Agosto de 1820, deram-vos a sua ruína, o rei reduzido a um mero
fantasma; a magistratura diáriamente despojada e ultrajada; a nobreza, à
qual se agregaram sucessivamente os cidadãos beneméritos e à qual
deveis vossa glória nas terras de África e nos mares da Ásia, reduzida ao
abatimento, despojada do lustre que outrora obtivera do reconhecimento
real; a religião e seus ministros objecto de mofa e escárnio.
Que é uma nação quando sofre ver-se assim aviltada? Eia, portugueses,
uma mais longa prudência seria infâmia. Já os generosos transmontanos
nos precederam na luta; vinde juntar-vos ao estandarte real que levo em
minhas mãos; libertemos o rei e Sua Majestade livre dê uma Constituição
a seus povos; fiemo-nos em seus paternais sentimentos; e ela será tão
alheia do despotismo como da licença; assim reconciliará a nação consigo
mesmo e com a Europa civilizada.
Acho-me no meio de valentes e briosos portugueses, decididos como eu a
morrer ou a restituir Sua Majestade à sua liberdade e autoridade, e a
todas as classes seus direitos. Não hesiteis, eclesiásticos e cidadãos de
todas as classes, vinde auxiliar a causa da religião, da realeza e de vós
todos: e juremos não tornar a beijar a real mão senão depois de Sua
Majestade estar restituído à sua autoridade.
Não acrediteis que queremos restaurar o despotismo, operar reacções ou
tomar vinganças; juremos pela religião e pela honra que só queremos a
união de todos os portugueses e um total esquecimento das opiniões
passadas."
D. Miguel, Infante de Portugal - Vila Franca de Xira, 27 de Maio de 1823.
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