Tema: Todas las poesias

TU PELO

Blondo cabello que mece la brisa
como un trigal de amapolas cuajado,
roza mi rostro cual tenue brocado
mientras que siento el cristal de tu risa.

Deja que el céfiro bese sin prisa
esa melena en que brilla el tostado
áureo color de un pajizo dorado
que con el sol, alumbrando, se irisa.

Nunca me canso de ver tu melena,
dulce fetiche que calma mi anhelo
cual talismán que a mi alma serena.

Cuando te observo en la mar bajo el cielo
con tu aureola de hermosa sirena
veo la gloria de Dios en tu pelo.

Antonio Pardal

EL LUCERO

Me gustaría escapar a un lucero
junto contigo tan solo, mi vida,
y descansar en pradera escondida
lleno de paz, con tu amor placentero.

Y repetirte mil veces: te quiero,
solos los dos, en pasión derretida
que mantuviese por siempre encendida
la luminaria de un fiel candelero.

¡Es que tan solo a ti quiero a mi lado!
¡Es que no siento atracción ya por nada
y aquí me siento morir acabado!

¡Vente conmigo, mi luz adorada!
¡Vente conmigo al lucero anhelado
para vivir una eterna alborada!



Antonio Pardal

DISIMULO

Cuando vuelves a casa y te encuentras cansada,
no quiero que aquí halles rescoldos de tristeza
que empañen la alegría de la dulce belleza
que emana de tus ojos. Y cuando enamorada

me abrazas, sonriente, al fin de tu jornada,
encubro la aflicción que ronda mi cabeza,
sacando de mi cuerpo la fuerza de flaqueza
para que tu alma siga feliz e ilusionada.

¡Fue tan grande la dicha que sentimos otrora...!
¡Tus ojos hechiceros aún guardan tal ternura...!
Que no quiero que notes la garra agobiadora

que atenaza mi pecho como una vil conjura,
al saber muy cercana la malhadada hora
en que habré de dejarte inmersa en la amargura.

Antonio Pardal

AQUELE QUE APROXIMA OS QUE SEMPRE ESTARÃO

Cecília Meireles

Aquele que aproxima os que sempre estarão
distantes e desunidos
e separa os que pareceriam
para sempre unidos e semelhantes
enxuga meus olhos
no alto da noite de mil direções.
Encostada a seu peito,
contemplo desfigurada
o negro curso da vida
como, um dia,
do alto de uma fortaleza
vi a solidão das pedras milenares
que desciam por suas arruinadas vertentes.

REPAREI QUE A POEIRA SE MISTURAVA ÀS NUVENS

Cecília Meireles

Reparei que a poeira se misturava às nuvens,
e, sem pôr o ouvido na terra,
senti a pressa dos que chegavam.
Disse-me de repente: "Eis que o tropel avança".
Mas todos me olhavam como surdos,
e deixavam-me sem responder nada.
Vi as nuvens tornarem-se vermelhas
e repeti: "Eis que os incêndios se aproximam".
(Mas não havia mais interlocutores.)
"Eles vêm, eles não podem deixar de vir",
balbuciei para a solidão, para o ermo.
E já por detrás dos montes subiam chamas altas;
ou eram estandartes ou eram labaredas.
Perguntei: "Que me vale ter casa, parentes, vida?
Sou a terra que estremece? ou a multidão que avança?
Ó solidão minha, ó limites da criatura!
Meu nome está em mim? no passado ou no futuro?
Ninguém responde. E o fogo avança para meu pequeno enigma".
Apenas um anjo negro entreabriu seus lábios,
verdadeiramente como um botão de rosa.
"Death"
DEATH?
Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando.
Em qualquer língua se entende essa palavra.
Sem qualquer língua.
O sangue sabe-o.
Uma inteligência esparsa aprende
esse convite inadiável.
Búzios somos, moendo a vida inteira
essa música incessante.
Morte, morte.
Levamos toda a vida morrendo em surdina.
No trabalho, no amor, acordados, em sonho.
A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente nos consuma
sem a consumir.

MORRO DO QUE HÁ NO MUNDO

Cecília Meireles

Morro do que há no mundo:
do que vi, do que ouvi.
Morro do que vivi.
Morro comigo, apenas:
com lembranças amadas,
porém desesperadas.
Morro cheia de assombro
por não sentir em mim
nem princípio nem fim.
Morro: e a circunferência
fica, em redor, fechada.
Dentro sou tudo e nada.