Pe. Leonel Franca S.J.: “A Igreja, a Reforma e a Civilização”, Livro III, Capítulo III, 1. Igreja, Reforma e Moral:
A moral escrava dos apetites contraditórios
“O protestantismo foi o último galho lascado da árvore católica. Seus restos cobrem ainda larga parte da Europa setentrional.
“Aos olhos de observadores superficiais apresenta ainda o viço de uma verdura luxuriante. Mas são apenas folhas. Flores e frutos já os não produz.
“A mesma infecundidade moral que esterilizou as outras revoltas religiosas feriu também a do monge saxônio.
“Procurai os santos do protestantismo em quatro séculos de existência, inquiri do heroísmo dos seus filhos, investigai-lhes os milagres que são sigilo da divindade; não encontrareis, sob estes títulos, senão páginas em branco.
“Homens honestos, virtudes cristãs que não transcendem os limites da mediocridade, é o mais que nos podem oferecer os seus anais.
“A graça, nos segredos insondáveis da sua ação sobrenatural, pode ainda fecundar a boa fé e a intenção reta dos extraviados.
“Mas o segredo do heroísmo cristão, esse perdeu-se para as almas de escol, enquanto as grandes massas, destruídas as barreiras preservadoras, se precipitaram, sob a impetuosidade torrencial das paixões, nos grandes excessos, que cedo ou tarde acarretam a completa, dissolução da vida moral e religiosa.
“É esta decadência do protestantismo que ora nos cumpre esboçar. Distinguiremos no nosso estudo duas questões: a questão de direito e a questão de fato.
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Martinho Lutero (1483 — 1546). History of the World, |
1902. |
“Analisando abstratamente os princípios, provaremos primeiro a incapacidade profunda e insanável em que se acha o protestantismo de promover a grandeza moral dos que o abraçaram e confirmaremos, em seguida, com o exame dos fatos, a verdade das nossas conclusões teóricas.
“Na ordem natural e na ordem sobrenatural a Reforma protestante golpeou de morte os órgãos vitais da moralidade humana e da moralidade cristã.
“Na ordem natural, são dois os elementos fundamentais da grandeza de caráter: princípios sólidos e imutáveis a iluminar as alturas da inteligência, força e constância de querer a fortificar as energias da liberdade.
“Sem a firmeza das verdades eternas que lhe fixam o ideal na corrente movediça das coisas que passam, o homem vive, ou, melhor, flutua à mercê dos acontecimentos.
“Cada capricho que lhe cruza pelo espírito, inspira-lhe uma resolução passageira, cada paixão, que lhe estua na alma, imprime uma orientação efêmera à sua atividade.
“No conflito dos apetites contraditórios nenhuma ordem, nenhuma unidade, nenhuma harmonia de tendências, nenhuma subordinação hierárquica de faculdades. é nesta hesitação vacilante acerca dos grandes princípios moderadores da atividade humana que devemos procurar a causa primeira da crise de caracteres de que adoece a nossa civilização.
“Jouffroy: “Personne n'a du caractère dans ce temps et par une bonne raison, c'est que des deux éléments dont le caractère se compose, une volonté ferme et des principes arrêtés, le second manque et rend inutile le premier”.
Foi o protestantismo o primeiro a abalar nas almas a estabilidade das convicções. Perguntai ao protestante qual o princípio regulador da sua atividade moral.
– A Bíblia, responderá, a Bíblia, única regra dos costumes como norma única de fé.
– Mas a Bíblia quem a interpreta? A razão individual. Se vos apraz, podereis ver no livro divino, com Lutero, a condenação da virgindade, a justificação da poligamia, a inutilidade das boas obras. A razão, pois, a razão subjetiva e mutável ao sabor das paixões, eis, em última análise, a regra de nosso operar.
“As massas, desvinculadas assim da submissão a uma autoridade superior e incapazes de deduzir pessoalmente do livro inspirado um código de moral, deixar-se-ão levar pela torrente avassaladora dos apetites desregrados.
“Os cultos, os intelectuais, vagando à mercê das variações da crítica racionalista, erigirão os próprios preconceitos em mandamentos étnicos, construirão uma moral “independente” e oscilante sobre a areia movediça dos sistemas filosóficos.
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Lutero, ex-frade agostiniano, tocando alaúde
junto a sua mulher Catarina, ex-freira, e filhos |
“Para o jovem inebriado com os primeiros fumos da ciência, as regras aprendidas e praticadas na infância já não apresentam a solidez racional capaz de resistir aos embates críticos dos moderníssimos mestres do pensamento.
“O homem maduro achar levianas e superficiais as conclusões assentadas nos fervores entusiastas da juventude. Ao velho experimentado e desiludido afigurar-se-ão inconsistentes e eivadas de orgulho as construções morais de sua virilidade.
“Destarte, de povo para povo, de época para época, de indivíduo para indivíduo, de idade para idade, os princípios morais variarão com a índole, com os caprichos da moda intelectual, com as paixões que agitam e diversificam as massas humanas no espaço e no tempo.
“O protestantismo em quatro séculos de existência, como não logrou assentar uma confissão de fé que reunisse o sufrágio universal das inteligências, assim não conseguiu estabelecer um código de moral que se impusesse à submissão de todas as vontades.
“A sua moralidade furta-côr, o seu preceituário de mil fórmulas cambiantes, os seus mandamentos entregues à versatilidade interesseira do egoísmo, arvorado em norma suprema de ação, comprometeram irremediavelmente no domínio intelectual a eficácia regeneradora dos grandes e imutáveis princípios do cristianismo”.
Citação: ”L'homme est toujours disposé à échapper à la morale, et il y échape quand cette morale n'est pas liée à une doctrine invariable”, De Broglie, Problèmes et conclusions de l'histoire des religions, Paris, 1886, pp. 115-116.
Lutero: golpe contra a vontade
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Lutero: “a vontade do homem é semelhante a um jumento.
Deus opera em nós o mal” |
Mais profundo ainda foi o golpe vibrado contra a vontade. O espírito, desenfreara-o Lutero com o livre exame; a liberdade, encadeou-a nos elos de um determinismo fatal.
Esse homem, que uma crítica míope e pertinazmente hostil à Igreja proclamou o arauto das liberdades humanas, o emancipador dos povos livres, professa as teorias mais degradantes acerca do livre arbítrio, rebaixa a dignidade da nossa natureza ao nível do bruto, ao mecanismo inconsciente dos autômatos.
Para a Igreja católica o homem é livre. O pecado original vulnerou-lhe a prerrogativa divina, mas não a destruiu.
Na revolta das paixões desencadeadas pela primeira prevaricação, na insurreição da concupiscência e dos apetites inferiores contra os ditames superiores do espírito, a vontade, debilitada sim, mas não aniquilada, conservou na sua decadência o cetro da realeza primitiva.
Ela é ainda rainha; o homem é ainda senhor de seus atos e, pela liberdade, o artífice dos seus destinos.
A graça eleva, fortifica, sobrenaturaliza a vontade, mas no segredo insondável de sua ação nas almas, respeita-lhe sempre a independência nativa.
“A felicidade suprema da glória será conquista dos nossos esforços, prêmio das nossas virtudes, triunfo de nossa liberdade sobre o mal.
As palavras de S. Paulo: gratia Dei mecum, resumem admiravelmente toda a economia da predestinação divina. Deus e eu: Deus, com a sua graça, eu, com a minha livre cooperação: eis os elementos essenciais e inseparáveis da nossa glorificação sobrenatural. Não se poderia melhor conciliar a gratuidade das generosidades divinas com a grandeza da dignidade humana.
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Martinho Lutero pregando no Castelo de Wartburg, quadro de Hugo Vogel (1855-1934) |
À verdade destas doutrinas que elevam, opôs Lutero as degradações do erro que avilta. Aos estudos católicos sobre a liberdade contrapôs um livro desmoralizador e intitulou-o De servo arbítrio, do arbítrio escravo.
Para envilecer o homem era mister começar por desengastar-lhe do diadema a mais preciosa das suas joias. Mas ouvi as suas próprias palavras:
“A vontade do homem é semelhante a um jumento. Cavalga-o Deus? Ela vai aonde Deus a guia. Monta-lhe em cima o diabo? Ela vai aonde ele a conduz...
“Tudo se realiza segundo os decretos imutáveis de Deus. Deus opera em nós o mal e o bem. Tudo quanto fazemos, fazemo-lo não livremente, mas por pura necessidade”..
Fonte: De servo arbitrio ad Erasmum (1525) Weimar, XVIII, 635-709 ss.
“Foi o diabo quem introduziu na Igreja o nome de livre arbítrio”, Weimar, VII, 145.
Os discípulos fazem eco à palavra do mestre. Calvino:
“Deus criou alguns para a condenação e morte eterna a fim de serem instrumentos de sua ira e exemplos da sua severidade, e a fim de que cheguem a esse destino... cega-os e endurece-os”.
“Se ele determinou salvar-nos, a seu tempo nos levará à salvação; se determinou condenar-nos em vão nos atormentaríamos para nos salvarmos”..
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João Calvino (1509 — 1564). |
Fonte: Calvinus, Inst. de la relig chré t.,l. III, c. 24, n. 12; c. 23, n. 12, Opera, IV, 521, 500. Todo o cap. 2 do livro II é consagrado a demonstrar “que l'homme est maintenant dépouillé de franc-arbitre et misérablement assujetti à tout mal”, Opera, III, 296.
Zwinglio: “Deus é o primeiro princípio do pecado. é por divina necessidade que o homem comete todos os crimes”..
Fonte: Zwinglio, Verke, II, 73, 184.
Melanchthon: “A predestinação divina tira ao homem a liberdade porque tudo acontece segundo os seus decretos... e isto entende-se não só das obras externas mas ainda dos internos pensamentos”.
E, levando a doutrina às mais execrandas, porém, lógicas conclusões, não hesita em afirmar que
“o adultério de David e a traição de Judas são obra de Deus como a conversão de S. Paulo”. Fonte: Melanchthon, Comment. in Epist. ad Rom. Ver todo o trecho em Alzog, Universalgeschichte der chrislichen Kirche,Mainz, 1860, p. 755.
– Deus, autor do mal, o homem joguete inconsciente dos seus arbítrios, tal o resumo da doutrina protestante. Nunca a blasfêmia e a indignidade, o ultraje à santidade divina e à grandeza humana concluíram mais revoltante conspiração.
E aí temos como Lutero e os seus aniquilam o valor da personalidade. Sem livre arbítrio não há imputabilidade, não há mérito, não há moralidade. Em tudo o que se refere à sua atividade moral, o homem não passa de uma “est tua”, de um “tronco inerte”, de uma “pedra”.
São ainda comparações do chefe reformador, que considerava este artigo da vontade escrava como a quinta essência, a fina flor da sua doutrina, “omnium optimus, et rerum nostrarum summa”. Fonte: Weimar, VII, 148. Cfr. J. T. Mühler, Die symbolischen,Bücher, p. 593.
Após 15 séculos de liberdade cristã eis-nos novamente precipitados na escravidão do fatalismo antigo.
O porco no chiqueiro: ideal moral de Lutero!
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Porco na lama ideal moral de Lutero |
Quereis ver ainda até a que baixezas o homem é degradado na pena de Lutero?
Lêde esta página que peço desculpas ao leitor de transcrever em toda a nudez cínica do seu realismo cru:
“Sei que se alguém experimentou o temor e o peso da morte preferira ser um porco a ver-se continuamente acabrunhado pelo vexame de semelhante opressão.
“Na sua lama, o suíno julga-se num leito de plumas; descansa pacificamente, ronca suavemente, dorme tranqüilamente; não teme reis nem senhores, morte nem inferno, demônio nem cólera divina; não o agita a menor preocupação, não se inquieta mesmo com a bolota que há de comer.
“E se o sultão de todas as Turquias acertasse de passar-lhe ao lado no fasto do seu poder e de sua realeza, ele conservaria toda a sua altivez e não sacudiria em sua honra uma só das suas cerdas.
“Se o enxotam, solta um grunhido, e se pudera falar diria: Pobre insensato, por que te irritas?
“Não tens a décima parte da minha felicidade, não passarás nunca uma só hora tão tranqüila, tão suave, tão calma, como todas as minhas ainda que fôras dez vezes mais rico e poderoso.
“Numa palavra, o porco vive numa segurança completa, sua vida é toda doçuras. Se o levam para o matadouro, pensa simplesmente que é um tronco de madeira ou uma pedra que o incomoda.
“Até morrer, não espera a morte. Antes, no momento e depois da morte, não experimenta o que é morrer; a vida lhe pareceu sempre boa e eterna.
“Neste ponto, nenhum rei, nem mesmo o messias dos judeus (o que eles ainda esperam), homem algum por mais hábil, rico, santo e poderoso, o poderá imitar”.
Fonte: Ap. Paquier, Luther et le luthéranisme, t. 11, pp. 10-11.
Nos inquilinos das pocilgas achou o reformador o ideal da felicidade!
Hino agora ao emancipador da dignidade humana, palmas ao libertador das consciências!
A contestação protestante demolindo as verdades consoladoras
Depois de haver assim na ordem humana desorganizado as duas grandes molas da vida moral, substituindo na inteligência a estabilidade dos princípios pela arbitrariedade do capricho e enervando a vontade com declará-la radicalmente incapaz de praticar a virtude, na sua freima demolidora atiraram-se os corifeus da Reforma sobre o edifício sobrenatural dos nossos dogmas e, um por um, destruíram os mais divinamente consoladores.
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Catedral de S.Martinho, Utrecht, atacada pela iconoclastia protestante em 1572.
Destruíram as imagens e as virtudes que elas representavam.
Inclusive o próprio Deus acima representado!
Felizmente, o conjunto artístico já foi restaurado. |
Com todo o peso de sua divina autoridade, Cristo impôs ao gênero humano o jugo austero da sua moral imaculada.
Ao homem decaído que se revolvia no lodo dos vícios mais abjetos, dirigiu a voz taumaturga da regeneração: sursum, para o alto! Eleva-te a rivalizar com os anjos na pureza da vida!
Mas ele bem conhecia a fragilidade da nossa argila, as profundezas do abismo em que nos precipitara o pecado e por isso adoçou as severidades do dever com as suavidades do amor.
Ao lado de cada espinho fez desabrochar uma rosa.
Vigorizou as pusilanimidades do nosso abatimento com os raios vivificantes da esperança.
Sobre a nossa esterilidade abriu, aos borbotões, as fontes perenes da sua graça.
O protestantismo revoltado não teve fé nos excessos da caridade divina e, com a negação, introduziu a desordem nos planos admiráveis da economia salvadora.
Que de mais confortante para o miserável pecador que o dogma das indulgências?
Que de mais consolador que o dogma do purgatório onde se purificam as almas dos justos das nódoas contraídas na sua peregrinação terrena?
Que de mais justo e misericordioso que a diferença entre o pecado mortal e o venial, a estabelecer uma distinção entre os crimes que nos matam na alma a vida divina da graça e as faltas a que se não pode subtrair a nossa fragilidade?
Que de mais suave que a comunhão dos santos,a instituir na ordem sobrenatural esta solidariedade, em virtude da qual somos fortificados pela intercessão e pelo mérito de nossos irmãos?
O protestantismo levantou o aluvião sacrílego contra todas estas admiráveis construções do amor divino. De todas elas não restam senão ruínas acumuladas pela negação destruidora.
A recusa da confissão, do perdão e da Eucaristia
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O sacramento da Penitência, vitral na igreja
de Nossa Senhora dos Mártires Ingleses, Cambridge, Inglaterra. |
Mas de todas as invenções da misericórdia encarnada não há outras que tão de perto toquem a nossa vida moral e tão intimamente se prendam ao coração do cristianismo como a confissão e a Eucaristia.
A confissão é o arrependimento, é o perdão, é o propósito.
O arrependimento que apaga um passado de culpas, o perdão que verte sobre o presente o bálsamo das suas consolações inefáveis, o propósito que ilumina o futuro com as perspectivas da regeneração.
Que alavanca mais poderosa para a atividade moral?
Lançar frequentemente nas consciências a sonda de um exame imparcial, resgatar com lágrimas sinceras os desvarios da nossa liberdade, firmar as energias do nosso querer com o vigor das resoluções incondicionadas, abrir toda a alma às influências reabilitadoras da graça, aos raios da esperança, à tranquilidade fecunda da paz de consciência – haverá humanamente falando, divinamente falando, meio mais eficaz para elevar é conservar o coração nas regiões serenas da virtude?
O protestantismo negou tudo isto, e negando-o “desconheceu um dos meios mais suaves para dar à vida do homem uma orientação conforme aos princípios da sã moral”. Fonte: Balmes, El protestantismo, c. 30.
Pecaste? persuade-te que Deus te perdoou, que a sua justiça cobre os teus pecados, que a tua fé é inadmissível e, com a fé, a graça.
Se esta persuasão entrou na alma é o descanso no pecado, o hábito do mal, o endurecimento; se não, é o terror, o desespero. Compreendo agora em lábios protestantes estes gritos da alma:
“Oh! que não daria eu para ajoelhar-me num confessionário católico! (M. de Stael).
“Quem não lançou olhos invejosos ao tribunal da penitência?
“Quem não desejou nas amarguras do remorso, nas incertezas do perdão divino, ouvir uns lábios, que, com o poder de Cristo, lhe dissessem: “Vai em paz, teus pecados te são perdoados”?”
Fonte: E. Naville, Thèse defendue devant l'Académie de Genève, 1839. Cit. por E. Duplessy, Les apologistes au dix-neuvième siècle, Paris, Beauchesne, 1910, p. 238.
A confissão é o amor que perdoa e regenera. A eucaristia é o amor que se imola, o amor que se comunica às almas nos amplexos inefáveis de uma união divina.
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Negada a confissão, como afirmar a Eucaristia?
Lutero também aqui deu o primeiro passo na via das negações. |
Quem não teve fé no amor misericordioso, não pode compreender o amor unitivo. Negada a confissão, como afirmar a Eucaristia? Lutero também aqui deu o primeiro passo na via das negações.
A hóstia consagrada não é o corpo de Cristo, contém-no apenas transitoriamente. Calvino foi além e no mistério dos nossos altares viu, não uma realidade consoladora, mas apenas um símbolo, uma figura vazia de verdade.
Daí à negação completa a distância era pequena e transpuseram-na logo os seus sucessores. A missa foi proscrita como rito idolátrico e os tabernáculos ficaram vazios na solidão dos templos protestantes.
Mas que vale um cristianismo sem Eucaristia: sem a Eucaristia-sacrifício, centro em torno do qual gravita toda a vida litúrgica, sem a Eucaristia-sacramento, fonte donde mana, em torrentes, a graça, vida sobrenatural dos crentes?
Extinguiram o fogo; o amor entibiou-se nos corações. Estancaram os mananciais; as almas esterilizaram-se.
As flores mais belas, que no cristianismo haviam desabrochado ao sol de Jesus-Hóstia, feneceram à míngua de calor e de luz.
Murcharam os lírios, esmaeceram as rosas, secaram as violetas. O sacerdócio casou-se, os mosteiros despovoaram-se, o apostolado mercantilizou-se, a caridade exilada das almas buscou um refúgio nas leis e passou do coração para a algibeira.
O protestantismo não tem Irmãzinhas dos pobres, Irmãos de S. Vicente, não tem ordens religiosas, não tem ministros continentes, não tem legiões de mártires nem de virgens.
Onde quer que a virtude se eleva à altura do heroísmo, não achou discípulos entre os descendentes de Lutero. O heroísmo cristão alimenta-se no sangue generoso de Cristo.
Luz de Cristo x trevas da irracionalidade: Pe. Leonel Franca S.J.
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