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Tema: O catlocismo é importante para a identidade portuguesa

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    O catlocismo é importante para a identidade portuguesa

    Ser português equivale a ser religioso, e mais concretamente católico: é assim que pensam 68,5 por cento dos cidadãos, segundo os resultados de um inquérito sobre identidade nacional realizado no âmbito do projecto International Social Survey Programme (ISSP). O retrato que emerge é consistente e talvez contrarie a imagem que os portugueses têm de si próprios. Seja no que valorizam como traços constitutivos da identidade ou no que elegem como principais fontes de orgulho, os portugueses estão mais perto da Bulgária do que da Espanha.

    Dos 34 países inquiridos no estudo do ISSP (o lado português do estudo esteve a cargo do Instituto de Ciências Sociais), Portugal está em sétimo lugar na importância dada à religião como elemento definidor da identidade nacional. Na União Europeia, só é ultrapassado pela Polónia e Bulgária. No resto do mundo, pelas Filipinas, por Israel, pela África do Sul e pela Venezuela.

    O historiador José Sobral (um dos coordenadores do estudo, com o sociólogo Jorge Vala) vê na identificação dos portugueses com a religião um produto tanto do passado distante como da história recente. Recuando à época medieval, os portugueses viam-se e eram apontados, nas narrativas nacionalistas, como tendo uma relação especial com Deus: “eram uma espécie de povo escolhido, a quem fora dada a missão de espalhar a fé pelo mundo. Este sentimento foi reforçado durante a expansão imperial”, frisa Sobral.

    Apesar do abanão da I República, o catolicismo voltou a florescer no Estado Novo, tendo-se reconstituído como um pilar do “nacionalismo oficial”, promovido por Salazar. Sobral chama a atenção para a Espanha. É revelador que, apesar dos reis católicos e da conquista, da guerra civil, do longo reinado de Franco e da relação especial que este manteve com a Igreja católica, apenas 44,2 por cento dos espanhóis acreditam hoje que ser religioso é um atributo significativo da sua identidade. Em França e nos países nórdicos, esta percentagem está abaixo dos 20 por cento.

    Born in Portugal
    Para João Leal, antropólogo da Universidade Nova de Lisboa, também especialista em questões de identidade, o lugar simbólico ainda ocupado pela religião entre os portugueses foi o resultado que mais o surpreendeu no inquérito realizado em 2003, e cujos primeiros resultados foram apresentados no ano passado.

    Os portugueses privilegiam como atributos maiores da identidade nacional um lugar subjectivo (o sentir-se português) e o conhecimento da língua; no entanto, estão muito acima da média europeia na importância que dão, como traços constitutivos da identidade nacional, ao ter-se nascido no país e contar com antepassados nacionais.

    Nesse indicador, estão na frente da tabela, emparelhando com as Filipinas, Venezuela, África do Sul e Polónia. No extremo oposto, frisa José Sobral, situam-se a Austrália, Canadá e os EUA, países com muitos cidadãos descendentes de imigrantes.

    Em conjunto com a importância dada à religião, estes dados dão forma a uma “concepção fechada” da identidade nacional, descrita pelo antropólogo como “uma resposta, uma reacção crispada, à crescente abertura do país”, tanto no que respeita aos imigrantes como à integração na UE. Leal não considera contudo que se possa concluir que os portugueses são mais patrióticos ou mais nacionalistas do que a média europeia. O que é diferente é o tipo de relação com a ideia que fazem de Portugal.

    É o que revela o outro bloco do inquérito do ISSP, que se debruçou sobre as fontes de orgulho nacional. Aí, Portugal está entre os cinco países que mais orgulho manifesta na sua História, em 15º lugar quando se trata de enaltecer os feitos em literatura e artes.
    Nesta postura, Portugal está muito mais próximo de alguns antigos países do Leste, como a Bulgária, a Eslováquia ou a Rússia, do que dos seus pares ocidentais. Para os portugueses, a grandeza continua então a ser pertença do passado.

    Mas o nacionalismo não se esgota nos grandes épicos. Antes, defende o historiador, reproduz-se no quotidiano por via de uma série de manifestações do chamado “nacionalismo banal”. Pode ser a defesa de um vinho, de um azeite, de um prato, de uma música.

    Artigo originalmente publicado no jornal Público. Publicado com permissão.
    Última edición por Imperius; 22/06/2008 a las 17:02

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