Bem, numa aula de filosofia, a minha professora colocou um texto de Popper, onde ele dizia que o Estado vinha antes da Nação, e que o nacionalismo era ridículo, pois não existe nenhuma exigência moral em o Estado reclamar "os territórios colonizados pela Nação", pois se veio antes dela não é herdeiro de tal. Fiquei algo confuso com o tema e cheguei à seguinte opinião.
A Nação veio antes do Estado, e o Estado é o corpo dela. Cabe ao Estado assegurar a integridade da nação, unindo sob a sua tutela os povos que partilhem uma lingua, religião e tradições, ou sejam, que façam parte da Nação. O Nacionalismo faz todo o sentido pois em nada tem que ver com o Estado. O Nacionalismo exalta a Nação, não o Estado (eu posso ser nacionalista, sem concordar com o modelo do Estado Português, por exemplo). Por isso peço que me iluminem neste tema, terei razão no que digo? (É que afinal esta professora também disse que só a Ciência é verdadeira pois recorre a raciocinios lógico, e que a Religião se baseia em sincretismos, e numa mentalidade pré-lógica, por isso, caros amigos, vejam como facilmente alguém pode ser induzido em erro).
"Tudo lhes pertence e nos cabe, porque a Pátria não se escolhe, acontece. Para além de aprovar ou reprovar cada um dos elementos do inventário secular, a única alternativa é amá-la ou renegá-la. Mas ninguém pode ser autorizado a tentar a sua destruição, e a colocar o partido, a ideologia, o serviço de imperialismos estranhos, a ambição pessoal, acima dela. A Pátria não é um estribo. A Pátria não é um acidente. A Pátria não é uma ocasião. A Pátria não é um estorvo. A Pátria não é um peso. A Pátria é um dever entre o berço e o caixão, as duas formas de total amor que tem para nos receber."Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal
Ó Imperius, antes de mais acho que estás um pouco condicionado pela realidade tradicional de Portugal, o chamado Estado-Nação. Digo tradicional pois hoje em dia, com a soberania partilhada que existe na União Europeia, de países pequenos como Portugal não se pode dizer que tenham um Estado soberano, isto é, um estado que é livre de exercer as prerrogativas de poder que são inerentes, por definição.
Pois hoje Estado é isso, uma construção abstracta que define a entidade soberana, a fonte do poder. Só há poucos séculos houve lugar a essa diluição da soberania numa entidade abstracta, como se por prurido iluminista, se tivesse que enquadrar de forma científica - portanto abstracta -a legitimidade real de exercer o poder. Preocupação que de resto favoreceria o fermentar da putrefacta e abominável Revolução.
Por que até aí tudo era certo e fácil de entender: o poder era o Rei... e mais nada. L' Etat c'est moi, dizia Louis XIV le Roi Soleil, enfadado já no início do século XVII destas construções teóricas e abstracções jurídicas, até aí vazias de realidade, quando consideradas à escala de um país. Estado até essa altura não designava mais do uma entourage, uma pequena corte ou uma grande corte, um pequeno feudo ou um grande feudo. Viajar em estado: viajar com um pequeno ou grande número de acólitos, de serventes, de pagens, de arautos. Mas sempre, sempre vassalo do Rei.
A Nação congrega tudo o que nascido do país - terra (nação deriva de nascer) faz esse país. Povo, língua, cultura, tradição. Factores de identidade dos seus membros e de identificação perante outros. No caso das nações peninsulares há um ponto suplementar e superlativo a acrescer: o cristianismo, pois é o elemento gerador (recordemos o contexto romano-visigótico do nascimento das nações hispanas) e o factor de ligação de todas elas.
Pois bem: podemos facilmente concluir que o processo de construção das nações peninsulares começa com a conversão cristã da Península e posterior reconquista cristã e que o Estado, na sua definição actual, começa a ser concebido no Iluminismo, advento da Revolução. Sendo que nesta equação há a variável de que um Estado pode titular a soberania de uma nação (Estado-Nação) ou várias nações fica claro que as Nações são prévias aos Estados, que resultam destas.
Última edición por Irmão de Cá; 09/03/2009 a las 21:18
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