Facebook é uma ‘empresa de vigilância’, diz hacker que colaborou no WikiLeaks
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DO RIO
Num painel cheio de convidados engravatados, bem em linha com a formalidade e a seriedade do tema proposto (“Privacidade e Proteção de Dados On-line: Como Empresas, Governos e Usuários Podem Promover a Privacidade On-line”), um dos participantes chamava atenção por seu visual (bermuda, tênis, tatuagens): era Jacob Appelbaum, um dos líderes do Tor Project (software que permite aos internautas se comunicar de forma anônima na rede), ex-porta-voz do WikiLeaks e especialista em informática da Universidade de Washington.
Mas foi quando começou a falar que Appelbaum realmente roubou a cena, transformando-se numa das principais atrações do primeiro dia da Rio RightsCon e fazendo jus à alcunha de “o homem mais perigoso do ciberespaço”, que a revista “Rolling Stone” lhe deu em um longo perfil.
Com um discurso fluido e engajado, o americano atacou todas as formas de controle on-line instituídas por governos e empresas, afirmou que nem questões de segurança nacional deveriam servir como argumento para restrições e vigilância na rede e ainda atacou dois dos patrocinadores da conferência, o Facebook e o Skype.
“O Facebook é basicamente uma empresa de vigilância. Eu o chamo de ‘Stasibook’ [em referência à Stasi, a polícia política da extinta Alemanha Oriental], porque você está sempre espionando e delatando seus amigos.”
Para Appelbaum, o principal problema é que empresas como o Facebook e o Skype limitam propositalmente a segurança e a privacidade de seus usuários, seja porque lucram com seus dados ou porque cumprem exigências governamentais.
“Sob pretexto de segurança nacional, são criadas backdoors nos sistemas [para que os usuários possam ser rastreados] que podem ser usadas por outras pessoas. Os usuários estão sendo colocados em risco pelo próprio governo. Não deveríamos enfraquecer o sistema por causa da segurança pública.”
Por causa desse acesso governamental aos dados dos cidadãos, o americano disse que “cada vez que você liga para seus amigos via Skype, está colocando-os em risco.” “Deveríamos rejeitar essas empresas que comprometem nossa segurança e usar outros mecanismos, como os que permitem ligações encriptadas de ponta a ponta, trocas de mensagens seguras.”
Acostumado à vigilância do governo americano (desde que foram divulgadas suas ligações com o WikiLeaks) e às críticas que recebe por conta do Tor Project (que, por tornar os usuários quase irrastreáveis, acaba sendo usado também para venda de drogas e outras atividades ilegais), Appelbaum tem respostas prontas para os ataques mais comuns:
“Maus elementos podem usar o Tor assim como usam celulares, estradas. Censurar a internet não é a forma de lidar com isso. A causa da pornografia infantil não é a internet, são as pessoas que cometem esse crime. Restringir a privacidade on-line não vai acabar com os estupradores de crianças”.
“Essa é uma decisão que precisamos tomar como sociedade: é melhor todos estarmos seguros [ao usarmos tecnologias de comunicação], incluindo alguns dos vilões, do que ficarmos todos inseguros. Cada vez que alguém diz que devemos abrir exceções em direitos fundamentais por questões de segurança, devemos desafiar essa noção. A internet mudou a maneira como lidamos com segurança nacional. Não são apenas os provedores que podem violar a segurança, mas qualquer um com US$ 1.000.”
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