Mil Milhões de Dólares Pela Venda Colónias
Artigo escrito por Kátia Catulo para A Capital a 27 de Outubro de 2004.
MIL MILHÕES DE DÓLARES NÃO CHEGARAM PARA VENDER COLÓNIAS
Em Agosto de 1963 um enviado norte-americano chegou a Portugal com um plano debaixo do braço. Commonwealth Plan é o nome do projecto que Chester Bowles apresentou a António de Oliveira Salazar. O diplomata norte-americano propôs ao ex-presidente do Conselho português a autodeterminação de duas colónias portuguesas. Em troca, a NATO oferecia mil milhões de dólares para o nosso país modernizar a economia.. «Portugal não está à venda», foi a resposta de Salazar. Trinta anos depois o encontro é relatado na obra de Whitney Schneider.
No Livro Engaging Africa: Washington and Fall of Portugal's Colonial Empire, o antigo vice-secretário de Estado adjunto para os Assuntos Africanos durante a administração de Bill Clinton, apresenta documentos oficiais e entrevistas com personalidades norte-americanas e portuguesas para sustentar a sua tese. No inicio da década de 60, conta o autor, Bowles entregou uma estratégia dos serviços de espionagem ClA que visava convencer as autoridades portuguesas a aceitar a independência de Angola e Moçambique.
O plano previa que Portugal concedesse a independência destas duas colónias, após um período de transição de oito anos. Durante essa fase, seria organizado um referendo nos dois paises africanos para determinar que tipo de relação haveria entre os três territórios. Os dirigentes dos movimentos independentistas Holden Roberto (angolano) e Eduardo Mondlane (moçambicano) teriam o estatuto de «consultores assalariados» e seriam preparados para tomarem-se nos lideres dos novos paises.
««Para ajudar Salazar a engolir a pílula amarga dadescolonização», os Estados Unidos propuseram que a NATO «oferecesse 500 milhões de dó-lares», escreve Schneider no seu livro. Um ano depois, Chester Bowles duplica a oferta, propondo'que os Estados Unidos concedam mil milhões de dólares durante os oito anos em que deveria decorrer a transição da independência de Angoia e Moçambique, Salazar nem pestanejou : «Portugal não está à venda», respondeu o ditador ao diplomata norte-americano.
Bowles apresentou todos os argumentos. Um «bom negócio diplomático» se os norte-americanos conseguissem resolver o «<feio dilema» de Portugal a um custo de 100 milhões de dólares por ano. Salazar continuou inflexivel. O diplomata norte-americano revelou então as projecções da CIA. A obra de Schneider relata com detalhe as previsões da agência sobre a guerra colonial quando o conflito em Angola estava ainda no início: «Uma derrota militar portuguesa é uma conclusão inevitável se se permitir que a revolta ( ... ) ganhe velocidade e continuidade», adverte o documento da ClA citado pela Agência Lusa.
O relatório do Central Intelligence Agency chegou a questionar se os Estados Unidos poderiam permitir que Portugal «cometesse o suicídio arrastando os seus amigos na mesma via», Burke Elbric, embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, considerado então em Washington como simpatizante do Estado Novo, enviou um telegrama às autoridades norte-americanas, em 1963, onde escrevia que Portugal tinha sobre si a «espada de Dâmocles»: o pais «não é nem suficientemente grande nem suficientemente rico» para enfrentar uma guerrilha em três frentes.
As guerras em África, escreveu o diplomata poderiam significar «o fim do império Lusitano» e do regime de Salazar. Elbric adverte ainda que o derrube do Estado Novo poderia resultar na subida de um governo «consideravelmente mais esquerdista ou neutral». Uma década antes da Revolução de Abril, a ClA avisou que a guerra colonial conduziria a um «aumento do descontentamento interno» que levaria os militares a substituirem Salazar. Em 1964 o Conselho de Segurança Nacional advertiu o presidente Johnson de que as perspectivas de Portugal em África «eram pêssimas»,
«( ... ) é uma certeza que quanto mais a luta durar, mais violenta, racista e infiltrada pelos comunistas se tomará, mais grave será a crise final a que os Estados Unidos farão face e mais caótica e antiocidental será Angola independente», diz o documento. Paul Sakwa, agente da ClA que elaborou o Commonwealth Plan manifestou dúvidas de que Salazar pudesse aceitar o plano «sem o benefício de uma lobotornia frontal». Para o vice-secretário de Estado George Ball, Oliveira Salazar conduzia a política externa de Portugal «como se o infante D. Henrique, Vasco da Gama e Fernando Magalhães fossem os seus conselheiros mais próximos».
"Tudo lhes pertence e nos cabe, porque a Pátria não se escolhe, acontece. Para além de aprovar ou reprovar cada um dos elementos do inventário secular, a única alternativa é amá-la ou renegá-la. Mas ninguém pode ser autorizado a tentar a sua destruição, e a colocar o partido, a ideologia, o serviço de imperialismos estranhos, a ambição pessoal, acima dela. A Pátria não é um estribo. A Pátria não é um acidente. A Pátria não é uma ocasião. A Pátria não é um estorvo. A Pátria não é um peso. A Pátria é um dever entre o berço e o caixão, as duas formas de total amor que tem para nos receber."Cidade do Santo Nome de Deus de Macau, Não Há Outra Mais Leal
Marcadores