O conflito entre Rússia e Ucrânia
A invasão russa em solo ucraniano é um assunto relevante para todo e qualquer brasileiro, pois nossa formação cultural passa pela mistura de todos os povos que formam nossa grandiosa pátria. Somos todos índios, negros e brancos e temos orgulho do que somos, por isso não esquecemos nosso passado, mesmo sempre olhando para o futuro, ou como diz Carl Schmitt, “O novo não pode vir se não do mais antigo?”
Segundo o RCUB (Representação Central Ucraniano-Brasileira), hoje no Brasil temos mais de 500 mil descendentes de ucranianos, provenientes da diáspora ocorrida entre os anos de 1895 e 1920. Embora concentrados em grande parte (80%) no Paraná, há filhos e netos de ucranianos em diversos estados, principalmente Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Rondônia, Brasília e Mina Gerais.
A relação entre a Rússia e a Ucrânia já era complexa e repleta de percalços durante o período czarista. Com a Revolução de 1917 e a formação da União Soviética, a situação ficou ainda mais difícil. Após o fim da URSS a Ucrânia foi reconhecida - em 25 de dezembro de 1991 - como nação independente. Logo, toda e qualquer ação em território ucraniano fere a dignidade de uma nação que sempre sofreu com guerras e invasões.
A história local - distante da realidade ocidental - pode ser de difícil compreensão para os brasileiros, mas nos ajuda a entender a atual crise. Segundo Taras Kuzio, intelectual e analista internacional canadense, as escolas historiográficas do oriente eslavo se dividem em quatros linhas de pensamentos: a escola russófila - que trata a Ucrânia como um território russo - e para a qual não existe povo, língua ou história ucraniana. Para esta corrente de pensamento, o curso natural seria a integração da Ucrânia à Rússia. Outra tendência é a escola sovietófila, que trata ucranianos e bielorrussos como povos com características próprias mas que devem fazer parte de uma Rússia renovada - ou seja, de uma URSS renascida. Em seguida, temos a corrente ucraniófila, que considera os ucranianos como um povo com identidade própria e detentor do legado do Kiev Rus. Finalmente, há a escola Eslava Oriental, que trata o assunto de forma mais acadêmica e menos política e defende a tese de que cada um dos três povos - russos, ucranianos e bielorrussos - tem suas próprias culturas, mesmo havendo um núcleo comum.
Outro tema controverso é o Holodomor, genocídio contra o povo ucraniano, que matou em torno de 10 milhões de pessoas de fome na Ucrânia e foi causado pelos comunistas da União Soviética. A história do genocídio foi contada pelo jornalista inglês Thomas Malcolm Muggeridge, jornalista agnóstico que se converteu à Igreja Católica aos 66 anos, após denunciar os terrores da repressão soviética na Ucrânia. Ele foi perseguido e demitido pela sua matéria a respeito do Holodomor, enquanto uma matéria fortemente tendenciosa negando os acontecimentos, que havia sido escrita por Walter Duranty, recebia o prêmio Pulitzer em 1932. Acredita-se hoje que Duranty divulgava a linha oficial do Partido Comunista Soviético e não os fatos. Em um livro de 1990 intitulado “
Stalin's Apologist: Walter Duranty – The New York Times's Man in Moscow”, Sally
Taylor, escritor americano radicado no Reino Unido, afirma que Duranty acobertou as atrocidades cometidas na Ucrânia para preservar seu acesso pessoal ao ditador. Até os dias de hoje o Holodomor não é reconhecido pela Rússia, embora a sua existência já tenha sido comprovada pela historiografia como um dos maiores genocídios da História. No Brasil foi reconhecido como um crime contra a humanidade em 2007.
Epicentro das manifestações, a Praça da Independência, em Kiev, foi o local em que milhares de ucranianos acamparam e lutaram durantes meses sob um frio que chegou a -40º em um levante que depôs o então presidente Víktor Yanukóvych.
O problema atual é ainda mais complexo. Guiado por uma linha de pensamento totalitarista, o presidente Putin tem fortes interesses políticos. O governo russo parece estar sendo influenciado pelo intelectual russo Aleksander Dugin, ex-arquivista da KGB, que defende a anexação de vastos territórios ucranianos pela Rússia. Em parte, isso já ocorreu com a recente incorporação da Criméia pela Rússia, uma ação sem precedentes neste século. Recentemente, em uma conferência, sobre a atual situação, Dugin teria dito: "Eu, enquanto professor, vos digo - Matar, matar, matar!". Também postou em russo no seu facebook: "Depois do massacre de Odessa no dia 2 de Maio de 2014, as pessoas devem envergonhar-se de serem ucranianos. Eles precisam se tornar eslavos, russos, novo-russos, rutênos... mas não mais ucranianos. Tal povo não existe mais. É uma falsa nação. Um povo fracassado." e sobre a bandeira da Ucrânia postou em inglês “ I hate this flag” (Eu odeio essa bandeira).
Dugin é um polêmico filósofo e geopolítico cuja obra parece estar adquirindo maior influência na cúpula do governo russo. Um dos fundadores do Partido Nacional-Bolchevista Russo, posteriormente afastou-se e fundou o Movimento Eurasiano. Nacionalista radical, Dugin defende a originalidade da identidade russa frente ao Ocidente. Em sua obra "A Quarta Teoria Política", ele afirma que a linha divisória entre a Rússia e o Ocidente passa pelo interior da Ucrânia. O seu objetivo principal seria a formulação de uma aliança entre todas as formas de tradicionalismo e nacionalismo contra o globalismo ocidental. Um ponto particularmente polêmico do seu pensamento é a mudança de posição em relação ao comunismo. Se nas suas primeiras obras, como "O Mistério da Eurásia", ele condena o comunismo sem delongas, atualmente ele tem adotado um posicionamento dúbio em relação aos regimes de "socialismo real" do século XX. Embora critique a opção pelo ateísmo feita pelos governos comunistas, afirma que esses regimes não foram marxistas ortodoxos, e sim uma forma de "comunismo nacional".
O mundo pôde acompanhar pela internet e pela televisão a verdadeira revolução popular ucraniana. Milhares de ucranianos acamparam e lutaram durantes meses sob um frio que chegou a -40º em uma levante que depós o presidente da época, exatamente pela sua proximidade com a Rússia de Putin. Essa proximidade desagradou à população, seja pelo passado recente que trouxe tanta desgraça para Ucrânia sob o regime soviético ou pelos demais motivos elencados neste texto. No próximo dia 25 de maio, teremos eleições presidenciais da Ucrânia, eleições que poderão mudar o futuro de um povo que traz as lágrimas das guerras e desgraças como sua marca cultural, eleições que poderão mudar o futuro do mundo, pois as ações da Rússia são sempre uma incógnita para o resto da humanidade.
O integralismo sempre foi e sempre será contra governos opressores e autoritários e países que subjugam seus iguais, será contra aqueles que atentam contra a liberdade religiosa e intelectual e jamais irá apoiar um sistema baseado na força e na imposição cultural. Esse sistema que a Rússia tenta impor já teria sido previsto pelo Chefe Nacional Plínio Salgado, que escreveu “Temos, assim, uma nova forma de totalitarismo, — o totalitarismo das democracias agnósticas, totalitarismo despótico das massas, cujo peso quantitativo manobrado por hábeis técnicos da formação da opinião pública e pelo poder do dinheiro, conforme salientou o Santo Padre Pio XII, atenta contra os direitos do Espírito e contra todo o princípio moral, nada impedindo que pela força das massas majoritárias sejam os fundamentos da Religião e os próprios princípios da liberdade postergados e suprimidos. ”
Deus, pátria e Familía
Бог, країна і сім'я
(Borr, Craína i Simiá)*
Ouphir Pesch
Representante do Núcleo Municipal de Curitiba (FIB-PR)
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