Cara Conjurada,

Tenho algumas dificuldades em ler o seu texto (como pode ver pelas citações) pelo que se cometer algum erro de interpretação, as minhas desculpas.
Cita Iniciado por Conjurada Ver mensaje
Meus caros,
É sempre desagradavel ser confrotado com a realidade, eu entendo o vosso desalento, mas essa vossa postura em relação a Portugal já tem barbas.
Qual postura, exactamente?

A verdade é que quem esteja por fora, e olhe para o mapa, não consegue entender como é que um "enclave", uma "faixa de Gaza" resistiu ás variadas tentativas de invasão, mas lá está, só sendo português se percebe porquê
Se olharmos para a Europa Central vimos que o que não faltam são países bem mais pequenos. A existência de Portugal basta-se a si própria, e a ideia de que há um dificuldade na sua compreensão por parte da generalidade dos espanhóis é falsa. O que não quer dizer que não haja quem defensa a união ibérica, com argumentos vários, uns melhores e outros piores.

compreendo que para um Estado como a Espanha, que faz um esforço sobrehumano para manter a manta de retalhos unida, seja impossivel sequer vislumbrar e respeitar uma nação unida pela vontade de ser livre e independente.
Não compreende não, porque demonstra uma má-fé óbvia na forma como vê a realidade histórica de Espanha. É mais uma daquelas manifestações menores do nacionalismo português (ênfase no "menores", porque é isso que está em causa) que me incomoda de sobremaneira: a persistência em teimar distorcer a realidade espanhola ao mesmo tempo que se ignora a sua história, sempre com o objectivo de demonstrar que "não é bem uma nação, é um Estado", algo que desconsidera o processo próprio de formação de Espanha, as suas motivações e a forma como se organiza (de resto, em muito baseadas nas mesmas razões de Portugal). Para além disso é tacanho a forma como vejo alguns quase contentes com os eventuais problemas internos de Espanha, sempre com uma ideia completamente desfazada da realidade no que toca ás motivações dos movimentos independentista.
Os nosso horizonte é o Atlântico e o mundo, o vosso, é Portugal, esta diferença basilar, marcou e continuará a marcar as nossas diferenç
Isto não tem sentido nenhum, e é manifestamente falso. Aliás, é historicamente tão errado que nem sei como responder... parece que está a falar de uma Espanha qualquer de outra dimensão, uma que não teve um dos mais vastos impérios e que não participou com Portugal (com intensidades diferentes em períodos diferentes) nesses mesmos horizontes. Mais uma vez confunde o elogio da história de Portugal com o menosprezo pela de Espanha.
as enquanto Povo
As diferenças "enquanto Povo" são mínimas. Aliás, isto sempre foi um dado assente por todos aqueles que defenderam a independência de Portugal, e não é razão para se ser contra ou a favor da dita.

e enquanto Nação.
Enquanto Nações Portugal e Espanha partilham de uma génese baseada no mesmo ideário de Reconquista, que forjou o carácter dos Reino Ibéricos. Essa génese é matricial e a verdadeira traição está em esquece-la.

Há quem viva hoje iludido e pense que por causa da Europa a identidade dos povos se esbateu, tornando-os mais maleáveis, frágeis e obedientes.
E tornou. E não por culpa de Espanha, que também é vítima do mesmo processo.

Reconheço que a classe politica que de há uns anos a esta parte nos "governa" comunga desse objectivo e que em nome de uma Democracia que nunca existiu, nos vende todos os dias sem pudor.
Qual objectivo? E se é verdade que nos vende, vende a quem? A Espanha? Já pensou que os próprios espanhóis também, em menor ou maior quantidade, estão a ser vendidos? Essa forma de ver a história de Portugal em oposição a Espanha cria uma miopia que só serve os verdadeiros inimigos.

Mas a vontade do povo é soberana, e já se sente o coraçâo de Portugal a bater de novo debaixo das cinzas.
Ai sente? Não sinto nada. Em Portugal, em Espanha, ou mesmo no resto da Europa, só vejo gerações perdidas e vendidas aos imperativos económicos mais variados, e tendo em conta a situação actual duvido e muito que haja "povo português" daqui a 50 anos. Mas terá a sua independência política nominal assegurada, parece que isso é a única coisa que importa - o que não deixa de me espantar.

Não fiquem por isso tristes,
Não seja paternalista. Não gosto e não fico calado quando o fazem os espanhóis, não acho que deve ser diferente para os portugueses.

e tentem antes aprender qualquer coisa com o exemplo de tenacidade e coragem deste vosso pais vizinho, que sonhou sempre mais além do que nos era permitido vêr.
Está a pregar para o coro. Havendo de todas as sensibilidades neste forum - e já tive discussões acaloradas - o que li de apreço por Portugal em muito excedeu o que li de pessoas que são, mais ou menos, o seu equivalente do lado de lá.

E, já agora, assumindo que os espanhóis têm algo a aprender (o que não recuso), também é verdade que muito temos - e tem - de aprender com os espanhóis.


Se me disser que nos revemos mais nos nossos irmãos da Africa, do Brasil, da India, de Timor, dos locais do mundo por onde passámos,
Já me parecia que tardava o luso-tropicalismo... olhe que muitos desses "irmãos" pensam bastante mais mal de Portugal do que aquilo que atribui aos espanhóis. E digo isto sem discordar da importância da esfera civilizacional de padrão português.

onde nos misturámos e assimilá-mo
E pensa que isso nos distingue de alguma maneira? Caso não saiba Portugal e Espanha tinham exactamente o mesmo sistema de castas e as mesmas leis de pureza de sangue e formas semelhantes de evangelização e hierarquização social, e a ideia de que fomos "mais benignos" é uma faceta da Lenda Negra sobre Espanha, que é utilizada por alguns portugueses que em geral não têm conhecimento algum da história colonial espanhola (como o contrário também é verdade).

s culturas que ainda hoje nos marcam profundamente, aí sim , estaria de acordo consigo, estes são os nossos irmãos,
Não, não são. São eventualmente nossos descendentes em algum grau, eventualmente relacionados connosco pela missão civilizadora que iniciamos (e que, de resto, Espanha também fez), uns filhos mais ou menos distantes, outros já nem isso, mas irmãos sempre foram, são e serão enquanto existirem na sua acepção integral os restantes povos ibéricos. Esquecer isto é esquecer os próprios fundamentos que iniciaram a nossa expansão e querer afundar Portugal numa massa indiferenciada. Sem a consciência de um Portugal forte, assente de forma sólida nas suas raízes ibéricas, não só desaparece qualquer tipo de influência civilizacional portuguesa como desaparece Portugal.

verdadeiros, genuinos, de sangue
Exactamente. De sangue. Genuínos. Se acha que o seu irmão de sangue genuíno é um guineense (por muito estimável que seja, e por muito que se integre num quadro mais vasto de influência portuguesa) e não um espanhol, então pertencemos sem dúvida a povos diferentes., sem prejuízo para a importância das relações históricas e culturais com os países de expressão portuguesa.

que agora a Europa pretende que sob o "disfarce" da Presidência Europeia, os mercenários que se encontram no poder em Portugal, cativem e atraiam, em nome destes laços de sangue, para os enredarem na teia da Besta Europeia.
E só agora é que percebeu que a UE existe, na forma como foi criada, para maximizar o lucro das nações imbuídas com o espirito do capitalismo mais materialista? Acha que não se passa o mesmo com Espanha? Acha que é contra Espanha e contra os próprios fundamentos que sempre nortearam a civilização ibérica que se destrói a Besta?

Cumprimentos.