BATER LUSITANO


Meu coração bate,
Bate lusitano,
Bate melancólico,
Docemente hispano,


Sangue português ?
Eu não sei se tenho,
Mas sim sei, sei,
O que eu desejo,


Meu coração bate,
Forte, de tal jeito,
Que é como um grande sinal,
Acirrando o meu peito,


Mas também bate,
Com boa dosagem de lirismo,
Com uma bandeira de ternura,
De sentimento fino,


Meu coração bate,
Como se estivesse escutando,
Saindo de Ayamonte,
O melhor fado,


Meu coração debate-se,
Entre chorar, entre sorrir,
Faminto e cansado,
Mas volta a ressurgir,


Meu coração bate,
Bate por um ideal,
Ideal que queria cumprir:
Um imenso Portugal,


Até onde eu sei, como digo,
Nao tenho sangue lusitano,
Mas meu coração bate,
Sozinho e irmão,


Meu coração bate,
Com saúde lusitana,
Simples e irresitível paixão,
Vivido da minha Espanha,


Girando minhas veias,
Está este bater lusitano,
Escrevera-se o meu destino,
Num português bem claro ?


Meu coração bate,
Em doce solidão,
Quem, quem pode dizer,
Que não é lusitano ?






NEVOEIRO



Olha como está o dia,
É puro nevoeiro,
Fevereiro ja morreu,
Desperta-se o meu sentimento,


E assim, estou como aquela,
Canção que nunca escutei,
Ou como aquela volta,
De que nunca voltei,


Nevoeiro de dia,
Nevoeiro da memória,
Nevoeiro, como um sonho,
Que quer fazer-se história,


Nevoeiro insubstancial, mas....
Porque meu sentimento acirra,
Como se estivera procurando,
Uma esperança sebastianista?


Este nevoeiro, está no céu?
Está no céu ou vem dele ?
Ai, quem sabe isso,
Nevoeiro este, ou aquele....


O nevoeiro tem um tom,
Ou em verdade, tem muitos,
Será, pois, de hesitação,
Ou é uma poeira de mudos?


Ai, mas eu não sei ainda,
Porque fico pensando,
Nos dias de nevoeiro,
Querendo atingir um fado,


Ai, nevoeiro que parece
Ser a derradeira saudade,
Nevoeiro para lembranças,
Nevoeiro para a íntima arte,


Dia de nevoeiro,
Dia como que português,
Dizem que traz chuva,
E o que está por trazer...


Ah, em dia de nevoeiro,
Quantas coisas são pensadas,
E com isso, minha cabeça,
Sempre como se fosse lusitana.









TERNURA


Para hoje, dia de chuva,
Só desejo ternura,
Ternura em silêncio,
Traz-me meu mistério,


Ternura, ternura lírica,
Como é, bem íntima,
Submergida ternura,
No sonho sem loucura,


Ternura lusitana,
Lágrima hispana,
Nao sou português,
Nao sou ? Talvez....


Tempo de tardinha,
Lamentos, palavrinhas;
Musica nos ouvidos,
Desenhos escondidos,


A ternura dum abraço,
De amizade desejado,
A ternura dum beijo,
Nuns lábios doces e belos,


A ternura da cidade,
Que amanhece, que nasce,
E quando deito-me, a mente,
Descansa elegantemente,


Coração aberto, independente....
Ou fechado realmente ?
Coração que ternura acha,
Na imagem duma sozinha praia,


Sim a palavra é prata,
Muitas vezes é barata,
Contradições escuras,
Só peço ternura !


Ternura de Outono e Inverno,
Mas não de Verão intenso,
Nem de Primavera tampouco,
A ternura não é para o louco,


Ternura portuguesa,
Emblema da nobreza,
Dum povo marinheiro,
De Igreja e império,



Triste é meu sentimento,
Pois nao estou muito perto,
Ternura lusa, tanto me chamas,
Que meu amor inflamas.