A Disciplina para Santidade - Origens do Brasil
Beato Anchieta - Apóstolo do Brasil
Como já narrei em outras oportunidades, incorreu a mim mais uma ocasião de apreciar a história de um dos fundadores do Brasil católico, José de Anchieta, arquétipo do missionário e do zeloso pregador, cuja vida consagrou inteiramente à edificação da igreja em "terras brasilis".
Quando de sua vinda ao Brasil, em 8 de maio de 1553¹, saindo de Lisboa (embora descendente de família espanhola e espanhol, já que nascera no Arquipélago das Canárias, estudou em Coimbra) já com eloqüência religiosa expressiva, isso aos 18 anos, Anchieta já se sentia impelido à conversão, iniciando desde sua chegada na Bahia as obras de fundação de colégios jesuítas. E não foi de sua chegada que conseguiu se livrar das perenes dores que lhe aturdiam seu desvio de coluna e sua frágil sáude, fator-chave para que fosse enviado ao Brasil: Cura de suas enfermidades.
O cenário desta terra, hoje não tão bela quanto antes, evidentemente, mais se assemelhava a um paraíso, como narram várias cartas dos emissários portugueses egressos à nova terra. Um certo antagonismo, algo que estarrecia aos Castelhanos e Portugueses era, sem dúvidas, a cultura rudimentar dos índios, que embora possuíssem largos saberes em questões como medicina e léxica, ainda eram dados ao canibalismo e à mortandade de crianças por nascerem "com defeitos" (Gêmeos ou deficientes físicos). Sobre isto, rememoro um vídeo que fora gravado não há muito tempo (creio que no máximo três anos) por uma sobrevivente, cujo enredo mostrava a morte de dois gêmeos enterrados vivos, somente pelo fator cultural.
Neste momento lembro-me de uma discussão acalorada em minha universidade, cujo cerne era o relativismo - se era válido ou não -, que trazia em seu bojo tal discussão sobre os indígenas: Seria válida a catequização dos índios no Brasil? Sinceramente, me arrependo de não poder ter afirmado o quanto se fazia e faz necessário a catequização destes...
Sobre sua pessoa, pregador nato, desde sua viagem até a chegada ao Brasil, louvava as grandezas de N.S.J.C., deixando à muitos embebidos de santidade dada sua eloqüência, diga-se de passagem, sapiência divina. Sua vida no Brasil foi exemplar: Participou de guerras (em uma delas oferecendo-se, em companhia de Manuel de Nóbrega, como refém para que outros cativos portugueses se libertassem) sendo vitorioso em quase todas; serviu de artesão de alpegartas, algo que narra em suas cartas, a fim de auxiliar os irmãos que em sua extrema pobreza e em suas pregações necessitavam-nas; traduzia a língua indígena a fim de auxiliar a ordem nas pregações e a melhorar a comunicação com os índios e etc.
É bem verdade que a relação dos portugueses com os índios, ao contrário dos retos e probos jesuítas, não era lá tão amistosa. Entretanto, com o auxílio de Mém de Sá, veio a trazer a dignidade dos índios que, em verdade, eram tratados com extrema rudez; mais um fator determinantes para que os mesmos - índios - tivessem grande apreço pela pessoa de Anchieta. Os franceses somente tiveram algum sucesso na conquista da Baia de Guanabara porque concederam mais regalias ao índios, claro, em troca do pau-brasil e de outras preciosidades da fauna e da flora brasileira. Tais Franceses, fugidos e enviados por Carlos V além do próprio Calvino, vieram prevaricar a terra da Santa Cruz, igualando-se aos índios em sua vivência, de maneira que os avistar em situação fleumâtica e lasciva era situação comum, alguns até matando outros índios (engraçado notar que quando os mesmos fugiram, deixando para tras tudo, nada de Católico se encontrava no forte por eles construído, a não se um missal cujas gravuras e cenas foram escoriadas; relato de Anchieta), como relata o próprio Anchieta:
[...]"A vida dos franceses que estão neste Rio é já não somente hoje apartada da Igreja Católica, mas também feita selvagem; vivem conforme os índios, comendo, bebendo, bailando e cantando com eles; pintam-se com suas tintas pretas e vermelhas, adornando-se com as penas dos passaros e andando nus às vezes, só com uns calções, e finalmente matando contrários, segundo o rito dos mesmos índios, e tomando nomes novos como eles, de maneira que não lhes falta mais que comer carne humana, que nos mais sua vida é corruptíssima..." ³
Quando remeti ao título para disciplina, ao contrário do pensamento imediato, não remetia somente à disciplina moral que no que concerne aos jesuítas era total ambivalência, mas também à disciplina material que foi utilizada por todos os jesuítas, que como nos narra Manuel de Nóbrega², era instrumento essencial para que os pecados da carne fossem afastados e para que se alçasse à santidade com mais facilidade:
[...] Uma coisa que nessa gente produzia admiração, conta Simão de Vasconcelos, 'era a grande continência que guardavam [os jesuítas] porque tendo-lhes oferecido os principais daquelas aldeias liberalmente filhas e irmãs, costume comum entre eles [os índios], com a mesma lhaneza e facilidade de que se brindarem com uma cuia ou copo de vinho, viam que sempre os padres as rejeitavam. Disto pasmavam e chegaram a pergunta-lhes como era possível aborrecerem [rejeitarem] o que todos os outros homens apeteciam, respondeu-lhe isto o Padre Nóbrega, tirando da algibeira umas disciplinas, mostrando-lhes e dizendo que, magoando com aquelas seu corpo, asseguravam a continência e defendiam os ímpetos lascivos e movimentos desordenados da carne'.4
[Os grifos e demais citações entre colchetes são nossos]
Vejam só! Um instrumento dito medieval em pleno Século XVI presente no mantenimento da probidade religiosa quando das origens do Brasil. Quando escrevi um artigo dedicado tão somente ao Cilício, imaginava que as manifestações de modernistas iriam fazer o sítio sair do ar, quando aconteceu o contrário, prova de que o entendimento dos Católicos ainda é satisfatório ao tratar de costumes e tradições que traziam doses eminentes de santidade aos fiéis e clérigos. Nóbrega afirma que a santidade foi mantida por via do uso da disciplina, semelhante ao Cilício, o que deveras é importante para ressaltar a validade deste objeto para a busca da santidade, embora seja opção para os católicos que esmerem por sua faceta religiosa.
O exemplo do Beato Anchieta, que tão logo por sua proezas e sua santidade - só me vem a mente seu "De Beata Virgine Dei Matre Maria", extenso poema feito no cativeiro por inspiração Mariana - mereceria o beneplácito pleno da Santa Sé e o reconhecimento de santidade de maneira oficial, deve ser rememorado por todos nesse contexto caústico de modernismo e heresia, que enchem nossas mentes de exemplos outros que não da busca da santidade e salvação. Novelas tratam do homossexualismo como situação a ser reconhecida por todos como a correta, outras tratam de igrejas como circo, ainda, outras pregam que os 7 pecados são maravilhosos e burlescos, ressaltando que devem ser praticados por representarem algo inocente e inerente ao homem.
Beato Anchieta, rogai por vossa terra brasileira que geme e desvanece no pecado!
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¹ - A data de chegada é outra: 13 de Junho de 1553. A caravela onde Anchieta viajara aportou na Bahia e não diretamente onde hoje é o Rio de Janeiro.
² - Mais velho do que Anchieta, já estava em idade avançada na época da chegada do último, criando-se grande amizade entre os mesmos e companheirismo belo, cujo ápice se revela na perseguição de índios rebeldes ao qual Anchieta, já molestado por sua doença na coluna, teve de carregar o enfermo Nóbrega nas costas e atravessar um riacho a fim de se esconderem-se na floresta mais próxima. Tiveram ainda de subornar um índio para que os guiasse à segurança.
³ - Cf. THOMAZ, Joaquim. Anchieta. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1981, p. 60-61.
4 - Cf. THOMAZ, Joaquim. Anchieta. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora, 1981, p. 66-67.
APOSTOLADO TRADIÇÃO EM FOCO ®: A Disciplina para Santidade - Origens do Brasil
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