A paz em Pio XII e seu contraste com o Espírito de Assis.
Por Mateo Beludi, colunista convidado.
Faz pouco mais de quatro décadas, Pio XII proferiu, perante o VI Congresso Nacional da União de Juristas Católicos Italianos, a alocução Accogliete, illustri [1]. Por sua inusual extensão, o discurso, em italiano, foi lido em duas audiências. O texto oficial, em latim — como é de costume nos pronunciamentos do Magistério eclesiástico –, foi publicado no boletim oficial do Vaticano, as Acta Apostolicae Sedis, n. 47 (1955) [2]. Freqüentes foram as alocuções de Pio XII perante a União de Juristas Católicos Italianos: em 6 de novembro de 1949, recém-fundada essa associação, o Papa tratou da concepção cristã do direito (Con felice pensiero), dando início à série de discursos possivelmente mais importante de seu magistério.
É conhecida a afeição que Pio XII teve pelo Direito, e, não raramente, o Pontífice manifestou-se fundamente sobre o tema. Pode mesmo considerar-se a existência, como corpo autônomo, de um magistério jurídico de Pio XII: ilustrativamente, bastaria ler-lhe os ensinamentos em Sempre dolce, alocução de 2-6-1940, acerca do direito e a moral da guerra; Già per la terza volta, inaugurando o ano jurídico 1941-1942, versando o direito matrimonial; Il vedervi, discurso proferido para o Tribunal da Sagrada Rota Romana, em 1º-10-1942, tratando da certeza moral das sentenças judiciárias; Con sempre, sobre a ordem social e jurídica, radiomensagem de 24-12-1942; em L’inaugurazione, discurso de 2-10-1944, sobre a unidade de fim no processo matrimonial canônico; Soyez les bienvenus, discurso de 20-5-1948, apreciando a unidade fundamental do Direito privado; Con vivo compiacimiento, acerca do positivismo jurídico e do absolutismo estatal, discurso proferido em 13-11-1949; Voluistis, praeclari, discurso de 29-4-1952, sobre o Decretum de Graciano; Parmi les institutions, acerca da repressão internacional ao crime, discurso de 15-10-1954 etc.
Hoje, diante da estendida insegurança pública mundial e do vulto dos conflitos bélicos [3] — em que pese à ilusão de que o progresso incontível e indefinido [4] levaria humanamente à paz — bem se adverte por que esses discursos de Pio XII continuam (ou, ao menos, deveriam continuar seriamente) a interessar aos nossos contemporâneos.
Mas a chave para acercar-nos seriamente do pensamento de Pio XII passa por um contraste inevitável, de caráter doutrinário, entre seu magistério e o que, para muitos, constitui a “Igreja pós-moderna”. Por isso, destaca-se aqui a consideração do discurso que, no dia 6 de dezembro de 1953, Pio XII dirigiu ao V Congresso Nacional da União de Juristas Católicos Italianos. Nesse discurso, intitulado Ci riesce, versou o Papa o problema moral e político da tolerância no âmbito da comunidade internacional. Assinalou, a propósito, um critério nuclear:
“Antes de tudo, é preciso afirmar claramente que nenhuma autoridade humana, nenhum Estado, nenhuma Comunidade de Estados, seja o que for seu caráter religioso, pode dar um mandato positivo ou uma positiva autorização de ensinar ou de fazer o que seja contrário à verdade religiosa ou ao bem moral” (§ 14).
É ainda desse texto de Pio XII:
“[É] contra a natureza obrigar o espírito e a vontade do homem ao erro e ao mal ou a considerar um e outro como indiferentes. Sequer Deus poderia dar um mandato positivo ou uma positiva autorização dessa classe, porque estaria em contradição com sua absoluta veracidade e santidade” (id.).
O que Pio XII afirmou, em seguida, prudentemente admissível, foi a tolerância – “em determinadas circunstâncias” — com o livre exercício de uma crença ou dada prática religiosa. Mas, essa situação excepcional, sentenciou o Papa, não exclui a regra primeira de que “o extravio religioso e moral deve ser sempre impedido, o quanto possível, porque sua tolerância é em si mesma imoral, não pode valer em sua forma absoluta incondicionada” (§ 16).
Somente em dados casos — repete-se: “em determinadas circunstâncias” — poderá aparecer como melhor caminho “não impedir o erro, a fim de promover um bem maior”.
Avista-se já com essas lições sobre o tema da tolerância — sucintamente colhidas do magistério de Pio XII — a patente dificuldade de compaginá-las com o que, diagnosticado já ao começo do século XX, se apresenta vistosamente depois, por volta das últimas quatro décadas, como um novo espírito na Igreja oficial, um espírito que alguns dizem conciliar e, outros, pós-conciliar [5]. Especificamente no campo da tolerância — de modo marcado, a tolerância religiosa — pode sumariar-se esse novo espírito com a expressão “espírito de Assis”. De fato, por mais se queira, talvez, ressalvar o caráter meramente pragmático do “espírito de Assis”, é irrecusável que ele anima um propósito panreligioso — a alguns ocorre designá-lo como um propósito pancristão –, no qual a verdade doutrinária (rectius: a demarcação confessional) não pode menos do que ser marginada. Isso enfrenta de modo nuclear o juízo –expressamente afirmado por Pio XII — de que a tolerância com os extravios morais e políticos é, em si própria, imoral. Ao revés, o “espírito de Assis” coroa o encontro de possíveis extravios, que apropositadamente se evita (ou não se vê sentido em) apontar.
Para remarcar o contraste, Pio XII — tal como se adverte na alocução Ci riesce - enfileira-se à tradição eclesial de que a Igreja é universalmente necessária para a salvação dos homens: unam Ecclesiam, sanctam, romanam, catholicam et apostolicam, extra quam neminem salvari.[6]. Essa asserção fundamental não se acomoda à liberdade religiosa e ao ecumenismo professados com o novo espírito que se reconhece agora na Igreja oficial, espírito que, sustentam alguns, parece encaminhá-la para o futuro de uma super-instituição cristã.
Pio XII tinha a seu dispor, de fato, um forte patrimônio doutrinário de amparo a seu entendimento — sumariável em que não há liberdade humana, sob pena de gravíssima ofensa a Deus, em eleger como “verdadeira” uma qualquer religião:
- ensinamentos apostólicos:
- “Quem nEle crê não é julgado; mas quem nEle não crê já está julgado, porque não crê no nome do Filho único de Deus” (Evangelho de S.João, 3-18) [7]
- “Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das ovelhas. (.) Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, será salvo.” (Evangelho de S.João, 10-7 e 9) [8]
- “Quem me despreza e não quer receber minhas palavras, terá quem o julgue; o ensinamento que eu anunciei, eis o que o julgará no último dia” (Evangelho de S.João, 12-48) [9]
- “Aquele que crê no Filho de Deus tem em si o testemunho de Deus. Aquele que não crê em Deus, O faz mentiroso, porque não crê no testemunho que Deus deu a respeito de Seu Filho. (.) Quem possui o Filho possui a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (I Epístola de S. João, 5,10 e 12) [10]
- “Quem crer e for batizado, será salvo, mas quem não crer, será condenado” (Evangelho de S. Marcos, 16-16) [11]
- “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Evangelho de S. Lucas, 10-16) [12]
- “Esse Jesus, pedra que foi desprezada por vós, edificadores, tornou-se pedra angular. Em nenhum outro há salvação, porque, sob o céu, nenhum outro nome foi dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (Atos dos Apóstolos, 4, 11-12) [13],
- repetidos pronunciamentos do Magistério da Igreja:
- “Una, santa, católica e apostólica: esta é a Igreja que devemos crer e professar já que é isso o que a ensina a fé. Nesta Igreja cremos com firmeza e com simplicidade testemunhamos. Fora dela não há salvação, nem remissão dos pecados.” (Bonifácio VIII, Unam Sanctam) [14]
- “De coração cremos e com a boca confessamos uma só Igreja, não de hereges, mas a Santa, Romana, Católica e Apostólica, fora da qual cremos que ninguém se salva” (Inocêncio III, Eius exemplo) [15]
- “O mais firme dogma de nossa religião é o de que ‘fora da fé católica ninguém pode salvar-se’ (Pio VII, Carta apostólica Litteris altero de 24 de março de 1830). (.) E sem contar aqui os testemunhos quase inumeráveis de outros antigos padres, nós nos limitaremos a citar aquele de nosso Glorioso Predecessor, S. Gregório Magno, que atesta expressamente que essa é a doutrina da Igreja nessa matéria. ‘A Santa Igreja universal’ -escreve ele- ‘ensina que Deus não pode ser verdadeiramente adorado que em seu seio; ela afirma que todos os que dela se acham separados não serão salvos’” (Gregório XVI, encíclica Summo jugiter, 27 de maio de 1832).
- “Com efeito, pela fé deve sustentar-se que fora da Igreja Apostólica Romana ninguém pode salvar-se; que esta é a única arca de salvação; que quem nela não houver entrado, perecerá no dilúvio” (Pio IX, alocução Singulari quadam, de 9 de dezembro de 1854)[16]
- [As proposições seguintes foram condenadas:]
a) “Todo homem é livre em abraçar e professar a religião que, guiado pela luz da razão, tiver por verdadeira”
b) “Os homens podem encontrar no culto de qualquer religião o caminho da salvação eterna e alcançar a eterna salvação”
c) “Pelo menos, devem ter-se fundadas esperanças sobre a eterna salvação de todos aqueles que não se acham de modo algum na verdadeira Igreja de Cristo” (Pio IX, Syllabus) [17]
- Era tudo isso matéria até de Catecismo:
“Pode alguém salvar-se fora da Igreja?
Não, senhor. Fora da Igreja Católica, Apostólica, Romana, ninguém pode salvar-se, como ninguém pôde salvar-se do dilúvio fora da arca de Noé, que era figura desta Igreja” (S.Pio X, Catecismo Maior, 10, § 2o) [18].
Contrapostamente, em 1986, realizou-se, em Assis [19], uma primeira reunião inter-religiosa das muitas que se seguiram, até mesmo em Roma (1993), promovidas pela Santa Sé. Um novo meeting panreligioso realizou-se em Assis, no dia 24 de janeiro de 2002, com o título “Jornada de Oração pela Paz no Mundo”: “Siamo venuti ad Assisi in pellegrinaggio di pace” — afirmou-se no discurso de inauguração desse certame interreligioso. Ali, na terra do Poverello, reuniram-se representantes de diferentes religiões, com o escopo — disse-se ainda — de se interrogarem diante de Deus sobre seu engajamento em favor da paz e de pedir a Deus o dom “para testemunhar o nosso comum anelo no sentido de um mundo mais justo e solidário” [20]. O Papa, no mesmo discurso, afirmou o vínculo de continuidade com o primeiro encontro de Assis: “Hoje ainda, como em 27 de outubro de 1986, Assis torna-se novamente o ‘coração’ de uma multidão imensa que invoca a paz” [21].
Entre os representantes delle varie religioni juntaram-se, em Assis, ministros do judaísmo, do budismo, do xintoísmo, do islamismo, do jainismo, do hinduísmo, do zoroastrismo, de religiões tradicionais africanas, de outras denominações cristãs etc. Extraiu-se desse ajuntamento o que se designou “espírito de Assis”: “um novo espírito — com freqüência chamado de ‘espírito de Assis’ — anima o diálogo interreligioso e liga-o indissoluvelmente ao compromisso pela justiça, à salvaguarda da criação e da paz” [22].
É decerto à luz desse espírito panreligioso de Assis que se hão de compreender certos registros que, ao acaso, se poderiam surpreender em pronunciamentos de autoridades e clérigos católicos. Ilustrativamente, considere-se esta explicação do frade Massimiliano Mizzi, fundador do Centro Franciscano Internacional para o Diálogo, acerca da ampla comparência budista ao meeting de Assis-II: “Per il buddismo” — disse o religioso à agência SIR-Servizio de Informazione Religiosa dos bispos italianos – “la pace è anzitutto una virtù umana che nasce dall’armonia nel proprio cuore. Nel buddismo si insiste molto su questo aspetto: la pace con gli altri nasce nel cuore di ciascuno” [“Para o Budismo, a paz é, acima de tudo, uma virtude humana que nasce da harmonia no próprio coração. No budismo se insiste muito sobre este aspecto: a paz com os outros nasceram no coração de cada um”]. Prossegue Frei Mizzi: nessa reunião de Assis, “i buddisti si ritroveranno tutti insieme e uno di loro comincerà ad intonare il dharma, cioè alcune litanie che verranno ripetute da tutti molte volte. Questo è essenzialmente il modo di pregare tipico del buddismo. E’ una preghiera che aiuta a ritrovare l’armonia interiore e l’armonia con il creato” [“os budistas se encontrarão todos juntos e um deles começará a entoar o dharma, ou seja, alguma ladainha que será repetida muitas vezes por todos. Isto é essencialmente o modo de rezar típico do budismo. É uma oração que ajuda a encontrar a harmonia interior e harmonia com a criação”].
Essa congregação de amplíssimo espectro religioso representa — na dicção de Dom Camillo Ruini, então presidente da Conferência Episcopal Italiana – “la via sulla quale ogni religione è chiamata ad avanzare” e a “contribuire alla pace e all’amicizia tra i popoli” [“o caminho que toda religião é chamada a percorrer” e a “contribuir para a paz e a amizade entre os povos”]. Pareceria a alguns, é verdade, que o cardeal Walter Kasper, então presidente do Conselho Pontifício para a Unidade dos Cristãos, deixou transparecer preocupação com o risco de sincretismo no meeting de Assis-II, ao advertir que somente em Jesus Cristo a verdade é revelada em todo seu esplendor, de maneira que “os cristãos não podem rezar com os membros de outras religiões” [23]. “Somente em Jesus Cristo”, mas não se disse — advertem alguns — que a verdade está revelada em todo seu esplendor na Igreja, porque a Igreja, diriam os tradicionalistas, é o Corpo Místico de Cristo, porque só a Igreja é a conservadora do depósito da Fé, só a Igreja sua infalível intérprete. Como o sincretismo já fora formalmente contornado, desde os tempos da primeira reunião inter-religiosa de Assis, com uma distinção sutil: juntos para rezar não é o mesmo que rezar juntos, talvez a preocupação de agora seja com uma eventual unidade de frações confessionais que, no meeting de Assis-II, são convidadas a prosseguir em sua própria via (“la via sulla quale ogni religione è chiamata ad avanzare”, disse Dom Ruini), a caminhar, como afirmou o cardeal Kasper, para a verdade que, em todo seu esplendor, não se afirma já que se acha na Igreja.
Assim, os representantes das várias religiões reunidas em Assis foram convidados a interrogar-se sobre seu empenho pela paz e a pedir a Deus o dom de “testimoniare il nostro comune anelito verso un mondo più giusto e solidale” [“testemunhar o nosso comum anelo por um mundo mais justo e solidário”]. Todas as religiões, todas essas varie religioni, sem controverter sobre verdades doutrinárias, cada uma com sua fé particular, solidarizam-se por meio de uma ortopráxis centrada na paz política. Pensam alguns que se trata, no plano eclesiológico, do encaminhamento a uma Igreja pancristã [24], super-instituição — projeta-se — que reunirá, ao modo de síntese, todos os credos religiosos (hoje: tese e antítese), nos quais agora se encontram sempre o germe fundacional de Cristo e a efusão comum do Espírito Santo. Dessa maneira, despontou uma nova vocação na Igreja que atrai as varie religioni, sem que devam elas reduzir-se à Fé católica: não se tratará mais, como outrora, do retorno dos separados mas de uma reunião do vário, persistentemente vário, sob uma só autoridade não-doutrinária [25].
Naturalmente, adivinha-se que a multiplicidade de crenças constitui um magnífico embaraço para acomodar o espírito de Assis à eclesiologia tradicional da Igreja [26], que sempre a afirmou instituição dotada de especificidade. E compreende-se que o ânimo panreligioso de Assis — por mais que os organizadores do meeting ladeiem a idéia de assinalá-lo — não se molda ao incisivo da doutrina de que, fora da Igreja, neminem salvari. Pode ver-se trivialmente, por meio de singelo cotejo dos artigos de Fé católica com sentenças que lhe são opostas, p.ex., no Corão [27]: negam os muçulmanos a divindade [28] e a ressurreição de Cristo [29], condenam ao inferno os que crêem na Trindade de Deus [30], prescrevem a morte dos infiéis [31]. No plano moral, o cânon das controvérsias não acha compaginações entre muçulmanos e católicos: poligamia vs. monogamia, aborto vs. direito à vida, divórcio vs. indissolubilidade matrimonial etc. Diante de semelhante oposição doutrinária, os partidários do “espírito de Assis” não podem, no campo da doutrina, outra coisa que contentar-se com “verdades” funcionárias: de fato, à raiz, há um mínimo credo panreligioso — que talvez se possa assim compendiar: cremos em uma divindade. Sequer necessariamente se poderá afirmar que essa divindade “comum” transcenda o mundo e o homem. Mas há sempre a evasiva de uma tese nova: todas as religiões têm fundamento em Cristo, e em todas elas há uma efusão do Santo Espírito.
Assis, 1986.
Tudo isso pode corroborar-se pontualmente com a análise da cerimônia de empenhamento pela paz na terceira jornada de Assis-II. Os muitos representantes das varie religioni haviam tomado seus lugares na Piazza San Francesco e ouvido o solene canto de abertura (O Quam Pulchri), quando o cardeal Francis Arinze passou a ler a moção introdutória, destacando as orações de cada uma das religiões então juntadas: “La speranza della pace si è ravvivata durante l’ascolto delle testimonianze e nella preghiera dei vari gruppi” [“A esperança da paz foi revivida durante a audição dos testemunhos e orações dos vários grupos”] (o meeting, com efeito, era uma jornada de orações). Começaram, então, as manifestações singularizadas: de logo, pronunciou-se — tal como oficialmente se designou — Sua Santidade Bartolomeu I, Patriarca Ecumênico, que, grifando a diversidade das várias tradições religiosas, invocou a golden rule da moral laicista: “Faz aos outros o que tu gostarias que te fizessem” [32]. Seguiu-se então a leitura de pronunciamentos de outros líderes religiosos: Konrad Kaiser (do Conselho Ecumênico das Igrejas), Bhai Sahibji Mohinder Singh [33] (da religião sique), o Metropolita Pitirim [34] (ortodoxo russo), Thomas Mar Athanasius [35] (ortodoxo sérvio), o muçulmano Abdel Salam Abuschukhaidem [36], Vasilios [37] (ortodoxo grego), o confuciano Chang-Gyou Choi [38], Hojjatoleslam Ghomi [39] (outro muçulmano), o budista Nichiko Niwano [40] (da associação Rissho Kosei-Kai), o rabino francês Samuel-René Sirat [41] e Mesach Krysetya [42] (da Conferência Menonita Mundial). Ultimou-se com uma impetração – “Dio benedica questi nostri propositi e doni al mondo giustizia e pace” [“Deus abençoe estes nossos propósitos e dê ao mundo justiça a paz”].
Cabe uma averbação breve acerca do caráter desses compromissos — que vieram a frutificar num decálogo da paz [43]. Depois de uma referência inicial de Bartolomeu I “ao dom de Deus” (“nous avons réfléchi ensemble sur la paix, don de Dieu”) e de uma alusão, obiter dictum, de Konrad Kaiser à inadmissibilidade da guerra “em nome de Deus” (“Krieg im Namen Gottes” [44]), só ao final, impetrou-se Dio benedica etc., seguindo-se a menção de Deus no pronunciamento do Papa. Todavia, não se professaram compromissos em nome de Deus: vários dos representantes das diferentes religiões sequer mencionaram a palavra “Deus”. Tratou-se, pois, de um pacto humano, por certo muito respeitável no plano político, ao modo como outros pactos já se celebraram em organizações internacionais. Não surpreende que, diante desse quadro, Alvin e Heidi Toffler hajam podido considerar as grandes religiões — entre elas, o catolicismo — como um subgênero especial das Organizações Não-Governamentais (ONG’s). Toda a coerente preocupação desses autores é com os fundamentalismos — ou seja, a adversão com o liberalismo e a mais ampla tolerância. O que chamam de células de fanatismo são os grupos “para os quais a religião não pode ser mais um hospedeiro passivo” [45]. As grandes religiões — incluso o catolicismo — são convocadas, então, à tarefa de ser órgãos de compreensão e pacificação, organismos a serviço da sociedade global.
O pronunciamento final do Papa carregou-se de marcada esperança:
Mai più violenza!
Mai più guerra!
Mai più terrorismo!
In nome di Dio ogni religione porti sulla terra
Giustizia e Pace,
Perdono e Vita,
Amore!
– nunca mais a violência, nunca mais a guerra, nunca mais o terrorismo. Nunca mais… Acontece que, no mesmo dia 24 de janeiro de 2002, em que se realizava o meeting de Assis-II, um atentado terrorista, em Beirute, redundou na morte, juntamente com mais cinco pessoas, do importante líder falangista cristão libanês Eili Hobeika, a quem se acusara de participação na matança de refugiados palestinos nos acampamentos de Sabra e Chatila em 1982. Dessa morte, Israel inculpou os palestinos, com a cumplicidade síria, ao passo que outros acusaram, diversamente, o governo judeu de Ariel Sharon, de quem Hobeika era aliado ao tempo da carnificina de Sabra e Chatila. Seguiram-se novas investidas israelenses em Gaza, novos atentados palestinos em Jerusalém — destacando-se a primeira mulher terrorista-suicida. As dezenas de conflitos bélicos continuaram em seu ritmo costumeiro, como se não se escutasse o esperançoso grito pontifício: Mai più violenza. Por então, a Índia e o Paquistão preparavam-se para a guerra, que ia continuando seu curso no Afeganistão e no Oriente Médio.
Falou-se na esperança de que in nome di Dio toda religião (ogni religione) traga sobre a Terra justiça e paz, perdão e vida, amor. É difícil, porém, harmonizar essa esperança com a eclesiologia tradicional católica: como será possível que toda religião — universal indefinido que abrange religiões que negam a personalidade de Deus, a divindade de Jesus Cristo, a imaculada conceição de Sua Mãe, a fundação sobrenatural da Igreja etc.– seja convocada para, em nome de Deus, trazer ao mundo “justiça e paz, perdão e vida, amor”? É difícil entender, no âmbito da tradicional teologia católica, que, afastadas da Fé verdadeira, sendo assim injustas com o testemunho de Deus, possam as várias religiões trazer justiça. Também não se compreende como elas podem trazer amor quando não se acham na verdade da Fé [46]. E, mais, que tudo isso possam elas fazer, verdadeiramente, in nome di Dio. Afinal, poderia indagar-se, sempre salva a reverência: quem — que Igreja?, que religião?, com qual autoridade? — representa Deus entre os homens? Ogni religione?
* * *
[1] O Accogliete, illustri é, provavelmente, a mais importante meditação católica sobre a magistratura penal.
[2] Alloc. Summus Pontifex, iis qui interfuerunt VI Conventui nationali Sodalium Consociationis ex iuris catholicis Italiae, hae edidit verba, agens in prima parte de via quae ducit hominem ad reatum culpae et paenae, in altera vero de statu culpae et paenae (5 Decembris 1954), p. 60-71; Alloc. Summus Pontifex, iis qui interfuerunt VI Conventui nationali Sodalium Consociationis ex iuris catholicis Italiae, hae verba edidit, agens in tertia et ultima parte de liberatione a statu culpae et paenae (5 Februarii 1955), p. 72-85.
[3] Uma agência européia de notícias recenseou os conflitos instalados no mundo, ao início de 2002, em mais de 30: Afeganistão, Angola, Argélia, Azerbaijão-Armênia, Cachemira, Chechênia (segunda guerra local; invasão russa e incursões de guerrilheiros islâmicos), Colômbia (combates entre guerrilhas de narcotraficantes, paramilitares e Exército -diante de fracassado plano de paz, ou talvez, segundo alguns, de entrega parcelar da soberania), Coréia, Egito, Etiópia-Eritréia, Filipinas (guerrilhas muçulmanas), Iêmen, Ilhas Salomão, Indonésia, Iraque, Kosovo, Laos, México (subversão zapatista desde 1994), Macedônia (Exército de Libertação Nacional dos albaneses do norte da Macedônia, com o concurso de albaneses do Kosovo), Namíbia, Nepal (guerrilha maoísta), Oriente Próximo (Israel, palestinos), República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Saara Ocidental, Senegal, Serra Leoa, Somália, Sri Lanka, Sudão, Turquiae Uzbequistão. Essas indicações não abrangem as situações de conflito semi-bélico (p.ex., as do campo, no Brasil, em que há um habitual desrespeito armado à propriedade privada e à lei).
[4] Lê-se no Catecismo da Igreja Católica, do Papa João Paulo II: “Antes do advento de Cristo a Igreja deve passar por uma provação final que abalará a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra desvendará o ‘mistério da iniqüidade’ sob a forma de impostura religiosa que há de trazer aos homens uma solução aparente aos seus problemas, às custas da apostasia da verdade. A impostura religiosa suprema é o Anticristo, isto é, a de um pseudo-messianismo em que o homem se glorifica a si mesmo em lugar de Deus e do seu Messias que veio na carne”. Prossegue o texto: “Esta impostura anticrística já se esboça no mundo toda vez que se pretende realizar na história a esperança messiânica que só pode realizar-se para além dela através do juízo escatológico.” E continua: “A Igreja só entrará na glória do Reino através desta derradeira Páscoa, em que seguirá seu Senhor na sua Morte e Ressurreição. Portanto, o Reino não se realizará por um triunfo histórico da Igreja, segundo um progresso ascendente, mas por um vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal, que fará a sua Esposa descer do Céu. O triunfo de Deus sobre a revolta do mal assumirá a forma do Juízo Final, depois do derradeiro abalo cósmico deste mundo que passa” (ns. 675-677).
[5] Ou ainda, numa tentativa de salvar o que se chamou de contra-Syllabus, chegou-se a falar em espírito anticonciliar: um antiespírito do Vaticano II.
[6] Denzinger, 423. O que não exclui a possibilidade de salvação dos que, na linha da teologia católica tradicional, se santificam à distância.
[7] Na Vulgata: “Qui creditum in eum, non iudicatur; qui autem non credit, iam iudicatus est: quia non credit in nomine uinigeniti Filii Dei”.
[8] “Amen, amen dico vobis, quia ego sum ostium ovium. (.) Ego sum ostium. Per me si quis introierit, salvabitur.” (Id.).
[9] “Qui spernit me et non accipit verba mea, habet qui iudicet eum. Sermo quem locutus sum, ille iudicabit eum in novissimo die” (Id.).
[10] “Qui credit in Filium Dei, habet testimonium Dei in se. Qui non credit Filio, medacem facit eum; quia non credit in testimoniam quod testificatus est Deus de Filio suo. (.) Qui habet Filium, habet vitam; qui non habet Filium, vitam non habet” (Id.).
[11] “Qui crediderit, et baptizatus fuerit, salvus erit; qui vero non crediderit, condemnabitur”(Id.).
[12] “Qui vos audit, me audit; et qui vos spernit, me spernit. Qui autem me spernit, spernit eum qui misit me” (Id.).
[13] “Hic est lapis qui reprobatus est a vobis aedificantibus qui factus est in caput anguli: et non est in alio aliquo salus. Nec enim aliud nomen est sub caelo datum hominibus, in quo oporteat nos salvos fieri” (Id.).
[14] “Unam sanctam Ecclesiam catholicam et ipsam apostolicam urgente fidecredere cogimur et tenere, nosque hanc firmiter credmius et simpliciter confitemur, extra quam nec salus est.” (Denzinger, 468).
[15] “Corde credimus et ore confitemur unam Ecclesiam non haereticorum, sed sanctam Romanam, catholicam et apostolicam, extra quam neminem salvari credimus” (Denzinger, 423).
[16] “Tenendum quippe ex fide est, extra apostolicam Romanam Ecclesiam salvum fieri neminem posse, hanc esse unicam salutis arcam, hanc qui non fuerit ingressus, diluvio periturum.” (Denzinger, 1.647).
[17] “Liberum cuique homini est eam amplecti ac profiteri religionem, quam rationis lumine quis ductus veram putaverit” (Denzinger, 1.715); “Homines cuiusvis religionis cultu viam aeternae salutis reperire aeternamque salutem assequi possunt” (Id., 1.716); “Saltem bene sperandum est de aeterna illorum omnium salute, qui in vera Christi Ecclesia nequaquam versantur” (Id., 1.717).
[18] Cit. pela ed. Razón y Fé, Madrid, 1955, p. 30.
[19] Recruta-se de declaração oficial desfiada então por dois prelados católicos: “Roma nos mandou perguntar se tínhamos a intenção de proclamar nossa ruptura com o Vaticano por ocasião do Congresso de Assis. Parece-nos que a pergunta deveria, antes, ser esta: o sr. acredita e tem a intenção de declarar que o Congresso de Assis consuma a ruptura das Autoridades Romanas com a Igreja Católica?”.
[20] “Siamo qui, quali rappresentanti delle varie religioni, per interrogarci di fronte a Dio sul nostro impegno per la pace, per chiederne a Lui il dono, per testimoniare il nostro comune anelito verso un mondo più giusto e solidale”.
[21] “Assisi oggi, come il 27 ottobre del 1986, diventa nuovamente il ‘cuore’ di una folla innumerevole che invoca la pace”.
[22] “El propio Pontífice se ha referido a estos encuentros con una fórmula de acuñación propia, ‘el espíritu de Asís’, al que se refirió de nuevo durante el Ángelus del pasado veinte de enero al decir que ‘un nuevo espíritu -con frecuencia llamado el espíritu de Asís- anima el diálogo interreligioso y lo liga indisolublemente al compromiso por la justicia, la salvaguarda de la creación y de la paz’” (La Razón, Madrid, 22-1-2002).
[23] L’Osservatore Romano, 5-1-2002.
[24] Aos pancristãos, referiu-se Pio XI, já em 6-1-1928, na encíclica Mortalium Animos, item 5.
[25] Cfr. Romano Amerio, op. cit., § 248.
[26] O (então) cardeal Ratzinger pôs o dedo na divergência: “la questione dello stato specifico della Chiesa cattolica, che si esprime nella formula secondo cui la Chiesa una, santa, cattolica ed apostolica, di cui parla il Credo, ‘subsistit in Ecclesia catholica’: lascio questa famosa formula qui dapprima non tradotta, perché essa -come era previsto- ha trovato le spiegazioni più contraddittorie -dall’idea, che qui si esprima la singolarità della Chiesa cattolica unita al Papa fino all’idea che qui sia stata raggiunta un’equiparazione con tutte le altre Chiese cristiane e la Chiesa cattolica abbia abbandonato la sua pretesa di specificità” (conferência de 27-2-2000).
[27] O tema do respeito ao Corão, no meeting de Assis, foi amplamente explorado pela televisão iraquiana.
[28] Azora 19, 89: “Dizem os cristãos: ‘O Muito Misericordioso teve um filho’. Dizendo isto dizeis uma coisa monstruosa”.
[29] Azora 4, 156-157: “Disseram [os judeus]: ‘Em verdade, matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Apóstolo de Deus’. Mas não o mataram, não o crucificaram; foi um homem que se parecia com Jesus o que mataram. Em verdade, os que diferem a propósito disso duvidam sobre essa questão por não ter acerca dele [de Jesus] um conhecimento certo, limitando-se a seguir uma opinião. Que não o mataram é certo; o que ocorreu foi que Alá o levou junto a Ele, porque Alá é poderoso e sábio”.
[30] Azora 5, 74-75: “Infiéis são os que dizem: ‘Em verdade, o Messias, o filho de Maria, é Deus’. Mas não disse o próprio Messias: ‘Oh Filhos de Israel! Adorai a Deus, meu Senhor e vosso Senhor?’. Em verdade, àquele que associa outros deuses a Alá, Alá lhe proíbe o Paraíso, e sua morada será o Fogo, pois aos injustos ninguém poderá socorrê-los”.
[31] Azora 9, 29: “Matai aos que não crêem em Alá, nem no último Dia, e não proíbem o que Alá e seu Apóstolo proibiram, e a todo aquele que não pratique a religião da verdade entre os que receberam o Livro, até que hajam pago o tributo com suas próprias mãos e estejam humilhados”. Azora 9, 30-31: “Os judeus dizem: ‘Oziar [Esdras] é filho de Deus’. Os cristãos dizem: ‘O Messias é filho de Deus’. Estas são as palavras de sua boca; imitam o que diziam os que eram infiéis antes que eles. Que Alá lhes faça a guerra! São uns embusteiros!”.
[32] “Réunis ici a Assise, nous avons réfléchi ensemble sur la paix, don de Dieu et bien commun de l’humanité entière. Bien qu’appartenant à des traditions religieuses diverses, nous affirmons que, pour construire la paix, il est nécessaire d’aimer le prochain, en respectant la règle d’or: ‘Fais aux autres ce que tu voudrais que l’on te fasse’”.
[33] “Comprometemo-nos a educar ao povo em mútuos respeito e estima, para favorecer uma convivência fraterna e pacífica entre pessoas de diferentes grupos étnicos, culturas e religiões” (Bhai Sahibji Mohinder Singh).
[34] “Comprometemo-nos a promover a cultura do diálogo para que cresçam a compreensão e a confiança recíproca entre indivíduos e povos, pois são essas as premissas da paz autêntica” (Pitirim).
[35] “Comprometemo-nos a defender o direito de toda pessoa humana a viver uma existência digna, segundo sua própria identidade cultural e a formar livremente uma família” (Thomas Mar Athanasius).
[36] “Comprometemo-nos a dialogar com sinceridade e paciência, sem considerar o que nos diferencia como um muro impossível de superar, senão que, ao contrário, reconhecendo que o encontro com a diversidade dos demais pode converter-se em uma oportunidade para melhorar a compreensão recíproca” (Abdel Salam Abuschukhaidem).
[37] “Comprometemo-nos a perdoar-nos mutuamente os erros e preconceitos do passado e do presente, e a apoiar-nos no comum esforço por derrotar o egoísmo e a prepotência, o ódio e a violência, assim como a aprender do passado que a paz sem a justiça não é uma autêntica paz” (Vasilios).
[38] “Comprometemo-nos a estar do lado dos que sofrem por causa da miséria e do abandono, fazendo-nos porta-vozes de quem não tem voz e trabalhando concretamente para superar essas situações, com a convicção de que ninguém pode ser feliz sozinho” (Chang-Gyou Choi).
[39] “Comprometemo-nos a fazer nosso o grito de quem não se resigna com a violência e o mal, e queremos contribuir, com todas as nossas forças, para dar à humanidade de nosso tempo uma esperança real de justiça e de paz” (Hojjatoleslam Ghomi).
[40] “Comprometemo-nos a alentar toda iniciativa que promova a amizade entre os povos, convencidos de que o progresso tecnológico, quando falta um entendimento solidário entre os povos, expõe o mundo a crescentes riscos de destruição e morte” (Nichiko Niwano).
[41] “Comprometemo-nos a pedir aos líderes das nações que façam todos os esforços possíveis para criar e consolidar, em âmbito nacional e internacional, um mundo de solidariedade e paz, baseado na justiça” (Samuel-René Sirat).
[42] “Como pessoas de diferentes tradições religiosas, proclamaremos sem descanso que a paz e a justiça são indissociáveis e que a paz e a justiça são o único caminho pelo qual a humanidade pode avançar para um futuro de esperança. Num mundo no qual as fronteiras estão cada vez mais abertas, e as distâncias mais curtas, em virtude de uma ampla rede de comunicações, estamos convencidos de que a segurança, a liberdade e a paz nunca serão garantidas pela força, senão que pelo entendimento mútuo” (Mesach Krysetya).
[43] Segue o texto do “Decalogo di Assisi per la Pace”: “1. Ci impegniamo a proclamare la nostra ferma convinzione che la violenza e il terrorismo si oppongono al vero spirito religioso e, condannando qualsiasi ricorso alla violenza e alla guerra in nome di Dio o della religione, ci impegniamo a fare tutto il possibile per sradicare le cause del terrorismo. 2. Ci impegniamo a educare le persone al rispetto e alla stima reciproci, affinché si possa giungere a una coesistenza pacifica e solidale fra i membri di etnie, di culture e di religioni diverse. 3. Ci impegniamo a promuovere la cultura del dialogo, affinché si sviluppino la comprensione e la fiducia reciproche fra gli individui e fra i popoli, poiché tali sono le condizioni di una pace autentica. 4. Ci impegniamo a difendere il diritto di ogni persona umana a condurre un’esistenza degna, conforme alla sua identità culturale, e a fondare liberamente una propria famiglia. 5. Ci impegniamo a dialogare con sincerità e pazienza, non considerando ciò che ci separa come un muro insormontabile, ma, al contrario, riconoscendo che il confronto con la diversità degli altri può diventare un’occasione di maggiore comprensione reciproca.
6. Ci impegniamo a perdonarci reciprocamente gli errori e i pregiudizi del passato e del presente, e a sostenerci nello sforzo comune per vincere l’egoismo e l’abuso, l’odio e la violenza, e per imparare dal passato che la pace senza la giustizia non è una pace vera. 7. Ci impegniamo a stare accanto a quanti soffrono per la miseria e l’abbandono, facendoci voce di quanti non hanno voce e operando concretamente per superare simili situazioni, convinti che nessuno possa essere felice da solo. 8. Ci impegniamo a fare nostro il grido di quanti non si rassegnano alla violenza e al male, e desideriamo contribuire con tutte le nostre forze a dare all’umanità del nostro tempo una reale speranza di giustizia e di pace. 9. Ci impegniamo a incoraggiare qualsiasi iniziativa che promuova l’amicizia fra i popoli, convinti che, se manca un’intesa solida fra i popoli, il progresso tecnologico espone il mondo a crescenti rischi di distruzione e di morte. 10.Ci impegniamo a chiedere ai responsabili delle nazioni di compiere tutti gli sforzi possibili affinché, a livello nazionale e a livello internazionale, sia edificato e consolidato un mondo di solidarietà e di pace fondato sulla giustizia”.
[44] “Indem wir jede Gewaltanwendung und den Krieg im Namen Gottes oder der Religion verurteilen, verpflichten wir uns, alles Mögliche zu unternehmen, um die Ursachen des Terrorismus zu beseitigen” (em vernáculo: “Como condenamos todo recurso à violência ou à guerra em nome de Deus ou da religião, comprometendo-nos a fazer tudo o que nos seja possível para desarraigar as causas do terrorismo”).
[45] Alvin Toffler e Heidi Toffler, “A Fé e a Desordem”, O Estado de S.Paulo, 27-1-2002, A15.
[46] Disse Pio XI: “Sem Fé não há verdadeira caridade. (.) a caridade se apóia na Fé íntegra e sincera como que em um fundamento.” (Mortalium Animos, n. 13)
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