5. Paródia das indulgências: crânio de São João e outros

Desnecessário também é comentar o exagero absurdo, que beira o cômico, da venda de indulgências em Roma. Quase não sobram ruas vazias na Cidade Eterna, qualquer cantinho é oportuno para vender a salvação.

Assim como Lutero, os forjadores do filme só viram maldade e corrupção em Roma. Nada viram ali de belo e de santo.

Para eles as bem apropriadas palavras de Veuillot sobre a Cidade Eterna: Comme le Dieu qui la remplit, elle se révèle aux humbles et se cache aux superbes.” (Veuillot: 8)

Também, convém notar como os católicos são sempre retratados como miseráveis e fanatizados, enquanto o clero explorador das indulgências invariavelmente verga o hábito de São Domingos. Talvez seja o ódio de Lutero e luteranos ao maior teólogo de todos os tempos, São Tomás de Aquino.

Mas o filme – de novo – omite que Lutero pronunciou um sermão a favor das indulgências em Julho de 1516, mostrando – conforme a doutrina Católica, que a indulgência não é remissão do pecado, mas “remissão da pena temporal devida ao pecado, que o penitente deve sofrer, seja da maneira como foi imposta pelo padre, seja que ele tenha que sofrer no purgatório,” e continua:
“ninguém pode sentir-se seguro da salvação.”

E ajuntando:

“Ganham indulgência plenária apenas aqueles que tenham se reconciliado com Deus por meio de verdadeira contrição e confissão.” (Grisar: 89)

E ainda, surpreendentemente, sobre o fundamento das indulgências:

“Elas são o mérito de Cristo e de Seus santos [i.e. elas derivam sua eficácia desse tesouro de méritos], e nós devemos, portanto, estimá-las com toda reverência devida.” (Grisar: 89-90)

É exatamente a doutrina que Lutero irá atacar nas suas 95 teses, no ano seguinte. Os historiadores sérios mostram que as indulgências não passaram de pretexto para a erupção da revolução. O filme quer passar a idéia que a Igreja realmente vendia a salvação...

Curioso é que, no filme Lutero, coloca-se essa doutrina na boca de Spalatin, que defende o eleitor Frederick, ávido consumidor de relíquias e indulgências. E Lutero responde apenas com um sorriso de desdém...


6. Staupitz oferece a Lutero a possibilidade de ler a Bíblia em Wittemberg

Uma outra distorção clara do filme é a sugestão de que Lutero nunca teria lido a Bíblia (Novo Testamento) antes de ir a Wittemberg.

Falso!

Completamente falso!

Uma das regras do mosteiro de Erfurt rezava que:

“sobretudo a obrigação de “ler a Bíblia com fervor, escutar sua leitura com devoção, e aprendê-la com assiduidade.” (Grisar: 44)

O rebelde alemão parecia mesmo ter muito interesse na Bíblia, de acordo com o relato do mestre de noviços (Grisar: 44)

E Köstlin também reconhece que Lutero lia a Bíblia em Erfurt, e acrescenta que Staupitz teria ordenado a leitura ZELOSA da Bíblia! (Köstlin: 43)

Lutero entrou no mosteiro de Erfurt em 1505. Só três anos depois ele irá a Wittemberg. Durante todo esse tempo leu a Bíblia, sim senhor.

Infelizmente...

E o rebelde teve ainda contato anterior com a Bíblia, na Universidade de Erfurt, aos 20 anos. (Köstlin: 36)

Por ser um livro raro e precioso, a Bíblia se encontrava presa à estante por uma corrente, o que deu origem a mais uma lenda protestante, a da “bíblia acorrentada” (sic!). Lutero usará esse episódio para criticar a Igreja por manter a Bíblia longe do alcance do povo, usando levianamente o fato do livro Sagrado estar preso à estante.

Ora, até hoje é costume manter presos os livros mais raros e valiosos em qualquer biblioteca do mundo, e não era diferente em Erfurt. Antes do advento da imprensa, a Bíblia – e muitos outros livros – eram caros e difíceis de reproduzir, justificando plenamente essa medida. (Grisar: 432)

E além do mais, a aparição de Hans Luther em Erfurt na ordenação do filho revela uma informação preciosa: a de que o povo conhecia a Bíblia!

Pois Hans diz ao filho rebelde: “Por acaso não leste na Escritura que o quarto mandamento manda honrar os pais?” . E Köstlin é mais explícito, revelando o que disse o pai de Lutero no almoço que se seguiu à ordenação: "Learned brothers, have you not READ in Holy Writ, that a man must honour father and mother? ". (Köstlin, 54).

O pai de Lutero era camponês, e conhecia a Escritura! E soube inclusive aplicá-la muito bem!! Portanto, é mentira que a Igreja negava ensinar a doutrina ao povo mais simples. É mentira que a Igreja escondia a Bíblia.


7. Dr. Carlstadt, Lutero e o Extra ecclesia nulla salus

O Dr. Carlstadt foi dos primeiros a aderir a Lutero.

E essas coisas não acontecem do dia para a noite: é evidente que o professor de Wittemberg já tinha idéias péssimas, e que instigado pelo rebelde lançou-se então fanaticamente contra a Igreja.

Em seguida se lançará avidamente em busca de uma mulher, violando seu voto de padre, pois não há herege sem concubina.

Depois se lançará contra o próprio Lutero, sendo inclusive expulso da Saxônia por intercessão do monge rebelde, graças à tolerância religiosa da reforma...

Em um diálogo que provavelmente nunca ocorreu, Lutero interpela Carlstadt sobre a salvação fora da Igreja, reclamando o destino dos ortodoxos; dos santos ortodoxos (sic!): Carlstadt então cita a autoridade do V Concílio de Latrão, que definiu a questão mostrando que fora da Igreja Católica não há salvação, conforme a famosa sentença de São Cipriano “extra ecclesia nulla salus”. Lutero então diz que o IV Concílio de Latrão se opunha ao V de Latrão, ao admitir que poderia haver salvação fora da Igreja, embora não fora de Cristo.

Ora, mas não há nada mais falso!

Assim se pronunciou o IV Concílio de Latrão, em seu Cânon 1:

“Há apenas uma Igreja Universal dos fiéis, fora da qual não há absolutamente salvação (“There is one Universal Church of the faithful, outside of which there is absolutely no salvation”) (http://www.intratext.com/IXT/ENG0431/_P1.HTM)

Que – diga-se de passagem – concorda inteiramente com o que disse o V de Latrão, em sua Sessão 11 (Dez de 1516):

“Pois, regulares e seculares, prelados e seus fregueses (...) pertencem à única Igreja Universal, fora da qual ninguém pode se salvar, e todos têm um Senhor e uma fé.”(http://www.intratext.com/IXT/ENG0067/_PT.HTM#O4T)

Portanto, mais uma boa e grossa mentira luterana...

Vale acrescentar que Lutero irá recusar e desqualificar toda autoridade com sua revolta, apelando à autoridade no início apenas por hipocrisia, para ganhar tempo e fazer um mal maior dentro da Igreja.

Assim, irá elogiar o Papado até ser excomungado; uma vez condenado pelo Papa, irá apelar ao Concílio, que evidentemente irá rejeitar posteriormente; também, aceitará a arbitragem das universidades até que elas declarem seus escritos heréticos, quando então passará a recusar sua autoridade com uma violência inaudita.

O diálogo com Carlstadt é apenas mais uma idealização de Lutero, passando a idéia de que o rebelde era imbatível nos debates e que a Igreja só possuía ignorantes e sofistas.

É por isso que o filme Lutero não mostra a Disputa de Leipzig, pois seria difícil conciliar a imagem superior de Lutero com a derrota na disputa com o teólogo Católico John Eck, que conseguiu encurralar o revolucionário alemão para que negasse toda autoridade da Igreja (Papa e Concílios) e mostrar-se verdadeiramente um herege. (Grisar: 115-116)

Nessa famosa disputa, Eck fez Lutero negar os livros que na Bíblia defendem o Purgatório, fundamento das indulgências que Lutero atacava.

Eck venceu de tal modo a disputa, que como conseqüência o Duque George da Saxônia firmou posição definitiva a favor da Igreja, e as universidades de Colônia e Louvain condenaram as doutrinas heréticas de Lutero. (Llorca: 671)

O fato relevante é que as universidades haviam sido invocadas como árbitros da disputa, e seu veredicto então deveria ser aceito pelos participantes. As universidades de Paris e Erfurt também irão condenar Lutero, embora mais tarde (Llorca: 671)

Mais curioso ainda é que Lutero havia dito no começo que aceitaria as sentenças das universidades. Quando Colônia e Louvain rejeitaram várias de suas proposições, Lutero escreveu uma Responsio, onde pretendia mostrar “a vaidade e nulidade de tais veredictos acadêmicos em geral.” Dizia ainda, em linguagem que lhe era própria:

“Até que eles o refutem, (...) considera as condenações como se fossem imprecações de uma meretriz bêbada (sic!). Os professores de Louvain e Colônia são caracterizados como “asnos” em carta a Spalatin.” (Grisar: 149)


Embora tenha perdido a disputa de Leipzig, Lutero é quem contará a versão oficial na Alemanha, graças à intensa máquina de propaganda que acompanhou toda Reforma.

Humanistas – como Crotus Rubeanus, Filipe Melanchthon e Justus Jonas, com a bênção de Erasmo - e os hussitas cerrarão fileiras com Lutero, e o apoiarão decisivamente, divulgando suas idéias e mesmo protegendo-o do imperador e do Papa. (Grisar: 116-117)

As elites alemãs suportaram o jovem e impetuoso rebelde.

Como sempre acontece nas revoltas populares...


8. Conversas com o demônio

As doentias discussões com o demônio são um lugar comum na vida de Lutero.

Mesmo tendo mostrado essa face do reformador, o filme sugere que esse era um legado católico, e que o monge era atormentado então pela noção de justiça divina tirânica.

Contra essa afirmação, basta lembrar que Lutero irá encontrar o demônio durante toda vida, e de modo mais intenso ainda depois que abandonou a Igreja Católica e supostamente libertou-se da opressão que denunciara.

Em Wartburg (1521), por exemplo, no ócio que ele mesmo disse estar, demônios começam a povoar sua imaginação e mesmo “tornam-se visíveis e audíveis para ele (...)” (Grisar: 200) Outras manifestações anormais o acompanhavam, como o diabo que lhe aparece em forma de um cachorro (Grisar: 202)

Ainda no mosteiro, dizia Lutero, o demônio “freqüentemente me puxava pelo cabelo (sic), contudo foi sempre forçado a me deixar ir.” (Grisar: 204)

Lutero via diabos em toda parte.

Ele aceitou avidamente o relatório de Bugenhagen sobre um demônio que testemunhou a favor do evangelho por meio de uma serva possuída (sic!) (Grisar: 383)

E Lutero admirava o poder do príncipe das trevas em termos estarrecedores (em 1530):

“Eu mal posso esperar o dia (...) no qual veremos o grande poder desse espírito e, como era, sua quase divina majestade.” (sic!) (Grisar: 383)

Via demônios em Cobourg em 1530, como a serpente de fogo que depois de transforma em estrela cadente; e ainda:

“Eu vi meu demônio sobrevoando a floresta de Cobourg”;

Em Cobourg também será constatada a mancha de nanquim na parede, como em Wartburg, embora Grisar não confirme a autoria dos disparos de tinteiro por Lutero. (Grisar: 383-384)

Brentano, no entanto, nos narra de maneira muito viva esse episódio estranho:

“Vêem-se ainda, em Wartburg, traços duma nódoa de tinta, que Lutero teria feito na parede, lançando um tinteiro na cabeça do demônio; pelo menos a mancha foi renovada, pelos peregrinos que não cessam de arrancar pedaços do muro a título de relíquias (sic). Traços iguais na muralha, deixados pelos tinteiros que Lutero jogava em Satã, encontram-se no convento de Wittemberg e no castelo de Cobourg. Parecerá que o reformador não pode permanecer em lugar algum sem se empenhar com o Maligno, em batalhas a tinteiradas”. (Brentano: 85)

Interessante notar que essas manifestações doentias são bem posteriores à conversão de Lutero, e que, portanto, o reformador já estava livre das lendas e da influência que os biógrafos protestantes atribuem à Igreja Católica.

A partir de 1521, Lutero deveria possuir a paz e a alegria que atribuía à sua doutrina de justificação pela fé, livre da prisão moral imposta pela Igreja!

O que se vê, no entanto, é exatamente o contrário: quanto mais se afastou da Igreja e mais se afundou em seus erros, mais desesperado e doentio foi seu comportamento. (Grisar: 384)

O diabo era companheiro inseparável de Lutero. Em Wartburg (1521):

“Ao tempo de minhas primeiras conferências sobre os Salmos, dirá, (...) estava sentado redigindo minhas primeiras lições, quando o diabo surgiu e fez barulho, três vezes, atrás de minha estufa, como se tivesse arrastado uma vasilha para fora do inferno. (...) Senti-o, de novo, por cima do quarto no claustro, mas como notasse que era o diabo, não lhe dei mais atenção e adormeci.” (Brentano: 93)


Dirá que Levava o diabo pendurado no pescoço”; e também:

Conheço o diabo a fundo, de pensamento e de aspecto, tendo comido em sua companhia mais de uma pipa de sal” (Brentano: 93)

E ainda, surpreendentemente:

O diabo dormiu ao meu lado, em minha cama, mais vezes do que minha mulher.”; (Brentano: 93)

Ao que ajunta Brentano:

“Satã mostrava-se ao pai da reforma sob os mais diversos aspectos: ora sob a forma de uma grande porca preta, ora sob a de uma tocha acesa; no castelo de Cobourg insinua-se na pele duma feia serpente, para aparecer, em seguida, na forma de estrela radiosa. (...)” (Brentano: 93)

E vemos Lutero falando aos discípulos sobre as tentações do demônio, e a forma anticristã de as afastar:

“Muitas vezes os ataques do demônio vos caem na cabeça, como o raio; não há melhor remédio do que comer bem, passar boa vida, e as maquinações do demônio derretem-se como neve ao sol.”(Brentano: 97)

E ainda:

“Cuida de teu estômago, não te vás matar com jejuns; dormirás melhor; quando não durmo, o diabo acorre logo e põe-se a discutir comigo. Fala com voz grave e forte” (Brentano: 97)

Ora, esse é um comportamento diametralmente oposto ao sola gratia de Lutero: é um comportamento pelagiano, através do qual o homem se julga capaz de disputar com a tentação e de vencê-la com as próprias forças, sem apelar à graça divina através da oração!

É mais uma das inúmeras contradições do rebelde...

Nessa linha, Brentano vai além, mostrando como o demônio, além de companheiro, era de fato mestre de Lutero:

“Mas às vezes o reformador tinha com o Espírito do Mal longas conversas; dava-lhe ouvidos aos argumentos. Aconteceu deixar-se convencer por eles. Por sua própria confissão, esta e aquela parte de sua doutrina nascem dessas infernais discussões. Nicolau anotou, (...): “Nunca houve ninguém, a não ser Lutero, que se tivesse gabado, numa obra impressa, de ter tido uma longa conferência com o diabo; que se tinha convencido de suas razões, que as missas privadas eram um abuso e que era esse o motivo que o tinha levado a aboli-las”. Bossuet volta ao mesmo ponto, em sua História das variações... (liv. IV): “Nesse tempo Lutero publicou esse livro contra a missa privada, onde se encontra a famosa conversa que tivera com o anjo das trevas e onde, forçado pelas razões deste, aboliu, como ímpia, a missa que celebrara durante tantos anos (...) ” (Brentano: 98-99)

Como dissemos, aqui encontramos a justificativa para Lutero mentir tanto e se contradizer continuamente: ele tinha por mestre o próprio pai da mentira...

E se o diabo era mestre e companheiro inseparável de Lutero, convém notar também que o rebelde foi descrito pelo menos três vezes como dotado de um olhar estranho, faiscante, como o de um homem possuído pelo demônio: em Worms, pelo Cardeal Aleander (Grisar: 183), no retorno a Wittemberg, pelo bispo John Dantiscus (Grisar: 217) e pelo núncio Vergerio, que entrevistou Lutero em 1535. (Grisar: 414)

É fato que Lutero tinha um encantamento estranho; que cativava as pessoas, em que pese suas incoerências e inúmeros vícios. Diz-se que, entre os luteranos, somente Schwenkfeld não foi dominado pela estranha atração de Lutero.


9. Jovem suicida: Lutero concede-lhe a sepultura cristã

Um dos episódios mais interessantes do filme não se encontra nas biografias de Lutero: o episódio do jovem suicida, que Lutero enterra no solo sagrado da Igreja. Mesmo porque Lutero defendia atitudes até mais radicais nesse sentido: falando a pastores em Agosto de 1532:

"Guardemos a Igreja por nossas prédicas, por uma pura doutrina, distribuindo os sacramentos. Quanto aos que não querem recebê-los nem aprender o catecismo, deixai-os rebentar como porcos, sem assisti-los na hora da morte; não consintais que sejam enterrados no cemitério; assim os amedrontareis e intimareis os outros" (Propos de table, n. 1735) (Brentano: 162)

Na verdade, nos parece que essa ficção luterana foi feita com uma intenção muito clara: transmitir de modo brando e menos escandaloso a doutrina do Servo arbítrio de Lutero.

Seria difícil reproduzir os diálogos do monge rebelde, ou mesmo trechos do terrível livro Do servo arbítrio, que afinal levava Lutero a dizer que nem Judas nem Adão tiveram culpa de seus terríveis pecados!

"Neste caminho [da predestinação] Lutero é obrigado a confessar que, conforme sua doutrina, Judas não podia deixar de trair Cristo. Se Judas devia necessariamente entregar Jesus, Adão no paraíso devia necessariamente comer a maçã - também assim Lutero o reconhecia. Como acaba nessas condições a tese do pecado original e toda a doutrina luterana da corrupção, não somente da humanidade, mas da natureza inteira, pela falta de Adão, já que nosso primeiro pai não podia deixar de cometer esta falta? Ao que Lutero chega a esta bela conclusão: "Deus age sempre como um louco" (närrisch)." (Brentano: 111)

Seria difícil fazer o herói Lutero reproduzir palavras tão duras como essas no filme!

Também seria difícil colocar no moço bonzinho a conseqüência que ele mesmo tirava da teoria da predestinação:

“Na predestinação, esquecemos Deus: o Laudate se transforma em Blasphemate. (Propos de table, no. 1820) ” (Brentano: 156)

E o que diriam os pacatos espectadores de Lutero, se lhes fosse apresentada a seguinte explicação de Lutero para a vontade humana:

“O arbítrio humano, (...) se assemelha a uma sela de cavalo entre os dois [Deus e o diabo]. Se Deus monta na sela, a vontade do homem quer e age de acordo com a vontade de Deus... Mas se o demônio é o cavaleiro, o homem deseja e age conforme a vontade do demônio. Ele não tem forças para correr para um ou outro dos cavaleiros, e oferecer a si mesmo, mas os cavaleiros lutam para obter a posse do animal. (sic)” (Grisar: 300)

Brutal, mesmo para nossos tolerantes dias, e para nossos passivos espectadores!

E também não seria fácil passar a solução luterana para o problema da predestinação, que o rebelde colocou nos seguintes termos:

"[Lutero] esconde arbitrariamente de si mesmo a predestinação ao inferno com seus horrores, mas insiste firmemente sobre a monstruosidade da predestinação absoluta à punição eterna (...) Ele sugere que nós simplesmente não devemos pensar nisso!" (Grisar: 302)

E continua Grisar, mostrando como Lutero fundamentava sua teoria absurda:

"Ele [Lutero] recorre a um misterioso Deus escondido, o qual, em Sua ilimitada majestade, deve ter outras normas que nosso senso de justiça humano possa conceber. A essência de Deus é de fato inescrutável. A afirmação do Apocalipse de que Deus quer a salvação de todos os homens, se aplica ao Deus revelatus no Evangelho de Cristo; mas há também um Deus escondido, um Deus absconditus, cujos decretos podem ser bem diferentes." (Grisar: 302)

Veremos mais adiante como essa estranha concepção na verdade tinha uma base doutrinária muito sólida e muito conhecida pelo monge...

Definitivamente, não era possível apresentar o servo arbítrio nem a predestinação luterana assim cruamente, sem um disfarce...
Mas se não era possível apresentá-la assim, era preciso adaptá-la de alguma forma, pois não houve doutrina mais cara a Lutero, que chegou a dizer em 1537:

“Eu não reconheço nenhum de meus escritos como genuíno, exceto o Servo Arbítrio e o Catecismo” (Grisar: 303)

E confessando sua firme adesão a doutrina tão perversa:

“Nenhum de meus livros, afirma em 1527, a Capito, é tão bem fundado como meu Servo Arbítrio (Brentano, 157)

Então, como mostrar essa doutrina de Lutero de forma branda, simpática? Nada mais fácil quando não se é comprometido com a verdade... : um jovem atormentado pela mentalidade punitiva da Igreja; um trabalho humilhante e explorador; um monge solidário com os sofrimentos do povo (Lutero, é claro!); e pronto: Lutero desafia o status quo, enterra o jovem na Igreja, fica de bem com os desesperados pais, e coloca toda a culpa no demônio!

Nada como não ter compromisso com a verdade!

Convém notar ainda como é no paganismo que Lutero busca parte dos argumentos a favor de sua tese absurda:

“Deus é obrigatoriamente, um Deus sob cuja decisão tudo se realiza. Os próprios pagãos não atribuiriam a Júpiter uma vontade suprema que chamam Fatum (o destino)? Não reconheceram que nenhuma vontade humana pode subtrair-se a esse jugo eterno? O poder supremo de Deus, somado à sua presciência eterna, fazem desaparecer obrigatoriamente uma razão agindo livremente em nós. (De servo arbítrio, 1525)” (Brentano: 157)

Contra Lutero disse São Tiago:

"Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte." (Tiago I, 13-15)

Notem, prezados leitores, como a doutrina luterana é paganismo, como veremos ao final. Ele apenas usou a aparência de Cristianismo para abrigar-se, como fazem todos os hereges.


10. Lutero pregador: sermão amoroso e de confiança...

Segundo o filme, o herói popular é também orador eficiente, e que fala só de amor e de confiança, em oposição à Igreja tenebrosa e punitiva.

No entanto, esqueceram de mostrar que em 1530, Lutero recusou-se a pregar no púlpito, devido

“seu desgosto com a indiferença do povo em relação à palavra de Deus”. O editor (luterano) da coleção de Weimar comentou então que “a única explicação possível para esse passo é patológica.” (Grisar: 382)

O sermão de Lutero no filme é sempre de confiança em Deus, de fé e de amor; porém o Lutero histórico era bem diferente, como quando tira as conclusões de seu absurdo servo arbítrio, como já tratado: "Deus age sempre como um louco" (Brentano: 111)

O filme também não mostra Lutero blasfemando acerca de Nosso Senhor, contra os Sacramentários:

“Pensais, sem dúvida, que o beberrão Cristo, tendo bebido demais na ceia, aturdiu os discípulos com uma vã tagarelice?” (Brentano: 135)

E ainda, violento e mais blasfemador:

“Certamente Deus é grande e poderoso, pensa Lutero, e bom e misericordioso e tudo quanto se pode imaginar nesse sentido, mas é estúpido (Deus est stultissimus; Propos de table n. 963, ed. De Weimar, I, 487)” (Brentano: 147)

Brentano mesmo, um notório admirador de Lutero, reconhece:

“Nas crises de nervosismo na sua natureza tão perigosamente impetuosa e impulsiva, o ilustre reformador aflige e desconcerta os biógrafos, mesmo aqueles em que provocou sincera admiração (Brentano: 165)

Mas tem mais, porque Lutero era tão pródigo em baixezas e blasfêmias quanto os luteranos em colocar palavras leves em sua boca:

“Sabes como Deus procede para se conservar o regente da humanidade? Paralisa os velhos e cega os jovens, e com isto se conserva mestre. (Propos de table, n. 2115 B)” (Brentano: 148)

Os luteranos de hoje podem controlar num roteiro meticuloso as falas de Lutero.

Que prodígio!

Da falta de um roteiro se ressentem os luteranos de ontem que não podiam segurar a língua de seu mestre:

“Tendo sido censurado pelo dr. Jonas, por ter insultado Deus em seu Salmo Quare fremuerunt gentes, Lutero responde: (Propos de table, n. 2505 B): - Certamente, mas qual o profeta que não insultou Deus?(Brentano: 148)

A Bíblia ensina o contrário:

“Se alguém pensa ser piedoso, mas não refreia a sua língua e engana o seu coração, então é vã a sua religião.” (Tg I, 26)

Os luteranos lamentam a falta de um roteiro para segurar o Lutero histórico na linha:

Se Deus não me perdoasse os pecados, eu os jogaria pela janela. (Propos de table, n. 2007)” (Brentano: 148)

E a brutal blasfêmia contra a pureza de Nosso Senhor, que embora vinda de Lutero, nunca teria lugar no seu filme:

“Cristo, diz Lutero, cometeu adultério pela primeira vez, com a mulher da fonte, de que nos fala São João. Não se murmurava em torno dele: “Que fez, então, com ela?” Depois com a mulher adúltera, que ele absolveu tão levianamente. Assim Cristo, tão piedoso, também teve de fornicar, antes de morrer. (Propos de table, n. 1472, ed. De Weimar, II, 107)” (Brentano: 151)

Eis o arauto da paz, do amor, da confiança!

Um blasfemador incensado pelo mundo moderno!

Contra ele, a Bíblia:

Pois, quem quer amar a vida, e ver os dias felizes, refreie a sua língua do mal, e os seus lábios não falem engano” (1 Pe, III, 10)

Particularmente para aqueles que defendem o ecumenismo utópico, convém lembrar que Lutero dizia ser pior rezar a Missa Católica do que ser explorador de mulheres de má vida (sic!) ou assaltante! (Grisar: 222; Brentano: 86).

E para completar, é incrível que o próprio Lutero tenha confessado certas vezes que não acreditava em suas próprias doutrinas.

É claro que ele dizia que as doutrinas eram de Cristo, e que mesmo ele duvidando não devia desistir delas:

“E o que me espanta, acrescenta Lutero em termos verdadeiramente comovedores, é que eu não consiga compenetrar-me dessa doutrina de verdade e que meus discípulos julguem possuí-la na ponta dos dedos (Propos de table, n.1351)” “ Dizia aos comensais: “Tenho maior confiança em minha mulher e em cada um de vós do que em Cristo, embora nenhum de vós fizesse por mim o que o ser divino fez em meu favor: deixar-se crucificar e morrer.” (Propos de table, n 2397 b).” (Brentano: 200-201)

O castigo para o soberbo e blasfemo era pois a confusão intelectual...

O castigo para o imoral e antinomista era ainda a incerteza de salvação...

Não! Lutero não foi feliz nem em vida, assim como todos os hereges.


11. A Mãe miserável e a filha deficiente. Lutero caridoso?

O Lutero idealizado pela milionária Thrivent também não podia deixar de se preocupar com os pobres e oprimidos. Em várias cenas o jovem pároco de Wittemberg aparece ajudando e se apiedando de uma mendicante e de sua filha deficiente, que mal pode andar com duas muletas artesanais.

Evidentemente tais cenas nunca existiram. Muito menos existiu a preocupação de Lutero com o povo, com os pobres. É notório que os príncipes que dominaram a religião em seus territórios suprimiram as coletas de caridade mantidas pela Igreja.

Mais uma vez mostraremos como o Lutero histórico nada tem do piedoso pároco apresentado no filme.

Em Torgau, junto a Jonas, Melanchthon e o eleitor da Saxônia, entre outros, Lutero disse:

“Queria ser durante três dias um anjinho, para ir roubar o dinheiro dos camponeses e jogá-lo no (rio) Elba; mas depois faltaria corda, porque todos iriam enforcar-se" (Brentano: 131)

E comentando entre amigos sobre música, que tanto lhe agradava:

"Estou satisfeito de que os camponeses sejam privados deste elemento de consolação: não entendem nada de música. (Propos de table, n. 1817)” (Brentano: 131)

Os biógrafos luteranos narram ainda uma ridícula e caricata tentativa de exorcismo:

“Em janeiro de 1544, na sacristia da Igreja paroquial de Wittemberg, sob a presidência do dr. Martim Lutero, numerosa assistência reunira-se ao redor duma jovem de dezoito anos – uma histérica sem dúvida (sic) – que o diabo dominara. Começaram rezando preces comuns, mas a moça não se dava conta de nada. Visivelmente o diabo zombava dos espectadores e das preces que dirigiam a Deus. Então Lutero, possuído de cólera, deu na jovem, isto é, no demônio, um grande pontapé; depois se apressou em ganhar a porta, prevendo, sem dúvida, que o diabo, que rira das preces dirigidas a Deus, acharia menos engraçado o pontapé que lhe acabava de dar. De fato, a moça lançou-se em perseguição do dr. Martim que fugira. Maldição! O ferrolho, que fechava a porta, tinha caído automaticamente e a chave não girava mais. Que fazer? O dr. Martim, fora de si, corria daqui para ali, a jovem, o que vale dizer o diabo, uivando no seu encalço. (...) Enfim o bedel da igreja passou um machado por uma vidraça quebrada; podendo-se então arrombar a porta e libertar o exorcitador.” (Brentano: 96)

Grisar narra o mesmo episódio em termos semelhantes, e como Brentano, lembra que posteriormente disseram a Lutero que o diabo abandonou a menina, talvez para consolar o exorcista fracassado. (Grisar: 493)

De novo este Lutero nada tem comum com o padre que se inclina para amparar a vacilante menina deficiente que se equilibra em muletas precárias.

Devido a seu temperamento explosivo, Lutero por diversas vezes não conseguia se controlar, passando de todos os limites e esbravejando desesperadamente:

“Se eu não posso mais rezar, ao menos poderei maldizer. Não direi mais: “Santificado seja o teu nome...”; mas “Que seja maldito, emporcalhado, danado, o nome dos papistas!” Não direi mais: “Venha a nós o teu reino... Repetirei: “Que o papado seja maldito, danado, aniquilado... Sim, é assim que eu rezo todos os dias, do fundo do coração.” (Brentano: 194)

Pasmem, leitores!

Até o Pai-Nosso Lutero inverteu!

E Lutero volta-se mesmo contra seus antigos colaboradores, que o abandonaram e retornaram à Igreja. Assim, Witzel era uma “víbora ingrata”, Crotus não é mais que “um lambedor de pratos do arcebispo de Mayence” (Brentano:194)

O rebelde alemão ataca igualmente aqueles que discordavam de sua doutrina:

“Oeckolampade, Schwenckefeld, Zwingli. Que ele trata desembaraçadamente de possuídos do diabo, arquipossessos, blasfemos, bocas mentirosas.” (Brentano:194)

É possível conciliar este Lutero com o personagem do filme? No filme não o vemos sequer levantar a voz, sequer dizer uma grosseria, sequer entristecer-se com seus inimigos! A indignação mostrada contra Tetzel é pouco, quase nada, perto do que vemos aqui!

E para desmascarar também a aura de bondade luterana com relação às mulheres, lembremos apenas uma das indelicadezas do rebelde, dita a Catarina de Bora:

“Arroga-te toda autoridade no lar, mas que meu direito aí permaneça intacto. O domínio da mulher jamais produziu alguma coisa de bom. Deus fizera Adão mestre e senhor na terra e tudo aí era perfeito quando a mulher surgiu para tudo transtornar; (...) (Propos de table, n. 1046)” (Brentano: 204)



12. Pregação do Dominicano Tetzel: sombria e doentia...

Fiel à sua proposta de demonizar tudo que é contra Lutero, o filme apresenta o pregador Dominicano João Tetzel como um psicopata. Tetzel chega a botar a mão no fogo – literalmente! – para convencer os fiéis de sua doutrina apocalíptica!

E para denegrir o dominicano, inimigo número um do rebelde, os produtores de Lutero usaram até uma falsa lenda, atribuindo a Tetzel uma frase terrível e inverídica:

“(…) o filme atribui o rumor escandaloso, aludido por Lutero, de que Tetzel afirmava que absolveria com sua indulgência mesmo aquele que (per impossibile) “violasse a mãe de Deus,” apesar de Tetzel negar isso de forma indignada e ter testemunhas oculares para respaldar essa declaração.” (Greydanus)

Já tivemos a chance de mostrar como Lutero era honesto na divulgação de acusações contra a Igreja Católica...

Além do mais, o filme nem trata da disputa epistolar que travaram Lutero e Tetzel, e nem como os estudantes de Wittemberg queimaram a última defesa feita pelo dominicano, deixando claro então que os argumentos não mais importavam, pois o fanatismo luterano já havia se instalado na Alemanha.

Curioso também mostrar que o expediente difamatório que Lutero e todos os hereges usam contra a Igreja não é novo.
O próprio Lutero nos legou o relato dessa prática, anos antes de lançar-se em revolta aberta:

“(...) os hereges não são bem acolhidos se não pintam a Igreja como má, falsa e mentirosa. Só eles querem passar por bons: a Igreja há de figurar como ruim em tudo.” (Franca, IRC: 200)

Confissão preciosa!

Muito preciosa!


13. Cajetan, Aleander e a eleição de Leão X

Demonizados serão também os cardeais e o Papa, particularmente Leão X.

Convém destacar, por exemplo:

“O filme alega que Leão X colocou a cabeça de Lutero a prêmio, mas esquece de mostrar (o papa) Leão dando ordens para que o salvo-conduto de Lutero na saída da Dieta de Worms fosse respeitado.” (Greydanus)

E é evidente também que a corrupção do clero e da sociedade em geral foi obra do Renascimento pagão.

Curioso que Lutero ataca o efeito, mas abraça a causa... o renascimento será base doutrinária e política para as teses luteranas mais importantes, e os humanistas serão seus notórios e muito valiosos aliados nos anos críticos.


14. Lutero em Augsburg: a audiência com o Cardeal Cajetan.


Essa e outras cenas tentam passar a idéia de humildade do monge agostiniano, que a tudo se submete e que não quer desafiar as autoridades. Nada mais falso, como se vê, por exemplo, em 1520:

"Para enganar e subverter o papado julgamos que tudo nos é lícito" (De Wette, I, 478; apud Franca, IRC: 200, nota 95)


Llorca também desmente essa imagem submissa do rebelde. Segundo ele, o Cardeal Cajetan entrevistou Lutero com a única intenção de fazê-lo rejeitar seus erros: não havia sido marcado nenhum debate ou disputa.

Era como se hoje em dia – mutatis mutandis – um deputado qualquer comparecesse diante de uma CPI e, negando-se a rejeitar seus crimes notórios, apoiando-se numa interpretação arbitrária da lei, negasse a autoridade da Comissão para condená-lo e para mandar prendê-lo!

Lutero tinha simplesmente que se apresentar ao Cardeal para retratar-se. Como se negou obstinadamente a fazê-lo, Cajetan endureceu contra ele, pois Lutero se mostrava então um verdadeiro herege, um inimigo de Deus e do Império.

Mas, o mais interessante – e que o filme esqueceu de mostrar – é que Lutero fugiu de Augsburg quando viu que a situação se tornara insustentável, deixando apenas uma apelação por escrito ao Papa. O Cardeal, muito contrariado por aquela situação absurda, apelou ao eleitor Frederick, porém sem sucesso... (Llorca: 670)

Grisar confirma a fuga de Lutero, e sua “manifesta arrogância e obstinação ofensiva” contra o Cardeal. O monge rebelde diz a Cajetan que apelará ao Papa, e a outros diz que apelará a um Concílio. Sabemos perfeitamente bem que depois de condenado pelo Papa, Lutero não aceitará mais sua autoridade; e depois da instalação do Concílio (Trento), também se recusará a aceitar suas decisões.

Lutero não queria senão ganhar tempo para difundir seus erros.

Infelizmente, conseguiu...


15. Lutero na Dieta de Worms: herói popular?

No afã de transformar seu ídolo em herói popular, os artífices da película Lutero por vezes esqueceram completamente a história.

Tentando passar a falsa de idéia de que a Igreja era odiada e que Lutero era visto pelo povo como libertador da tirania, antes que a fama, foram cem cavaleiros que precederam Lutero em Worms! (Grisar: 183) Aliás, o indefeso e destemido Lutero sempre contou com tais proteções, como em Leipzig em 1519 e em Lichtenberg para encontro com Miltitz em 1520 (Brentano 73; 90).

Outro fato omitido no filme foi a intensa atividade editorial que acompanhou toda a revolta de Lutero, desde a difusão das 95 teses até a propaganda pura e simples da santidade do rebelde:

“Na época em que Lutero foi condenado, e mesmo antes da condenação, circularam em Worms e em outras localidades do império, representações pictóricas dele com a pomba, símbolo do Espírito Santo, pairando sobre sua cabeça. Outros desenhos representavam-no com um halo (de santidade). Um panfleto sobre a “Paixão de Martinho” (sic!), modelado conforme a narrativa da paixão de Cristo, foi publicada, no qual ele era glorificado como um herói perseguido.” (Grisar: 193)

Daí até se justifica que o povo tenha acorrido para conhecer o afamado monge rebelde, que merecia a escolta devida a um príncipe e que era promovido como um herói ou um santo!

Vemos então que desde o início da revolta Lutero obtém apoio incondicional de príncipes e humanistas, que esperavam muito mais do reformador que apenas discussões teológicas sobre as indulgências...

Quando da excomunhão pelo Papa, personagens importantes cerram fileira em torno de Lutero: Humanistas, Cavaleiros (Ulrich von Hutten e Sylvester de Schaumburg), o famoso chefe mercenário Franz Von Sickingen, e mesmo o príncipe eleitor da Saxônia, Frederick, o Sábio, cujo conselheiro Spalatin fora colega de Lutero na Universidade de Erfurt (Grisar: 161) Curioso também como artistas como Alberto Dürer – cujos discípulos eram ateus – declararam apoio a Lutero, mesmo não compartilhando de sua doutrina (Grisar: 195)

Mas o maior apoio virá de Erasmo de Rotterdã.

O seu apoio irrestrito ao movimento do rebelde alemão induziu grandes quantidades de alunos a assistirem e apoiarem Lutero em Wittemberg, já em 1520. (Llorca: 672)

Também consta que Erasmo teve papel decisivo ao proteger Lutero impedindo a divulgação da bula do Papa na Alemanha, desacreditando a condenação e influenciando diretamente o eleitor da Saxônia:

“São de grande interesse as diversas manifestações de Erasmo por ocasião da condenação de Lutero pelo Papa. Assim, em 5 de Novembro de 1520 dizia ao eleitor da Saxônia que a perseguição a Lutero devia-se a motivos inferiores e que não passava de gritaria e de pura maldade. (...)” (Llorca: 675, nota 33)

Não é à toa que nessa época corria o ditado: “Erasmo pôs o ovo que Lutero chocou.”

http://www.montfort.org.br/index.php...me&lang=bra#26