O novo catecismo é perigoso para a fé

Certa vez, li num blog da Tradição que o novo catecismo, promulgado pelo Papa João Paulo II, é perigoso para a fé. Ao ler uma frase tão forte, frase que reputei de exagerada e talvez até falsa, senti-me quase que indignada e não deixei de fazer algumas reflexões sobre a Tradição, os tradicionalistas e os perigos a que estamos sujeitos.

Não obstante considerar que o novo catecismo tem de facto ambiguidades e imprecisões, e por isso mesmo preferir o sempre infalível Catecismo de Trento na exposição da sã doutrina católica, não acreditava ser possível que um catecismo, autoridade de doutrina, pudesse conter heresias ou frases com sabor de heresia. Acreditar em tal coisa era para mim um absurdo, pois considerava que um catecismo jamais pode apresentar erros contra a fé. Mais, não acreditava que bons católicos, meus amigos, pessoas inteligentes e de boa doutrina, dessem tanto assentimento de fé a um catecismo com erros doutrinários. Assim sendo, não dei grande crédito – confesso – aos bons católicos que me alertaram contra a maldade intrínseca do novo catecismo, nem levei em conta o eventual perigo para a fé dos simples que este catecismo podia acarretar.

Todavia, e porque sempre me moveu um grande amor à verdade e a busca incessante da mesma, resolvi reler o novo catecismo – já o havia lido noutra ocasião e, além das ambiguidades, nada tinha encontrado de chocante. Li mal!

Pois bem, ao reler todo o catecismo (o compêndio é outra história, para outro post, mas é melhor que o Catecismo), não pude senão constatar o meu grave erro. Enganei-me. O catecismo da Igreja católica é, de facto, perigoso para a fé, pelo menos para a fé dos mais simples, dos menos instruídos na doutrina de Nosso Senhor. Ora tendo em vista que um catecismo é o documento do magistério onde melhor está plasmada toda a doutrina, pressupõe-se que, além da obrigatoriedade de se expressar com a máxima clareza (isso eu já sabia que não era o caso), há também a grave obrigação de defender a doutrina integralmente, sem misturá-la com os erros modernistas que vingaram após o maçónico Concílio Vaticano II. Se um catecismo autorizado pela nossa santa mãe Igreja tem erros doutrinais, o que dizer? Um catecismo não é uma encíclica papal. A fé dos mais pequeninos, dos mais simples, tem que ser preservada. Por outro lado, o Catecismo é altamente nocivo para quem desconhece ou tem poucas noções da fé católica, sendo que, por se tratar disso mesmo, de um catecismo, deveria ser o contrário.

Jamais sequer imaginei, nunca me passou pela cabeça, ver-me obrigada a afirmar que um catecismo da minha santa e amada Igreja tem erros doutrinais. Estamos perante a abominação da desolação.

Para começar, o Catecismo cita mais o Concílio pastoral Vaticano II do que o dogmático e infalível Concílio de Trento. E aqui é legítimo que me (e vos) interrogue: se efectivamente era necessária uma mudança no catecismo, devido particularmente a novas realidades como a contracepção, o aborto, o divórcio, a eutanásia e a investigação com células embrionárias; se realmente tinha que haver uma mudança, então por que não aproveitar tudo de bom que o catecismo de Trento – resumido no de São Pio X – tem? Porquê recorrer à linguagem ambígua e dúbia do Vaticano II? Por que razão/razões o Concílio de Trento – e o seu catecismo – é citado muito menos vezes que o sacrossanto, extraordinário e aglutinador Vaticano II? Se o Vaticano II não pretendeu romper com a Tradição, como incessantemente nos dizem; se o Vaticano II não se constituiu como uma ruptura com o passado; se não pretendeu criar uma nova religião, então por que motivos foram os documentos conciliares e não os infalíveis e dogmáticos da Tradição a servir de base a todo o catecismo?

Tem-se a impressão de que é a Tradição que deve ser interpretada à luz do Concílio e não o contrário! Com efeito, a menos que eu seja de facto muito «burra» e não esteja a analisar correctamente a questão, a sensação com que se fica, quer para o caso do novo catecismo, quer para a demolição litúrgica chamada missa nova, é que o que se pretendeu foi criar tudo de novo, romper com o passado, abandonar a Tradição, sempre sob pretexto de voltar às origens do Cristianismo. Ah claro, a Igreja errou ao longo destes séculos todos obscurantistas. Atacam-nos por negar a assistência e actuação do Espírito Santo no Concílio, num Concílio que, ainda para mais, contou com a adesão de todos os bispos do mundo. Repetem, ad nauseam, este argumento falacioso, sem sequer se darem conta da incoerência que professam.

Das duas uma: ou o Espírito Santo foi elegante, retirando-se de decisões para as quais não foi ouvido; ou então enganou-se antes, nos tempos de São Pio X, Leão XIII, Pio XI e demais papas que lutaram contra a praga do liberalismo e das outras heresias infiltradas na Igreja. O que não aconteceu, certamente, foi o Espírito Santo contradizer-se. Ou admitem que errou antes e aí têm que dizer que a Igreja santa não é indefectível; ou confessam que estas famigeradas decisões conciliares não são obra do Santo Espírito de Deus. Deixem-se de dialécticas. Contradições, contradições e mais contradições. Ginásticas, ginásticas e ginásticas. Acrobacias, malabarismos e sofismas. Vale tudo, mesmo negar o óbvio e obscurecer a verdade. É mais cómodo fechar os olhos e fingir que não se vê, dá menos chatices e dores de cabeça. Ou então, no caso dos modernistas que julgam ser católicos, o facto de terem gostado das novidades mas se intitularem católicos obriga-os a colocar uma carapaça de ortodoxia ao Concílio, para terem tranquila a sua consciência e se julgarem ainda bons católicos, mesmo gostando das novidades heréticas. Deus não dorme!

Por muitas voltas que dêem com a hermenêutica da continuidade, a simples constatação dos factos – como os motivos que levaram à promulgação deste catecismo – diz-nos que, muito longe de se terem conservado na Igreja as venerandas tradições que recebemos dos nossos antepassados na fé, procurou-se desesperadamente, a todo o custo, inovar tudo, criar tudo de novo.

O novo catecismo pouco ou nada aproveitou do anterior; a deforma da liturgia foi uma revolução autêntica. Honestamente, sem dialécticas e grandes ginásticas, alguém me sabe explicar onde está a continuidade? O que é que permaneceu de católico nas Igrejas, nas universidades, na teologia, nos corações, depois do famigerado Concílio? Além da fachada, das aparências, o que há de católico nos bispos portugueses? Um conjunto de crenças, não estou a negar que tenham; mas daí a ter a fé católica integral, vai uma longa distância.

Vamos então ver alguns erros do catecismo.

Nem é preciso alongar-me muito, visto o post já estar a ficar maior do que seria desejável.

Se por uma só heresia se contamina a boa obra, vejamos o que o novo catecismo, tolerante e alinhado com a heresia do faz-de-conta que todos são bons, diz sobre o maldito e falso ecumenismo indiferentista do Concílio:
§818 Os que hoje em dia nascem em comunidades que surgiram de tais rupturas "e estão imbuídos da fé em Cristo não podem ser argüidos de pecado de separação, e a Igreja católica os abraça com fraterna reverência e amor... Justificados pela fé recebida no Baptismo; estão incorporados em Cristo, e por isso com razão são honrados com o nome de cristãos e merecidamente reconhecidos pelos filhos da Igreja católica como irmãos no Senhor".

Este parágrafo é a reprodução fiel de uma passagem do ponto três do decreto conciliar sobre o ecumenismo, Unitatis Redintegratio. É, portanto, a reprodução das mesmas heresias, dos mesmos erros, que já deveriam ter sido corrigidos há muito.

A Igreja abraça-os com fraterna reverência. Que se dissesse amor, carinho, ternura, sei lá o raio-que-os-parta! Mas reverência? Primeira ambiguidade que, no mínimo, causa alguma perplexidade.

Depois, os hereges – devidamente conscientes da sua heresia, contumazes e obstinados – não têm a culpa do pecado de separação. Além disso, estão imbuídos da fé em Cristo. Meu Deus.. tantos erros num só parágrafo! É de bradar aos céus como um decreto conciliar, posteriormente corroborado por um catecismo, pode defender tamanhas absurdidades.

Vou tentar explicar, embora me queira parecer que o absurdo destas afirmações é óbvio para todos.

O catecismo de São Pio X, baseado no infalível e inerrante catecismo Romano, também chamado catecismo do Concílio de Trento, diz que cristão é aquele que professa a doutrina de Cristo. Mais à frente, a quando da explicação dos artigos do credo, diz que a doutrina de Cristo só pode ser ensinada com verdade na Igreja católica.

Este parágrafo da UR e do novo catecismo vem afirmar, porém e contra toda a Tradição cristã, que os hereges, porque nasceram numa qualquer seita (comunidades??????????) não têm culpa do pecado de separação! Claro que não, ainda que mantenham obstinadamente as heresias dos seus pais, não têm culpa de ser hereges! E como as coisas estão nesse pé, os pobres dos hereges, coitadinhos, como não têm culpa de ser hereges (é a deturpação total da Tradição, é a humilhação de todos os papas pré-conciliares) estão incorporados a Cristo. Incorporados a Cristo!!!!!

Engraçado, eu, burra como sou, estúpida e idiota, pensava que o corpo de Cristo era constituído pelos membros da Igreja católica; um corpo que tem membros vivos e mortos, uma igreja que tem uma alma à qual estariam unidos os hereges de boa fé.

Ainda para mais, são justificados no baptismo, pelo que podem, com todo o direito, ser honrados com o nome de Cristãos! E uma vez mais passem-me já um atestado de incompetência, porque eu, na minha mísera condição de alguém que nada entende destas salutares novidades, pensava que São Pio X, no seu valiosíssimo catecismo, nos tinha ensinado que cristão era aquele que professava a doutrina de Cristo, portanto o que se encontra, ao menos de forma implícita, na Igreja católica.

«Justificados pela fé recebida no baptismo»???? O baptismo é um sacramento de iniciação cristã, o primeiro. É verdade que o baptismo confere a graça santificante; é verdade que nos torna filhos adoptivos de Deus e membros da Igreja; é também verdade que apaga em nós o pecado original.

No entanto, o que este parágrafo dá a entender é que:
Primeiro, os hereges não têm a culpa de o ser, não havendo aqui qualquer distinção entre hereges materiais e hereges formais;
Segundo, porque não têm culpa, estão incorporados a Cristo, em situação de comunhão imperfeita com a Igreja. Mentira!!! A partir do momento em que aderem de forma obstinada às heresias da 'comunidade' onde nasceram e cresceram, têm a culpa de não pertencer ao corpo de Cristo. E não pertencem! Dá-se aqui a entender que o baptismo, qual sacramento mágico, não só lhes conferiu o estado de graça como é sinal de que ainda nele se encontram.

O baptismo seria então o sinal infalível de que os hereges foram justificados pela fé que nele receberam! Nenhuma referência a tê-la perdido, pelo pecado de orgulho, de desobediência à Igreja, pelas heresias que professam.

Que dizer, além de que este novo catecismo foi feito para agradar a protestantes e a católicos ecuménicos?

Mas há mais! Ah pois, não pensavam que tinha acabado, pois não?
§855 A missão da Igreja exige o esforço rumo à unidade dos cristãos. Efectivamente, "as divisões entre cristãos impedem a Igreja de realizar a plenitude da catolicidade que lhe é própria naqueles filhos que, embora lhe pertençam pelo baptismo, [como dizem os meus amigos brasileiros: opa!!!!] estão separados da plena comunhão com ela. Não só isso, mas também para a própria Igreja se torna tanto mais difícil exprimir, na realidade de sua plena catolicidade sob todos os aspectos"

Repetem a mesmíssima asneira, é para ficar bem gravada. Os hereges pertencem ao corpo de Cristo pelo baptismo. Isto é uma heresia grave porque, conforme dito acima, pertencem só enquanto hereges materiais, e aqui fala-se em todo o tipo de hereges!

E o que será isto da plenitude da catolicidade naqueles filhos que, não obstante serem hereges, já pertencem à Igreja, portanto já têm os meios de salvação?

Depois ainda dizem que nós é que somos neoprotestantes! A Unitatis Redintegratio e estes parágrafos do novo catecismo é que são claramente neoprotestantes!

Alguém entendeu alguma coisa, desta babel doutrinária, deste imbróglio de conceitos? Catolicidade para cá, estão já incorporados para lá. A isto é que eu chamo usar muitas palavras para não dizer nada ou para dizer o contrário do que era esperado!

A única coisa que este parágrafo diz que se entende, é precisamente o que não deveria cá estar: que os hereges pertencem ao corpo da Igreja pelo baptismo! Repetem a asneirada do decreto conciliar!

Sabemos que um herege é validamente baptizado (em muitas 'comunidades eclesiais' não é), mas daí a dizer que pertence ao corpo da Igreja? No máximo dos máximos, se for herege material, ou seja se nunca teve a oportunidade de conhecer a Igreja ou se a sua ignorância é invencível (e isso só Deus pode saber) está intimamente unido à Igreja, tradicionalmente diz-se à alma da Igreja, mas nunca ao seu corpo!

Meu Deus, até onde se chegou para agradar a protestantes.

E continua a perfídia modernista:
§1636 Em muitas regiões, graças ao diálogo ecuménico, as comunidades cristãs envolvidas conseguiram criar uma pastoral comum para os casamentos mistos. Sua tarefa é ajudar esses casais a viver sua situação particular à luz da fé. Deve também ajudá-los a superar as tensões entre as obrigações que um tem para com o outro e suas obrigações para com suas comunidades eclesiais, além de incentivar o desabrochar daquilo que lhes é comum na fé e o respeito por tudo o que os separa.

Além da treta das comunidades cristãs (implicitamente as seitas protestantes são pequenas igrejas, com elementos de verdade e santidade) e todo aquele blá blá blá diplomático, ainda se incentivam – pelo menos não se desaprovam de forma inequívoca – os casamentos mistos!

Ainda me lembro, e justiça lhe seja feita, de ouvir o professor Felipe Aquino a desaconselhar casamentos mistos entre católicos e hereges protestantes. O problema desta gente é defender uma coisa mas, ao mesmo tempo, aderir ao novo catecismo, fingindo que não sabem que são mais papistas que o Papa.

A pastoralidade do Vaticano II foi uma das maiores desgraças destes tempos. Pastoral dos recasados, pastoral dos jovens (que nem sabem o que é o santo sacrifício da missa), pastoral da saúde (onde se incentiva o uso dos preservativos, asseguro eu), pastoral disto e daquilo e nada de formação doutrinal, moral e espiritual.

Mas como? Como, se é o próprio catecismo da Igreja católica que, em vez de ensinar, contribui para a auto-demolição da Igreja!

As 'comunidades cristãs' envolvidas (a Igreja católica igualada com as seitas, é mais uma comunidade cristã como as outras) desenvolveram, graças ao diálogo ecuménico, uma pastoral comum, de esforços partilhados, para os casamentos mistos. Esta pastoral, longe de querer converter os hereges à única fé salvífica, propõe-se ajudar os casais a viver a sua situação particular à luz da fé (que fé? A católica e a das falsas doutrinas? Então as doutrinas falsas têm a fé integral? Ou terão só um conjunto de crenças que não é a fé cristã? No novo catecismo parece que a noção de fé não é a mesma que nos catecismos precedentes. Já não se trata da adesão da inteligência e da vontade à verdade divinamente revelada, mas uma confiança em Cristo. Uma crença nalgumas verdades já é o bastante para se ter fé!).

Esta pastoral tem então como missão ajudar os casais a viver a sua situação particular à luz desta fé tão peculiar, além de também se esforçar por ajudá-los a conciliar as suas obrigações um para com o outro com as obrigações de cada um com a sua comunidade! Ou seja, em vez de haver uma pastoral de catequização do cônjuge que está na falsa doutrina, há uma pastoral destinada a ajudar o herege a não só se manter na sua 'comunidade' como a ter bem presente as suas obrigações perante ela! Sim senhor, estamos bem estamos.

Mas o mais grave vem agora. E isto, por muita ginástica que façam, ninguém pode tirar do catecismo, sem deturpar a intenção com que foi escrito.

Outra função da tal pastoral indiferentista e abominável é «incentivar o desabrochar daquilo que lhes é comum na fé e o respeito por tudo o que os separa». Leram bem? É possível que uma heresia destas possa estar plasmada num documento magisterial, sobretudo se for um catecismo?

Imagino que o que os une na fé será a leitura partilhada das Sagradas Escrituras, leitura essa cuja interpretação será ao bel-prazer de cada um. Digamos que seria algo como uma partilha de experiências de fé, sendo que a fé de um e o conjunto de crenças do outro são incompatíveis!

Tristeza. Não só o herege se mantém na falsa doutrina, como o católico seu cônjuge é estimulado a ser indiferentista face à verdadeira e santa religião.

Mas a última parte da frase é de estarrecer! É de deixar qualquer um, a menos que seja um grande indiferentista, progressista, ecuménico e anticatólico, perplexo! A pastoral deve incentivar «o respeito por tudo o que os separa»!!!!!!!!!!

Não se trata aqui de respeitar as pessoas que estão no erro, não se trata de corrigir, nem de um esforço no sentido de ajudar na conversão do outro, não!!! Aqui fala-se de respeito pelas ideias erradas, pela falsa doutrina, «por tudo o que os separa»!

Vale aqui o velho aforismo: «o erro não tem direitos»! Nem as pessoas têm o direito a errar. Pode dizer-se que, ainda que o erro não tenha direitos, as pessoas têm. Pois têm, mas não o direito a errar!

Mas aqui nem se defende o direito do erro às pessoas, o que, por si só, já seria bastante grave. Defende-se mesmo o respeito pelas ideias erradas do outro!

Será que os católicos fiéis do falsitatis, por caridade, mas mesmo por caridade, poderiam rebater esta afirmação do catecismo? Poderiam, com verdade, com lealdade, dizer-me que o catecismo está certo? Que o ecumenismo do Vaticano II é de conversão, depois de ler este grande erro contra a fé?

Respeito por tudo o que os separa. É o indiferentismo em estado puro. É a abominação da desolação que um catecismo católico possa afirmar tal coisa.

De facto, este catecismo é perigosíssimo para a fé.

Continua