefas que relacionam a conjura do duque e o perigo de uma invasão portuguesa que poderia ter em Sevilha uma «quintacoluna» entre os lusitanos que habitavam as suas paróquias. O primeiro assunto, napossibilidade que levantava de um possível desembarque aliado, parece que ficou no campo das suposições. O segundo, o potencial perigo da colónia portuguesa, expresso claramente pelo presidente do Conselho de Castela, será o objecto do recenseamento que apresentamos e também resultará no desmentido oficial. O inventário distingue entre naturais e estrangeiros considerando como tais, por ordem de importância, os portugueses, franceses, biscainhos, ingleses, flamengos, catalães, genoveses e, finalmente, os escravos.

    O documento é o resultado de uma investigação realizada por agentes eclesiásticos sobre os recenseamentos de confissão desse ano, pelo que se deverá ter emconta que não figuram nem clérigos nem religiosos, como nele se indica. Como é realçado na nota justificativa, Santelizes dá conta de que fez com «que cada cura volviese a recorrer por las casas de las suyas [parroquias] los Padrones deste año con todo secreto diligencia y cuydado...» O objectivo desta averiguação que se confia aos párocos é saber se a cidade se encontra em perigo pela presença excessiva de estrangeiros, ainda que, de modo implícito, as atenções convergessem sobre a colónia portuguesa, como era natural pensar naqueles anos: «Como en tantas ocassiones he representado a esta ciudad y otros particulares a VM el numero excesibo que en ella ay de Portugueses, Franceses y de otras nasiones...»

    Sobre os recenseamentos da confissão, aos quais a historiografia atribui uma grande veracidade, do ano que terminava, verificou-se e recolheu-se informação casa a casa, paróquia a paróquia. O resultado é uma informação tranquilizadora, pois que muitos deles se encontram casados e estabelecidos na cidade:«Lo que alcanzamos del numero de extranjeros desta Zuidad hallarse muchos cassados y avecindados en ella. Junto com el estado y disposición de las cossas, parece que ay poco que Recelar de las Naciones».Viver em Sevilha e estar casado com uma espanhola não era o mesmo que ocupar o posto de soldado em presídios como os das Canárias, os dos arquipélagos portugueses da Madeira e Açores, etc., pelo que uma das primeiras preocupações em 1640 foi substituir os elementos portugueses da guarnição, chegando-se inclusivamente a duvidar da lealdade dos espanhóis casados com portuguesas(14). Devemos finalmente precisar que o conceito de natural se restringe, como pode observar-se, aos habitantes do reino de Castela e não como noutros inventários em que se estende aos súbditos do império na Itália e na Flandres(15)

    2. Distribuição da população

    a) A população sevilhana em 1642

    O total de vizinhos de Sevilha para este ano é de 31 214. Comparando-o como de 1588 verifica-se um crescimento de 4228 vizinhos em 54 anos(16). Se utilizássemos um coeficiente de 4,7, que é o sugerido por Domínguez Ortiz, obteríamos um total de 146 705 habitantes que seriam, no entanto, alguns milhares mais, se fosseincluído o clero(17). Mesmo fazendo uma estimativa por baixo, Sevilha poderia contar,em 1642, com mais de 130 000 habitantes. Para compreender a distribuição do número de vizinhos entre naturales e de otras naciones pode observar-se o quadro junto — 81,7% corresponde aos naturais e 18,73% à população estrangeira(...)


    (...)Se o quadro é suficientemente descritivo pode acrescentar-se que parece destacar-se a presença de uma colónia portuguesa muito superior aos números que tradicionalmente se apresentavam. Contrapondo-se às 2000 famílias portuguesas(18), temos 3808, número realmente importante, que, a ser correcto, justificaria o alarme da população perante um possível ataque português. Em segundo lugar devemos notar o número de franceses, 835 vizinhos, muito inferior aos portugueses. O inventário de 1665 sobre os homens aptos para a guerra, apesar de faltarem cinco paróquias, colocaria, contudo, os franceses em franca vantagem(19). Finalmente merece destaque o grupo ãos escravos em franco decréscimo em relação ao século anterior (20). O resto dos estrangeiros não nos dá números significativos, embora biscainhos, flamengos e genoveses estejam acima dos 100 vizinhos. Se os considerarmos globalmente, eles representam 1,34% do total dos vizinhos de Sevilha.

    b) Distribuição por paróquia

    O total da população não se encontrava distribuído uniformemente pela cidade. Observa-se uma concentração nas paróquias maiores e centrais, centros económicos da cidade, como Santa Maria la Mayor, Santa Ana e San Salvador, com 5470, 3129 e 2778 vizinhos, respectivamente. Estas, juntamente com as igualmente importantes paróquias de La Magdalena e Omnium Santorum, continham quase 50% da polação sevilhana de 1642. Comparando-as com o número conhecido para 1588, observa-se um crescimento em três delas, excepto nas de Santa Ana e Omnium, onde a população se estabilizou(21). No extremo oposto temos as paróquias mais pequenas de Santa María la Blanca e de San Juan de Acre, com 231 e 89 vizinhos. A primeira cresceu desde 1588, a segunda vê a sua população estabilizar-se.(...)

    (...)A população continua a concentrar-se praticamente nas mesmas paróquias quejá tinham um maior número de habitantes desde o primeiro terço do século XVI, embora agora Santa Maria la Mayor seja nitidamente a mais povoada (22). Estas paróquias, com excepção de San Vicente, substituída por San Gil, são também as que têm um maior número de estrangeiros; Santa Maria la Mayor com 1403 vizinhos estrangeiros representa 17,8% do total e 18% da sua paróquia; San Salvador, com 843, representa 14,2% (30% da sua paróquia); Omnium Santorum, com 428, 7,3% do total e 24,7% da sua paróquia; La Magdalena, com 348,6, 8% do total e 19% da sua paróquia; San Gil, com 312, 5,3% do total e 21 % da sua paróquia; e, finalmente Santa Ana, com 280, 4,7% e 8,9%, respectivamente.

    Existiam estrangeiros em quase todas as paróquias: portugueses e escravos aparecem em todas bem como franceses, excepto em San Julián e em San Juan de Acre. No tocante às colónias mais pequenas, a dos flamengos era a que se encontrava mais distribuída (14 paróquias), seguida pela catalã e pela genovesa em 11 e 10 paróquias respectivamente. No entanto a sua presença devia parecer maior em paróquias pouco extensas onde representavam mais de 30% do total. É este o caso de San Nicolás (46,86% de estrangeiros), Santa María la Blanca (39,82%) e Santa Cruz (33,94%). No extremo oposto, onde os estrangeiros eram menos representativos, encontram-se San Juan de Acre (94,38% de naturais), San Roque, com 93,62% de naturais (23) e SantaAna (91,05%).

    c) Distribuição por paróquias das colónias portuguesa e francesa e dos escravos.

    A população portuguesa pode dividir-se em três grupos. Com mais de 200 vizinhos estariam San Salvador [646], Omnium [371], La Magdalena e San Gil [286]e Santa Ana [205]. Nelas concentrar-se-iam 62% do total de portugueses, comdestaque para San Salvador. Um segundo grupo, entre 200 e 50 vizinhos, seria formado por: Santa Lucía[122], San Lorenzo [110], San Isidro [102], Santa Catalina [99], San Nicolás [98],San Martín e Santa Cruz [86], San Andrés [79], San Esteban [67], San Bernardo [66],Santa María la Blanca [56], San Julián [52] e San Bartolomé [50]. Um total de 13 paróquias com 28% do total. Por fim, os restantes 10% viveriam em Santa Marina [46], San Roque [40], SanMiguel [37], San Juan de la Palma [35], San Vicente [27], San Román [25], Santiago el Viejo [21] e San Juan de Acre [3]. Mais de metade da população francesa estavablocalizada em Santa María la Mayor [233], San Salvador [89], Santa Catalina [61]e La Magdalena [54].A população escrava concentrar-se-ia igualmente em Santa María la Mayorcom 112 indivíduos, na sua maioria mulatos e negros24, San Salvador [79], SanMiguel [73], San Vicente [58], Santa Ana [55] e La Magdalena [54].

    O grosso da população estrangeira concentra-se, então, em cinco ou seis paróquias que coincidem com as que contam com mais portugueses. Os franceses têm Santa María la Mayor e San Salvador como paróquias mais significativas, a que há que acrescentar Santa Catalina. Entre as paróquias com escravos aparece como novidade San Miguel. Santa Maria la Mayor e Santa Cruz seriam as com maior número de biscainhos, San Isidro de flamengos e os genoveses estariam estabelecidos sobretudo em Santa María la Mayor e Santa María la Blanca. Em jeito de conclusão podemos afirmar, em primeiro lugar, que o recenseamento de Santelizes patenteia a dinâmica da população sevilhana que, na primeira metade do século XVII, está em claro crescimento em comparação com os finais doséculo XVI. Este incremento teria possivelmente como factor decisivo a chegada de imigrantes, entre os quais os portugueses ocupariam um lugar destacado. O estudo de Garcia Baquero sobre a paróquia de San Martin corrobora esta avaliação. Efectivamente, na dita paróquia os lusitanos constituíam o segundo grupo, logo a seguir aos da planície sevilhana. O grau de exactidão deste recenseamento, que representa um total de população para cidade bastante superior ao indicado até à data, pode avaliar-se tendo em conta os objectivos e o método utilizado para a sua elaboração.

    (...)

    Tradução de Nuno Miguel Camarinhas


    PENELOPE
    FAZER E DESFAZER A HISTÓRIA
    PUBLICAÇÃO QUADRIMESTRAL — N»9/10 • 1993
    DIRECTOR
    A. M. HESPANHA




    Não me foi possível inserir os quadros estatísticos nem as notas explicativas pelo que, para melhor compreensão, recomendo os foristas a consultar o artigo integral em http://www.penelope.ics.ul.pt/indice..._SMelendez.pdf
    Última edición por Irmão de Cá; 18/09/2009 a las 20:07
    res eodem modo conservatur quo generantur
    SAGRADA HISPÂNIA
    HISPANIS OMNIS SVMVS

  2. #2
    Avatar de Michael
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    Re: A colónia portuguesa de Sevilha

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    Nesse tempo em Puerto Rico haviam muitos portugueses, estou a estudar deste tema porque eu creio que eles deixaram certa influencia na fala do pais. Há palavras na fala boricua que parecem ser de origem galego: Pai, Mai, Nene, Nena, Morrinha, lamber, emprestar etc. Há certo som que fazemos quando falamos que também tenho ouvido no portugues peninsular. Tambem se podem ver apelidos como Olivera, Silva, etc. Ainda podem ser galegos... Quem sabe. Numa certa ocasião o bispo fray Damião Lopes de Haro disse que era preciso expulsar os portugueses da ilha porque tendo-se Portugal independizado de Monarquia dos Áustrias poderiam eles ficar-se com a ilha. Muito interessante isto.
    Última edición por Michael; 01/02/2013 a las 17:15

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