As máfias da nossa emigraçom

Aqui também havia "máfias" e "efeito chamada"

É terrível ver aos emigrantes que venhem morrer diante da nossa porta mediática mentres ignoramos os milheiros deles que morrem de fame e enfermidades nos seus países. Falamos de "máfias" e mais do "efeito chamada", quando a nossa própria história, aí atrás, a volta do século passado, podia-nos explicar, se quixése-mos, muitas cousas.

Na galiza a emigraçom foi além mar. Só aqueles que podiam pagar a pasagem, bem com dinheiro das suas famílias, bem pedindo-lhe o dinheiro a amigos ou conhecidos, com a promesa de mandar-lhos de volta, bem empenhando as terras num banco, podiam emigrar.

Os pobres de verdade tiverom que aguardar até que foi posível emigrar ao resto de Europa ou a outras cidades do Estado. Temos assim que os mapas da emigraçom na Galiza variam considerabelmente ao longo do século XX.

Nom é casualidade que, no primeiro terço dos anos novecentos, os partidos judiciais que mais emigrantes mandarom cara América fosem Betanços e Chantada. Ambos estavam muito por cima da média de riqueza galega. Tanto que contavam cumha pujante banda local, a Echevarria e a de Soto, respectivamente. Os empréstimos destas bancas eram os que lhes permitiriam a muitos emigrar, empenhando as terras.

Encargabam-se de mercar a maleta, pasagem, viagem ao porto, comida e aluguer até que marcha-se o barco. Sobre duas mil pesetas nos anos vinte desde Chantada.

Nos anos cinquenta e sesenta, a emigraçom concentrou-se, sobre tudo, nos concelhos mais pobres, maiormente nas montanhas de Ourense e Lugo, que, tradicionalmente ja emigravam temporalmente a Castilla.

Efeito chamada

Fala-se agora das "máfias" africanas, algumhas em conexom com as ibéricas, que som as que arranxam e incentivam a emigraçom ilegal. Esquecem que a banca galega medrou quase exclusivamente a começos do século XX graças a prestar-lhes o dinheiro aos emigrantes e, mais tarde, com as remesas de divisas que estes enviavam. Desde o Banco Pastor ao Banco Echevarria, o de Soto, o de Vigo, o de Crunha... Mais tarde as caixas de aforro que investiam este dinheiro em industrias e negócios de Euzkalerria e Catalunya. Os nossos trabalhadores iam detrás do dinheiro dos seus vizinhos.

Outras muitas famílias, consignatarias de buques ou prestamistas (ponhiam o dinheiro das leiras que aqui vendiam na emigraçom, mercavam aqui as leiras e traiam o dinheiro de fora sem passar por alfándegas e bancos...), amasarom também inmensas fortunas com o negócio da emigraçom. Nom há mais que olhar o ensanche vigués para comprovar o negócio e as fortunas, algumhas começadas como fundas ou casas de comidas. Os seus descendentes falam agora de "máfias".

Para acentuar ese "efeito chamada", criarom-se meios de comunicaçom ao efeto que gabavam a oportunidade de abrirse caminho e fazer-se ricos nos paises americanos. Assim funda-se Faro de Vigo. La voz de Galicia quando passou a ser sociedade anónima deu um giro editorial e começou a pular também pola emigraçom como panacea para Galiza.

Os outros jornais que forom saindo a rua seguirom mais ou menos idéntica linha editorial de apoio a emigraçom, em consonáncia com os intereses dos seus donos. Só A Nosa Terra e alguns voceiros locais forom críticos com esta política incentivadora da emigraçom.

Muito ao contrário do que ocorria polas mesmas datas na península itálica e nas ilhas mediterráneas, onde se produzia um auténtico debate sobre o feito em si da emigraçom: era negativo ou beneficioso para o país. Mas os jornais que estavam em contra da emigraçom também alertavam das dificultades que se iam atopar ao chegar a Argentina ou aos EEUU. Citavam casos de emigrantes que o estavam a passar mal e ainda faziam ver os perigos da travesia oceánica.

As mortes na mar

Certamente que os nossos emigrantes nom iam em pateiras ou caiucos, senom em buques da carga preparados para levar gente, ou em transatlánticos com ínfimas condiçons. As travesias de mais de quince dias eram penosas nos solhados de terceira, polo amoreamento, as malas condiçons higiéncias, a pouca água e comida e ao nom estar afeitos a viaxar pola mar. Tudo isto agravado por umha situaçom mental que os conduzia à depresom que muitos confundirom com a morrinha.

Segundo alguns autores, com dados nom bem difundidos ainda, as mortes de galegos na viagem ou nos primeiros dias no novo destino superavam o 20%. Um número maior, fam ver, que o dos escravos, pois essa mercadoria tinha dono e valia dinheiro, mentres que a mao de obra galega saia debalde.

Olhamos assim como o número de mortes dos galegos era ainda maior que o dos imigrantes actuais que se disponhem a conquistar a nossa Europa.

E aqui também habia picaresca. Nom todos iam legais. Seguiam a marchar cara a paises que fechavam as suas portas à emigraçom por mor das crises mais ou menos pontoais. Existirom emigrantes que marcharom a Venezuela em pesqueiros. Alguns nom chegarom. Outros sim, como se recordam ja nalgumha placa conmemorativa.

Outros nem sequera chegarom a alta mar. Forom enganados. Saiam à nuite do porto vigués. Davam voltas sem afastarse muito das Cies e eram abandonados nestas ilhas ou, algumha nuite na ilha de Sam Simom.

Nom sabiam os nossos emigrantes ao que se expunham daquelas. Nom. Desconheciam o perigo. Aos cánticos de serea dos meios de comunicaçom e do próprio governo alentando a emigraçom, habia que unir-lhe o efeito chamada dos familiares e vizinhos que se asentavam noutros países.

Se olhamos as cartas que mandavam, podemos comprovar que nunca falavam das penalidades ou minguábanas consideravelmente nos seus relatos. Por raçons óbvias. Nom queriam intranquilizar os seus familiares e amigos e tampouco dar a ideia de fracasados.

Os que vinham de vacaçons espalhavam a propaganda de emigraçom igual a progreso. Eram os que podiam vir. Os outros nom vinham. Alguns nem sequera escribiam. Dos mortos nom havia novas... Até que nunca aparecia o dinheiro para pagar a pasagem ou redimir os foros pero si os bancos que se faziam com as terras.

Mas das misérias a penalidades ninguem se lembra. A versom oficial, ainda instaurada, fala de que os galegos emigrarom por afám de aventura e se fizerom ricos vivendo muito melhor que aqui. E também o que contam os que podem contâ-lo.

É o que lhes está a passar agora a muitos subsaharians. Hoje em dia vende-os o mesmo, tanto no nosso estado como no dos imigrantes, a soluçom nom é apoiar a imigraçom e emigraçom e a perda da identidade das naçons , se nom lutar contra as máfias e caciques dos estados em questom.