Copio y pego una elucidativa contestación del equipo de la Associación Cultural Monforte a la interpelación de un lector sobre las razones por las cuales no presentaban el rosario de 20 misterios en su web. La pregunta y las respostas originales están en portugués, pues se trata de una web brasileña; se pueden encontrar
aqui:
São Paulo, 02 de novembro de 2010
Prezado Alfredo, salve Maria!
Alegra-nos a notícia de que mais um leitor tem gostado do que vem aprendendo em nosso site. Esperamos, assim, ter, em breve, mais um amigo para lutar a nosso lado contra essa terrível demolição – ora em reversão, como assim o parece – pela qual passou a Igreja depois do Concílio Vaticano II.
Por favor, não deixe de rezar por nosso pequeno apostolado, sobretudo, agora, após a perda de nosso querido Prof. Orlando.
Em relação a sua primeira dúvida sobre os “Mistérios Luminosos”, confirmo a existência deles. São fruto de uma sugestão do Papa João Paulo II exposta em sua carta apostólica Rosarium Virginis Mariae, de 16 de outubro de 2002, por meio da qual ele lançou o Ano do Rosário (outubro de 2002 a outubro de 2003), como fez semelhantemente o Papa Bento XVI há pouco com o Ano Sacerdotal.
Ora, por que, então, eles não constam no site Montfort?
Em primeiro lugar, devemos ter bem claro que se trata de uma mera proposta, feita em primeira pessoa, por parte do Papa João Paulo II a seus fiéis e, de modo algum, de uma imposição, que deva ser necessariamente aceita.
Como diz a Rosarium Virginis Mariae em sua tradução portuguesa oficial:
“Considero, no entanto, que, para reforçar o espessor cristológico do Rosário, seja oportuna uma inserção que, embora deixada à livre valorização de cada pessoa e das comunidades, lhes permita abraçar também os mistérios da vida pública de Cristo entre o Baptismo e a Paixão” (§19).
(O texto latino é ainda mais claro, pois, sem a conjunção concessiva, diz “(...) libero singulorum atque communitatum iudicio relictam (...)”; “(...) deixada ao livre juízo dos particulares e das comunidades (...)”. Ou seja, fala-se de liber iudicius (libero iudicio, no dativo singular) e não simplesmente de livre “valorização”).
Portanto, o não acatamento da proposição dos “Mistérios Luminosos” não implica nenhuma desobediência, sendo essa, inclusive, uma posição protegida pelo próprio propositor.
Estabelecido esse parâmetro de discussão, a partir de nosso liber iudicius, aventamos os seguintes motivos para não incorporarmos os novos mistérios em nossa prática do rosário.
Do ponto de vista extrínseco, evocamos a antiguidade multissecular de sua organização em cento e cinquenta (150) Ave Marias. O Rosário, Alfredo, tal como o conhecíamos em sua forma exclusiva até 2002, já existia na Igreja há quase oitocentos (800) anos!
Além disso, como inferimos do relato de São Luís de Montfort no Segredo Admirável do Santíssimo Rosário, ele não foi surgindo de maneira gradual na história, sendo incomuns, portanto, aperfeiçoamentos em sua forma, mas foi dado e ensinado diretamente por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão quando de suas pregações entre os albingenses no início do século XIII.
Por isso, a julgar pela antiguidade e constância dessa forma do rosário, soa estranha sua alteração. Ainda mais quando, Nossa Senhora, no início do século XX, em Fátima, instou-nos simplesmente a rezar o terço (e não o quarto) todos os dias. Ou seja, não houve uma nova instrução por parte dela sobre como deveríamos praticar a devoção do rosário. Para São Domingos, ela disse que se rezasse o “saltério da Virgem”, clara alusão ao conjunto dos salmos, que são cento e cinquenta (150) e não duzentos (200).
Por fim, não podemos deixar de mencionar que o Papa João Paulo II poderia muito bem ter criado uma nova prática devocional, em que se meditassem os tais mistérios luminosos, em vez de sugerir a reforma de algo, vindo das mãos de Nossa Senhora, que já existia há tantos séculos de uma mesma forma.
Outrossim, podemos fazer algumas críticas intrínsecas aos “Mistérios Luminosos”, que nos levam, dentro de nossa liberdade particular, a não incorporá-los.
Como você deve ter visto, os novos cinco mistérios propostos pelo Papa João Paulo II são (Rosarium Virginis Mariae, §21):
1. O batismo (de Cristo) no Jordão;
2. Sua auto-revelação nas bodas de Caná;
3. Seu anúncio do Reino de Deus com o convite à conversão;
4. Sua transfiguração;
5. A instituição da Eucaristia, expressão sacramental do mistério pascal.
Ora, uma primeira observação a se fazer sobre eles diz respeito ao surgimento de uma grande novidade quanto ao modo de se enunciar um mistério. Se você atentar para o terceiro mistério luminoso, vai perceber que ele não evoca um evento histórico preciso, ao contrário do que sempre foi feito. Veja:
Mistérios Gozosos:
1. A anunciação do anjo São Gabriel a Nossa Senhora;
2. A visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel;
3. O nascimento do Menino Jesus em Belém;
4. A apresentação do Menino Jesus no Templo;
5. A perda e o reencontro de Jesus no Templo entre os doutores da lei;
Mistérios Dolorosos:
1. A agonia mortal de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras;
2. A flagelação de Nosso Senhor Jesus Cristo;
3. A coroação de espinhos de Nosso Senhor;
4. O carregamento da cruz rumo ao calvário;
5. A crucificação e morte de Cristo na cruz;
Mistérios Gloriosos:
1. A ressureição de Nosso Senhor Jesus Cristo;
2. A gloriosa ascensão de Cristo aos céus;
3. A descida do divino Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora no Cenáculo;
4. A gloriosa assunção de Nossa Senhora aos céus;
5. A coroação de Nossa Senhora como rainha dos céus e da terra;
A fórmula “seu anúncio do Reino de Deus com convite à conversão” foge, definitivamente, ao padrão anterior. E entra em choque, em certo sentido, com o que ensinou o Papa Leão XIII sobre o rosário, quando afirmou que, nele, não nos são apresentados dogmas de fé ou princípios doutrinários, pelo menos de maneira pura, mas fatos concretos das vidas de Nosso Senhor e Nossa Senhora, que contêm, explicitamo-lo nós, dogmas de fé e princípios doutrinários (não descartados nesses os morais) para nossa meditação.
Além disso, o argumento apresentado no §18 da Rosarium Virginis Mariae de que o rosário seria um “compêndio do Evangelho” (o que, por sua vez, justificaria a inserção desses novos mistérios tratando ineditamente da vida pública de Cristo) não nos parece de todo convincente. Afinal de contas, seria mesmo o rosário um mero resumo do Evangelho? E, sendo assim, teria Nossa Senhora inspirado um mau resumo a São Domingos, preterindo a Cristo, já que ele, evidentemente, em sua forma de sempre, não cobre a vida pública de Jesus?
Essa hipótese não nos parece razoável.
Pelo contrário, parece-nos mais plausível crer, por se tratar de uma devoção centrada em Nossa Senhora, por meio da qual se vai a Cristo por Maria, que o rosário seja um resumo sim, mas um resumo focado nos fatos que tocam mais diretamente a vida dela, tanto mais que os três últimos mistérios gloriosos não dizem respeito a passagens evangélicas, mas aos Atos dos Apóstolos (terceiro mistério) e à Tradição (quarto e quinto mistérios).
Além disso, é de se perguntar o porquê de não terem sido selecionadas outras passagens como “mistérios” da vida pública de Jesus como, por exemplo, a provação de Cristo no deserto, a expulsão dos vendilhões do Templo, o sermão da montanha, a instituição de Pedro como chefe da Igreja, ou uma das diversas disputas que Cristo tivera com os fariseus, etc. Pois, afinal de contas, qual é o critério de seleção dos fatos mais importantes da vida pública de Cristo que serão inseridos nas meditações do rosário? A própria paixão, em que se consuma a missão de Cristo, e já meditada nos mistérios de sempre, não conteria os principais fatos, o ápice, dessa vida pública?
Outrossim, o critério segundo o qual se fez o recorte das passagens que embasam os mistérios luminosos denota uma clara preferência por uma perspectiva epifânica e triunfalista de Cristo e que culmina na enunciação do suspeito “mistério pascal”, o qual, de acordo com a nova teologia, implica uma nova apreciação do dogma da redenção, para quem o ato salvífico, por excelência, seria a ressureição de Cristo e não sua ignominiosa morte na cruz. E nisso, nessa terminologia cara ao modernismo, vemos mais um motivo para nos valermos de nossa liberdade nessa matéria e não adotarmos os novos mistérios propostos por nosso Papa João Paulo II.
Por fim, para concluir a exposição dos motivos pelos quais os mistérios luminosos não figuram no site Montfort, gostaríamos de avançar mais alguns argumentos relacionados à tese do rosário como compêndio do Evangelho com caráter eminentemente cristológico, tal como colocado por João Paulo II na Rosarium Virginis Mariae (§19).
Embora repetindo um pouco o que já dissemos, gostaríamos de salientar que a proposta dos mistérios luminosos, tendo-se em vista reforçar o caráter cristológico do rosário, não nos parece se inserir numa perspectiva de explicitação da identidade dessa devoção nem de sua finalidade, mas antes cremos que ela se coloca na contramão de sua identidade e finalidade. Afinal de contas, como já dissemos:
1. Não nos parece razoável a tese de que Nossa Senhora tenha inspirado a São Domingos um resumo imperfeito do Evangelho, preterindo-se os fatos da vida pública de seu amado Filho;
2. O rosário contém três mistérios, dedicados exclusivamente a Nossa Senhora, que não estão embasados em passagens evangélicas;
Além disso, assim como se percebe um recorte muito claro dos mistérios luminosos em relação à narrativa do Evangelho, podemos notar uma “opção” dos mistérios de sempre por tudo o que diz respeito mais diretamente a Nossa Senhora. Nos mistérios gozosos, ela aparece todas as vezes; com efeito, eles dizem respeito à vida oculta de Cristo, que Ele passou ao lado de Nossa Senhora e que contam 30 dos 33 anos de sua existência na terra. Nos gloriosos, depois de auxiliar a Igreja nascente (Pentecostes: estavam em oração com Maria no Cenáculo), Nossa Senhora acompanha com privilégio exclusivo o Filho em seu triunfo (ressureição e ascensão), sendo levada de corpo e alma à pátria celeste e coroada como rainha dos céus e da terra. E, nos dolorosos, quando normalmente se negligencia sua presença, vemo-la de pé, ao lado da cruz, no momento em que todos os apóstolos, exceção feita, depois da agonia, a São João, haviam abandonado a Cristo, dormindo no Horto e fugindo quando de sua flagelação e coroação de espinhos. Nos dolorosos, enfim, Cristo, da cruz, nos dá Maria, na pessoa de São João, por mãe espiritual, que vai nos nutrir com as graças de Cristo. E, por isso, não nos parece razoável ferir essa identidade do rosário, devoção eminentemente mariana.
Ademais, é preciso saber distinguir, em todas as devoções, suas finalidades próxima e remota. Evidentemente, toda devoção deve ter como finalidade remota (última) a Cristo, sob pena de se cair em idolatria, mas isso não significa que se deva, portanto, se salientar gradualmente o caráter cristológico, que, repetimos, toda devoção sadia, no fundo, deve ter, em detrimento de suas marcas próprias. Rezamos, por exemplo, aos santos como intercessores para alcançarmos a Cristo, mas isso não significa que devamos ressaltar, buscando maior perfeição, os aspectos propriamente cristológicos de seu culto, em detrimento da pessoa do santo. Esse cuidado em colocar Nossa Senhora ou os santos algum tanto à sombra lembra uma tendência oriunda do protestantismo ou do jansenismo.
No caso da devoção a Nossa Senhora, cujo culto, dada sua eminência como mãe de Deus, é obrigatório, ocorre a mesma coisa. Exatamente como explica São Luís de Montfort no Tratado da Verdadeira Devoção a Santíssima Virgem, achegamo-nos a ela para nos aproximarmos de Cristo. E, assim, nos parece que a finalidade do rosário, em que se deve meditar fatos da vida de Cristo intimamente conectados à de Nossa Senhora, sobretudo porque é pelos frutos (Cristo) que se conhece a árvore (Maria), seja o de nos dar a conhecer tão boa mãe, meio seguro de salvação, e que nos obtém de Cristo as graças necessárias a nosso crescimento espiritual. Por isso, a introdução dos mistérios luminosos, em que Nossa Senhora fica em segundo plano – como admite o próprio João Paulo II, embora tentando justificá-lo (§21) –, seja nos próprios mistérios, com exceção de Caná, seja pela nova lógica que eles conferem ao conjunto, parece-nos contrariar a finalidade do rosário, a saber, repetimo-lo, dar-nos a conhecer Maria e nos fazer depender dela em nosso caminho rumo à pátria celeste.
*****
Prezado Alfredo, esperamos ter explicado razoavelmente o porquê de não termos adotado os “Mistérios Luminosos” propostos por nosso Papa João Paulo II. Como você, no entanto, menciona que está aprendendo a rezar o terço, gostaríamos de acrescentar algumas palavras finais sobre isso a esta carta que já vai longa, deixando-lhe, se você nos permite, uma espécie de “lição de casa”.
Antes de rezar o terço, não se esqueça jamais de duas verdades básicas de que depreendemos seu contexto e importância.
Primeira: o rezar, entendido pura e simplesmente, fundamenta-se no reconhecimento (portanto, num ato da inteligência) de nossa infinita desproporcionalidade e dependência em relação a Deus, a Quem, na oração: i) agradecemos todos os bens recebidos, temporais e espirituais, aos quais de maneira alguma teríamos direito; ii) pedimos perdão por nossos pecados, pelos quais não mereceríamos outra coisa senão o inferno; iii) pedimos todos os bens que nos são necessários a nossa vida, temporal e espiritual; iv) glorificamos como o Ser: Verdade, Bem e Beleza absolutos, fonte única de nossa felicidade. Jamais se esqueça de que o rezar, portanto, parte de uma constatação: nós, seres contingentes, precisamos do Ser necessário. (Para conhecer melhor esse Deus e Seus atributos, assista a nossa aula sobre as provas de sua existência aqui).
Segunda: esse Ser absoluto, Senhor de todas as coisas, de que inexoravelmente precisamos se comunica a nós, segundo uma ordem de conveniência, por meio de suas criaturas, que nos transmitem Deus de acordo com o modo e grau de sua participação em Deus (sobre isso, preste atenção no momento do vídeo indicado em que o Prof. Orlando fala da rosácea medieval). E, portanto, como Nossa Senhora foi a criatura “cheia de graça”, não faltando nada a Ela, tudo aquilo de que precisamos de Deus podemos receber de suas mãos, devendo nós nos voltarmos a Ela como fonte, como grande meio, para obtermos a Deus mesmo. Esse se voltar à criatura Maria, mãe de Deus, que é o significado profundo da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, é o pleno inverso do pecado que consiste numa busca desordenada da criatura (pecado venial) com desprezo de Deus (pecado mortal).
Por isso, Alfredo, ao rezar o terço, louvando Nossa Senhora, tenha sempre em mente i) que você busca obter através dela as graças de Deus de que você necessita e ii) que o terço representa “apenas” uma das práticas de um quadro maior de nossa devoção a Nossa Senhora, tornando-se cada vez mais eficaz quanto mais nós nos unimos a ela de acordo com a verdadeira devoção explicada por São Luís de Montfort.
Por esse motivo, para você rezar bem o terço, recomendamos-lhe fortemente o estudo do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem.
Além disso, já que durante boa parte desta carta viemos discutindo sobre os “Mistérios Luminosos”, é preciso também não se perder de vista a necessidade da meditação ao longo da recitação do terço. Pois o terço não é apenas uma oração vocal, mas inclui a oração mental na qual apreendemos verdades sobrenaturais e as aplicamos, com a graça de Deus, de maneira concreta em nossas próprias vidas. (Por favor, para saber mais sobre meditação, assista a uma de nossas aulas sobre esse assunto aqui).
Passada a “lição de casa”, Alfredo, só temos de nos alegrar com seu desejo de se exercitar nessa prática tão salutar, que é o terço, e que foi instada de maneira veemente por Nossa Senhora em Fátima como remédio para os males de nosso tempo.
Em Fátima... Que, como atestado pelo Papa Bento XVI, em sua última viagem a Portugal, para a fúria dos Cardeais Sodano e Bertone, ainda não se realizou (ver aqui).
Esperamos de toda a alma que a recitação do terço o leve a um conhecimento mais profundo de tão boa mãe e que, conquistando-lhe o amor, você obtenha para si e para os seus todas as graças necessárias à salvação, que é a única coisa que nos importa neste mundo.
Por favor, não deixe de incluir a Montfort em suas intenções.
(...) Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.
Forte abraço,
Guilherme Chenta
Coordenador do projeto Legado Montfort
PS 1: você pode obter todas as obras de São Luís de Montfort, inclusive o Tratado, no site dos montfortinos: www.montfort.org (igual ao nosso, só que sem ".br").
PS 2: a compreensão mais profunda das orações básicas que compõem o terço (Pai Nosso e Ave Maria) é muito útil para seu maior aproveitamento. Recomendo-lhe o estudo dos comentários de São Tomás a essas orações.
PS 3: Segue abaixo trecho do Segredo Admirável do Santíssimo Rosário, em que São Luís de Montfort narra como se iniciou a pregação do rosário tal como o conhecemos hoje (ou conhecíamos até 2002):
“10. O santo Rosário, composto fundamental e substancialmente pela oração de Jesus Cristo (o Pai Nosso), a saudação angélica (a Ave Maria) e a meditação dos mistérios de Jesus e Maria, constitui, sem dúvida, a primeira oração e a primeira devoção dos crentes. Desde os tempos dos Apóstolos e dos discípulos ela esteve em uso, século após século, até nossos dias.
11. No entanto, o Santo Rosário – na forma e método de que hoje nos servimos em sua recitação – só foi inspirado à Igreja, em 1214, pela Santíssima Virgem que o deu a São Domingos para converter os hereges albigenses e aos pecadores. Ocorreu isso da seguinte maneira, conforme o narra o Beato Alano de la Roche em seu famoso livro intitulado De Dignitate Psalteriis. Vendo São Domingos que os crimes dos homens obstaculizavam a conversão dos albingenses, entrou em um bosque próximo a Toulouse e permaneceu ali por três dias e três noites dedicado à penitência e à oração contínua, sem cessar de gemer, chorar e mortificar seu corpo com disciplina para aplacar a cólera divina, até que caiu meio morto. A Santíssima Virgem apareceu a ele em companhia de três princesas celestiais e lhe disse: “Sabes, querido Domingos, de que arma a Santíssima Trindade tem se servido para reformar o mundo?”. “Oh, Senhora, vós o sabeis melhor que eu” – respondeu ele –, “porque depois de Jesus Cristo, vós fostes o principal instrumento de nossa salvação”. “Pois – sabes – acrescentou ela – que a principal peça de combate tem sido o saltério angélico, que é o fundamento do Novo Testamento. Por isso, se queres ganhar para Deus esses corações endurecidos, pregue meu saltério”.
Levantou-se o Santo muito consolado. Inflamado de zelo pela salvação daquelas gentes, entrou na catedral. Naquele momento, tocaram os sinos para se reunir os habitantes, graças à intervenção dos anjos. Ao começar sua pregação, se desencadeou uma terrível tormenta, a terra tremeu, o sol obscureceu-se, trovões e relâmpagos seguidos fizeram com que os ouvintes tremessem e se empalidecessem. O terror deles aumentou quando viram um imagem da Santíssima Virgem, exposta em lugar proeminente, levantar os braços ao céu por três vezes para pedir a Deus vingança contra eles, se não se convertessem e recorressem à proteção da Santa Mãe de Deus.
Queria o céu com esses prodígios promover a nova devoção do Santo Rosário e fazer que se a conhecesse mais. Graças à oração de São Domingos, acalmou-se finalmente a tormenta, e ele prosseguiu sua pregação explicando com tanto fervor e entusiasmo a excelência do Santo Rosário que quase todos os habitantes de Toulouse o aceitaram, renunciando a seus erros. Em pouco tempo, experimentou-se uma grande mudança de vida e costumes na cidade.
12. Este estabelecimento do Santo Rosário de maneira tão miraculosa guarda certa semelhança com a maneira de que se serviu Deus para promulgar sua lei ao mundo no Monte Sinai. E manifesta claramente a excelência desta maravilhosa prática. São Domingos, iluminado pelo Espírito Santo e instruído pela Santíssima Virgem e por sua própria experiência, dedicou o resto de sua vida a pregar o Santo Rosário com seu exemplo e sua palavra, nas cidades e nos campos, antes grandes e pequenos, sábios e ignorantes, católicos e hereges. O Santo Rosário – que rezava todos os dias – constituía sua preparação antes de pregar e sua ação de graças depois da pregação”.
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